"Se nada mudar, estamos caminhando para uma guerra civil de baixa intensidade, mas guerra civil. Civis brigando contra civis e sem a intervenção das forças de segurança", disse à BBC Brasil o analista Gonzalo Chávez, diretor de mestrado para o desenvolvimento da Universidade Católica Boliviana.
"É uma situação limite. As disputas eram com paus e pedras, mas agora tem gente armada."
As mortes em Pando teriam sido provocadas por tiros, segundo o prefeito (governador) Leopoldo Fernández.
Ainda segundo o analista, nas últimas horas o conflito extrapolou da esfera interna para internacional.
"A declaração do presidente venezuelano (Hugo Chávez, de defender Morales com armas, se preciso) foi muito grave. O problema da Bolívia já tinha sido internacionalizado com a expulsão do embaixador dos Estados Unidos. Agora, então, mais ainda", disse.
Ele salientou que as explosões no gasoduto para o Brasil e o fechamento da válvula de um gasoduto que abastece a Argentina provocaram um problema energético na região.
Em Santa Cruz, nas longas filas para comprar botijão de gás, consumidores diziam: "Mandam gás para o Brasil e a Argentina e a gente não tem gás em casa".
Interlocutores bolivianos afirmaram à BBC Brasil que os chanceleres do Brasil, da Argentina e da Colômbia teriam se oferecido para viajar a La Paz e participar das negociações na Bolívia.
No entanto, o presidente boliviano Evo Morales teria declinado da oferta por considerar a situação "interna".
Golpe cívico
No fim da noite de quinta-feira, o vice-presidente do país, Álvaro García Linera, acusou uma "quadrilha de terroristas" de arquitetar um "golpe de estado cívico-empresarial".
"Estamos diante de uma quadrilha de terroristas e assaltantes que está colocando em marcha um golpe de estado cívico-empresarial. Eles estão dispostos até a matar os bolivianos", acusou.
Linera responsabilizou a Prefeitura de Pando pelas mortes.
O presidente do Comitê Pró-Tarija, Reynaldo Bayard, também falou em "guerra civil", declarou.
"Se continuar assim, vamos acabar numa guerra civil".
Às lágrimas diante das câmeras de televisão, em La Paz, a ministra da Justiça, Celima Torrico Rojas, pediu "diálogo" e "o fim da violência".
"Por que os civis acham que só eles podem chegar a determinados cargos, e nós, indígenas, não?", indagou.
Foi uma jornada de troca de acusações pelas mortes em Pando, um dia depois que mais de 50 pessoas saíram feridas nos enfrentamentos em Tarija – pólo de gás – e na mesma semana em que também foram registrados incidentes em Santa Cruz e Beni.
O prefeito (governador) de Santa Cruz, Ruben Costas, líder da oposição a Morales, acusou o governo central.
"O governo Morales é o único responsável pelas mortes", disse.
Em meio ao conflito, um grupo de manifestantes "obrigou", como informou a imprensa local, técnicos a desativar a válvula de um gasoduto que abastece a Argentina.
Posse
Ao mesmo tempo, funcionários do governo estadual de Santa Cruz, cercados por populares, entraram em prédios administrados pelo governo central – como correios e de arrecadação de impostos – e colocavam fitas em torno dos edifícios.
"Autonomia, autonomia", gritavam. "Isso é para proteger o bem público."
Na noite de quinta-feira, na praça principal de Santa Cruz de la Sierra, capital de Santa Cruz, grupos de jovens armados com paus soltavam fogos e eram observados de longe pelos moradores.
Seguidores de Morales que vivem no chamado Plano 3000 – um grande bairro popular – evitaram a entrada de opositores ao presidente.
Em meio à tensão, um grupo de militares disse diante das câmeras de TV que o presidente deve governar para todos e que o "entendimento é o caminho".
Fonte: BBC Brasil
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