segunda-feira, 30 de junho de 2008

Guerra Fria - 60 anos: uma breve história

A Guerra Fria deixou o planeta à beira do apocalipse nuclear. No centro do palco estava Berlim, a cidade alemã dividida que foi cenário do Airlift (ponte aérea) de 1948 e da queda do Muro em 1989. A "Spiegel Online" reuniu uma cronologia dos eventos-chave da Guerra Fria.

1945: Os Aliados acertam em Potsdam as condições fundamentais para a ocupação da Alemanha. Bombas nucleares americanas destroem Hiroshima e Nagasaki.

1947: A Doutrina Truman: Os Estados Unidos oferecem assistência a países ameaçados pelo comunismo -especialmente a Grécia e a Turquia. O secretário de Estado americano, George C. Marshall anuncia um imenso programa de ajuda para a reconstrução da Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial, que se tornará conhecido como Plano Marshall.

1948: Os comunistas tomam o poder na Tchecoslováquia.

1948:
O bloqueio soviético a Berlim Ocidental tem início em 24 de junho. Isolada do mundo exterior, provisões são entregues à cidade isolada pelos americanos por meio de uma ponte aérea. Esta é a primeira grande crise de Berlim durante a Guerra Fria. Em 12 de maio de 1949, Stalin suspende o bloqueio.

1949: Em 4 de abril, o Tratado da Otan é assinado em Washington.

1949: Em 23 de maio, é estabelecida a República Federal da Alemanha. Não muito depois, em 7 de outubro, a República Democrática Alemã comunista é fundada.

1949: Em 29 de agosto, os soviéticos detonam sua primeira bomba atômica.

1949: Após vencer a guerra civil do país, o Partido Comunista sob Mao Tse-tung estabelece a República Popular da China.

1050-1953: A Guerra da Coréia: após a Coréia do Norte atacar a Coréia do Sul, tropas da ONU lideradas pelos Estados Unidos invadem o país. A China e a União Soviética apóiam a Coréia do Norte. O cessar-fogo deixa os dois países com o status quo pré-guerra.

1952: O líder soviético Joseph Stalin oferece negociar a reunificação da Alemanha sob a condição de que uma Alemanha unida permaneça neutra. Com o apoio do Parlamento da Alemanha Ocidental, as potências aliadas ocidentais rejeitam a oferta.

1953: Em 17 de junho, um levante dos trabalhadores na Alemanha Oriental é esmagado por tanques russos.

1955: A República Federal da Alemanha se junta à Otan e forma o Bundeswehr, o primeiro exército alemão a existir após a queda de Hitler.

1956: Ocorre um levante húngaro, com início em 20 de outubro, mas ele é esmagado pelos russos.

1956: De 29 de outubro a 6 de novembro, ocorre a crise do Suez. Após as tentativas do Egito de nacionalizar o Canal de Suez, Israel, França e Reino Unido ocupam a zona do canal e bombardeiam os campos aéreos egípcios. O líder soviético Nikita Kruschev ameaça Londres e Paris com guerra nuclear.

1961: A construção do Muro de Berlim começa em 13 de agosto.

1962: A crise de Cuba: após os soviéticos posicionarem ogivas nucleares em Cuba, os Estados Unidos ameaçam uma guerra. O mundo fica à beira de uma guerra nuclear por dias.

1963: Os Estados Unidos, o Reino Unido e a União Soviética concordam em suspender os testes submarinos e de superfície de armas nucleares.

1965: As primeiras forças de combate americanas chegam ao Vietnã do Sul. Mais de 2 milhões de pessoas morrerão durante a Guerra do Vietnã -a maioria civis. Os Estados Unidos retiram suas tropas em 1973. Dois anos depois, o norte comunista conquista o sul do país.

1968: Tropas do Pacto de Varsóvia, uma organização de Estados comunistas da Europa Central e Oriental, esmagam o levante da Primavera de Praga.

1969: Começam as negociações entre os Estados Unidos e a União Soviética para redução de armas nucleares estratégicas. As negociações terminam com vários tratados em 1979, mas a corrida armamentista prossegue sem pausa.

1970: Tem início a chamada Ostpolitik, uma política de reaproximação com o bloco oriental defendida pelo chanceler alemão Willy Brandt. Sua política de "mudança por meio da conciliação" dá seus primeiros frutos. Os alemães e russos acertam um tratado que renuncia o uso da força.

1979: A decisão "Double Track" da Otan é aprovada, permitindo aos Estados Unidos a instalação de 572 ogivas nucleares "Pershing II" na Europa Ocidental caso as negociações com os soviéticos para desmonte dos mísseis SS-20 de médio alcance fracassassem. A instalação começa em 1983.

1980: Após a invasão soviética ao Afeganistão em 1979, os Estados Unidos impõem sanções aos russos e boicotam os Jogos Olímpicos de Moscou.

1983: O presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, anuncia o desenvolvimento do sistema de defesa antimísseis "Guerra nas Estrelas" de alcance mundial em sua Iniciativa de Defesa Estratégica.

1985: O chefe do Kremlin, Mikhail Gorbatchov, começa a reorientar a política externa soviética.

1987: Gorbatchov e Reagan concordam em eliminar todos os mísseis de médio alcance baseados em terra.

1989: O Muro de Berlim cai em 9 de novembro.

1991: O Pacto de Varsóvia é dissolvido. Gorbatchov renuncia e a União Soviética desaparece do mapa.

Fonte: Der Spiegel

"É preciso pôr um preço na biodiversidade", diz economista indiano

Quando não dirige o departamento de mercados do Deutsche Bank em Bombaim (Índia), Pavan Sukhdev milita na Conservation Action Trust, uma associação de defesa do meio ambiente das mais influentes na Índia. Esse economista indiano de 48 anos decidiu convencer os Estados da federação a adotar uma "contabilidade verde" para conduzir políticas de desenvolvimento que respeitem o meio ambiente. Foi sem dúvida o que fez diferença no momento de escolher o perfil ideal para dirigir o estudo mundial sobre "a economia dos sistemas ecológicos e da biodiversidade" encomendado pela União Européia.

Depois do relatório de Nicholas Stern em 2006 sobre os custos da mudança climática, Pavan Sukhdev foi encarregado de esclarecer a comunidade internacional sobre a outra face da crise ecológica. Seu relatório final é esperado para 2010.

Le Monde - Por que se tornou urgente dar um preço aos ecossistemas do planeta?
Pavan Sukhdev -
Existe urgência porque nosso capital natural desaparece em um ritmo incompatível com o desenvolvimento sustentável. Nosso bem-estar e nossa saúde dependem estreitamente da qualidade dos ecossistemas dos quais hoje desfrutamos, em geral, gratuitamente. Os primeiros resultados de nossas pesquisas mostram que se não fizermos nada para corrigir a tendência atual 11% dos espaços naturais estarão destruídos até 2050 devido à urbanização ou à conversão em terras agrícolas.

Não se trata de frear o desenvolvimento a que diversos países aspiram, mas devemos ter consciência das conseqüências de certas opções. O custo do desmatamento não se limita às perdas de receitas da exploração florestal. Acrescentando o desaparecimento dos recursos genéticos explorados pela medicina e o papel crucial que a floresta tem na regulação do clima, na distribuição de água, na prevenção das inundações e da erosão... o custo chega a centenas de bilhões de dólares. É preciso dar um preço à natureza para poder protegê-la.

LM - Que serviços ecológicos é preciso proteger com prioridade?
Sukhdev -
As florestas, sem hesitação! Sua preservação é vital para o futuro da agricultura e, portanto, para alimentar a humanidade. As florestas, repito, têm um papel importante na regulação da água disponível. Para um agricultor pobre, a presença de água regular durante vários meses do ano faz toda a diferença, pois ele pode fazer duas colheitas. É um cálculo errado pensar que cortando árvores para criar campos um país vai aumentar suas capacidades agrícolas. O Haiti destruiu sua floresta e depois de alguns anos 40% de suas terras produtivas desapareceram, corroídas pela alternância de episódios de seca e de inundação. O problema é que nenhum tomador de decisão público conhece o preço da floresta. Queremos suprir essa lacuna.

LM - É realista imaginar conter a "antropização" dos espaços naturais?
Sukhdev -
O objetivo do desenvolvimento é a eliminação da pobreza, mas a maioria dos pobres vive na proximidade de zonas de forte concentração de biodiversidade. Pelo simples motivo de que dali retiram seus meios de subsistência, ali coletam seu alimento, o combustível para se aquecer e cozinhar, seus medicamentos. Essa economia da coleta é a dos pobres, assim como a da agricultura de subsistência. Ela está diretamente ameaçada pela degradação dos recursos naturais.

A maior pergunta a que a comunidade internacional deve responder é "O que vamos fazer com 1,5 bilhão de pobres que vivem dessa ligação estreita com a natureza?" É preciso parar de sonhar, imaginando que a industrialização é a solução. Os grandes setores industriais - automobilístico, siderúrgico, informática - fornecem no máximo alguns milhões de empregos. Precisamos inventar uma nova economia na qual o capital natural será um valor que deve ser remunerado. É assim que podemos tentar melhorar o destino dos mais desprovidos, ao mesmo tempo salvaguardando o planeta.

LM - Como integrar esses serviços ecológicos em nossas equações econômicas?
Sukhdev -
Existem soluções muito diferentes. No Panamá, o desaparecimento das florestas provocou uma falta d'água crônica no canal. As companhias de seguros e os armadores - afetados por esse revés - se reuniram para financiar em 25 anos um programa de reflorestamento. Na Costa Rica o governo adotou um imposto sobre os combustíveis para financiar diversos serviços ecológicos. As receitas beneficiam diretamente as comunidades locais. Nos EUA a legislação protege as zonas úmidas, e as empresas cujas infra-estruturas poluem esses espaços devem comprar "créditos ambientais" junto a bancos especializados. Esses créditos servem para financiar projetos de restauração dos meios naturais.

No âmbito das negociações sobre o clima, a comunidade internacional reflete sobre um mecanismo global para preservar as florestas tropicais. Se esse mecanismo, batizado de REDD ("reduzir as emissões devidas ao desflorestamento e à degradação do ecossistema"), vingar, teremos criado um poderoso instrumento para combater o aquecimento climático e o desaparecimento da biodiversidade.

Fonte: Le Monde

A geração mais brilhante está condenada

São os mais preparados e saudáveis de sua história, mas também os mais frustrados. Cem milhões de jovens do Oriente Médio estão condenados à falta de emprego, à imigração ou ao extremismo islâmico.

Amir e Nazarin estão esperando para se casar desde que foram prometidos em julho de 2007. "Com o meu salário de encarregado de uma loja de sapatos é impossível encontrar um apartamento em Teerã", queixa-se Amir, de 26 anos, apesar de considerar-se afortunado por ter um emprego. Outros jovens de sua idade sequer podem programar um casamento. Esse é o caso de Wael, um egípcio técnico em turismo, que a ponto de completar 27 anos não conseguiu um trabalho estável que lhe permita pensar no futuro. Desemprego e subemprego são um tormento para 100 milhões de jovens no Oriente Médio e no norte da África, cuja frustração só pode aumentar a pressão migratória sobre a Europa ou, no pior dos casos, empurrá-los para os braços do extremismo islâmico.

Eles constituem 30% dos habitantes da região, e não só se trata do maior número de jovens (entre 15 e 29 anos) de sua história, como também da geração mais instruída e saudável. Mesmo assim, suas possibilidades estão bem distantes de suas expectativas. Frente a uma média de desemprego juvenil de 14% no mundo, no Oriente Médio esta se eleva para os 26%, a mais alta de todas as regiões. E a pressão só pode crescer. Enquanto na maioria dos países europeus os menores de 15 anos apenas chegam a 20%, no Irã são 32%, no Egito 35% e na Arábia Saudita 39%. O Banco Mundial calcula que a região necessita criar 100 milhões de empregos daqui até 2020 para estabilizar esse desequilíbrio.

"Sem dúvida o pano de fundo demográfico exacerba a situação, mas o principal problema é que a região está evoluindo de economias protecionistas para economias de mercado", explica Ragui Assad, diretor regional do Population Council, uma ONG dedicada ao desenvolvimento humano. Como conseqüência, o Estado já não pode garantir o trabalho no setor público, que é a porta de entrada para a classe média.

"Até agora, todos iam à universidade e isso garantia um emprego na administração pública, mas o governo deixou de fornecer postos de trabalho", constata Abdel Monem Emara, ex-ministro egípcio da Juventude na década dos 1990. É por isso que os jovens se queixam de não encontrar trabalho, ou se o encontram, de que o salário é muito baixo. "Não podem decidir quanto ao futuro", diz Emara, agora diretor da Fundação Agentes da Mudança, dedicada à formação dos jovens.

"Não tenho nenhuma perspectiva para meu futuro", admite Parastoo, um iraniano de 26 anos, desempregado. "Talvez não seja muito grave estar sem emprego durante dois ou três meses, mas não está claro quanto vai durar essa situação e isso me assusta."

"A região não está investindo de forma adequada em seu ativo mais importante: sua gente", denunciou o xeque Mohamend Bin Isa al Jalifa, diretor geral do Conselho de Desenvolvimento econômico de Bahrein, em um recente debate no Fórum Econômico Mundial. E, na verdade, o Oriente Médio destina 5% de seu produto interno bruto à educação, frente aos 3% de outras regiões como o Leste da Ásia ou a América Latina.

O ex-ministro egípcio aponta para dois problemas. De uma parte, embora a educação básica tenha se tornado universal, nas classes mais modestas, "muitas crianças abandonam a escola para ajudar os pais, cujos salários não lhes permitem manter as famílias". Isso não acontece na classe média, "mas os que permanecem no sistema educacional público, não aprendem a pensarem por si mesmos e lhes faltam capacitação para comunicação, gestão e tomada de decisões".

"Não temos nem preparo nem meios para sair dessa situação. Não podemos encontrar nosso lugar", queixa-se Zina, estudante de comércio na Universidade do Cairo, de 24 anos.

"Os jovens de hoje estão muito mais instruídos que nunca e no entanto valem menos (no mercado de trabalho)", afirma Ragui. Isso leva à frustração e a um estado de transição interminável. Razão pela qual eles passam dos 21 aos 30 anos à espera de poder assumir o papel de adultos, alguns até mais tarde.

Um dos indicadores que mais preocupa os analistas é o adiamento na idade média do casamento. Há uma década, 63% dos homens estavam casados antes dos 30 anos. Hoje, o número chega a apenas 50%. E no caso do Irã fica nos 38%. Cifras, todas elas, muito abaixo da média da Ásia (77%), América Latina (69%) ou África (66%).

Esse fenômeno não é exclusivo do Oriente Médio. E na verdade, nessas sociedades adquire uma dimensão muito mais dramática. Diferentemente da Europa ou dos Estados Unidos, aqui o casamento é a única chave de entrada na idade adulta e, além disso, as relações pré-matrimoniais são proibidas.

"Estão proliferando os acordos não tradicionais, como o casamento urfi no Egito ou a sighe no Irã (o primeiro não é registrado e o segundo tem uma duração pré-estabelecida), a prostituição e a pornografia", disse Ragui. Embora tais temas ainda continuem tabu em muitos países, pouco a pouco estão chegando aos meios de comunicação. Isso dá idéia da preocupação que geram.

Os sociólogos constatam um crescente abismo entre o que se considera aceitável e o que realmente acontece. "Age-se às escondidas", admitem numerosos rapazes e moças, entrevistados no Irã e no Egito. "Eles continuam sendo educados de forma tradicional, com costumes e valores nos quais não acreditam. Faltam espaços para que se reúnam e a independência para comunicar-se sem o controle da sociedade", declara a documentarista e ativista social Hala Gala.

"Os jovens não conseguem responder às exigências sociais e essa tensão se transfere às relações com os pais, em especial com as filhas", adverte Hosein Ghazian, um sociólogo iraniano crítico em relação às políticas oficiais.

Nem mesmo o recente boom econômico, promovido pela liberalização e pelos altos preços do petróleo, os ajuda. Mesmo que com um crescimento médio anual superior a 5%, a região esteja reduzindo suas taxas de desemprego, a maioria dos novos empregos são criados no florescente setor da construção civil (repleto de imigrantes) ou são trabalhos temporários, mal pagos e que não permitem a mobilidade social. "Isso não é suficiente para apresentar-se como um noivo respeitável", lembra Ragui.

Além disso, não se trata apenas da dificuldade de encontrar trabalho estável. Também ocorreram mudanças no estilo de vida que complicam o problema. O acesso das mulheres à educação faz com que a maioria se recuse a viver com a família do marido, como era tradicional. Prover o teto comum é uma responsabilidade que recai sobre o noivo. Com os preços atuais da moradia, essa se transforma numa tarefa titânica, inclusive se apenas se deseja alugar um imóvel. Além disso, dado o caráter assimétrico do casamento islâmico, as famílias das moças tratam de protegê-las de um possível repúdio, pedindo dotes milionários.

"Por um apartamento de 60 metros quadrados, pede-se 50 milhões de rials e outros quatro de renda mensal", queixa-se Amir, que ganha o equivalente a 200 euros (aproximadamente R$ 504) por mês. "No mínimo custa 18 milhões de rials por metro quadrado, mas quando consigo economizar, o preço já se multiplicou por dois ou por três. Se a família não pode ajudar, ficamos solteiros", conclui.

E dado o papel central do casamento no Oriente Médio, os solteiros vão ficando sem oportunidades sociais e econômicas. Não é nem preciso ser muito inteligente para perceber que estamos diante de uma bomba-relógio. Desde o 11 de setembro, numerosos analistas advertiram que o crescente mal-estar e frustração entre os jovens do Oriente Médio constituem um caldo de cultura favorável ao radicalismo islâmico e, eventualmente, ao terrorismo.

"A volta à religião constitui-se numa nova forma de libertação", diz o padre Williams, um jesuíta egípcio que trabalha com meninos de rua e que viu o avanço dos Irmãos Muçulmanos em seu país. "Aqueles que não têm a capacidade de refletir, podem adotar o suicídio", admite, embora em sua opinião, "depois do ocorrido no Iraque também há vozes que começam a criticar a manipulação do islamismo".

"É claramente um fator de risco", admite Ragui. "Embora não seja automático, alguns jovens com subempregos caíram nas redes dos grupos extremistas. Mas não há dados conclusivos. Pela sua própria natureza, não conseguimos colher dados sobre sua composição. Agora, quando perguntamos o que é mais importante em suas vidas, um número cada vez maior responde que a religião. Devemos, portanto oferecer-lhes atividades significativas e valiosas que, se não rendem grandes salários, ao menos proporcionam preparo e respeito", sugere o diretor do Population Council.

À falta dessa alternativa, muitos jovens estão optando pela imigração, o que só pode aumentar a pressão sobre a Europa, a fronteira mais próxima. O caso do Egito é significativo. Com 40 de seus 77 milhões de habitantes com menos de 35 anos, oito milhões inscreveram-se em 2006 no sorteio para obter uma permissão de residência nos Estados Unidos. O que é mais preocupante: no ano passado vinte jovens morreram afogados quando tentavam alcançar de forma ilegal as costas da Itália e da Grécia, uma rota de fuga que até agora se limitava ao Magreb.

No Irã, o segundo país mais populoso da região, com 70 milhões de habitantes, 25,6% dos jovens estão desempregados e o dado alcança 28,95% nas zonas urbanas, segundo dados do Centro de Estatísticas (oficial). Não há informações sobre o número de jovens que desejam imigrar, mas as embaixadas ocidentais recebem muito mais pedidos do que podem processar. O risco de radicalização é, porém, menor. "Como aqui temos um governo islamita que se converteu em um exemplo indesejável, os jovens raciocinam no sentido contrário", aponta Ghazian.

"Os jovens não têm um problema, nós somos o problema", assegura o ex-ministro egípcio Emara. Na verdade, a maioria dos pesquisados vêm seu futuro como sombrio. E tal como adverte Mohamed al Abbar, dono da Emaar Properties (uma das principais fontes de emprego no Oriente Médio), "se a região não é capaz de desenvolver seus enormes recursos humanos, enfrentaremos um futuro de insatisfação, mal-estar e declínio econômico". Por esse motivo, como assinala o ex-presidente do Banco Mundial,James Wolfenshon, "nenhuma outra tarefa é mais urgente na região que dar esperança aos seus cem milhões de jovens".

Fonte: El País

Sem projetos para florestas, país deixa de usar US$ 125 mi

Verba corresponde a 30% das doações de países ricos a programa criado na ECO-92

Governo diz que, do total não usado, US$ 52 mi estão empenhados em projetos atuais e US$ 18 mi não foram liberados por doador

Dezesseis anos depois de acumular US$ 402,383 milhões em doações de países ricos, o governo brasileiro não gastou efetivamente cerca de 30% desses recursos destinados a financiamentos de projetos pilotos de preservação de florestas tropicais. Motivos: falta de projetos ou atraso na sua execução, devolução de dinheiro e mudanças de prioridades por parte dos doadores.
Criado na conferência Eco-92, no Rio, para durar dez anos, o PPG7 (Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil) registra um saldo de US$ 125,761 milhões referente a doações que ainda não foram ou não serão aplicadas no programa que vai terminar em 2010, com oito anos de atraso, e sem que parte das experiências tenham sido transformadas em políticas públicas.
Desse dinheiro não aplicado no PPG7, US$ 52,724 milhões estão comprometidos com projetos em andamento e outros US$ 18 milhões não foram disponibilizados pelos doadores, defende-se o governo.
Mesmo assim, restam ainda US$ 49,182 milhões de saldo sem destinação, 12,22% do total doado que corre o risco de ser devolvido, além de US$ 5,849 milhões que foram efetivamente devolvidos por perda de prazo de aplicação do dinheiro em projetos pilotos elaborados para preservação de florestas tropicais. Isso num momento em que o novo ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) busca doações para tentar financiar seus projetos.
Um dos projetos atingidos pela devolução de recursos é a primeira etapa do Resex, projeto que cria reservas extrativistas na Amazônia, cuja devolução chegou a US$ 5,6 milhões. Esse dinheiro, explica o governo, acabou sendo depois remanejado para outros projetos.
Além do dinheiro de doação estrangeira, o governo brasileiro também aplicou recursos financeiros e de cooperação técnica no programa. Ao todo, foram destinados US$ 57 milhões. Desse total, US$ 39 milhões já foram gastos e outros US$ 9 milhões estão alocados. Há um saldo de dinheiro brasileiro de US$ 7,899 milhões.
Entre os projetos com os maiores saldos, estão o que cria corredores ecológicos na Amazônia, o que estimula atividades econômicas sustentáveis entre povos indígenas e o da área da Mata Atlântica. São US$ 57,320 milhões, que deverão ser gastos até 2010.
"Grande parte da frustração com o programa é por causa de expectativas erradas. O PPG7 não foi pensado para resolver os problemas ambientais da região. São projetos pilotos, de pequena escala, com o objetivo de gerar insumos para políticas públicas", diz a coordenadora do PPG7, Nazaré Soares.
Na avaliação do governo, o programa obteve resultados importantes em áreas como a demarcação de reservas e áreas indígenas, onde 49 milhões de hectares foram demarcados e 101 terras indígenas homologadas com recursos de doadores.
Além disso, as experiências do projeto piloto de manejo florestal serviram de base para a legislação que trata do assunto. Soares cita o financiamento aos Estados para a criação dos órgãos de controle ambiental como um projeto de sucesso.

Novo programa
O governo se prepara para encerrar a maior parte dos projetos financiados pelos doadores internacionais no ano que vem. Está negociando com os governos de países como Alemanha, Japão e Inglaterra e com a União Européia para que direcionem as doações ao Programa Amazônia Sustentável.
Pelo novo formato, o Ministério do Meio Ambiente não será mais o responsável pelo repasse dos recursos. Definirá as políticas públicas e o dinheiro irá para o executor do projeto.
Um dos principais agentes do PPG7, o Banco Mundial reconhece que houve atraso na implementação do programa e diz que isso ocorreu porque, quando ele foi idealizado, o Ministério do Meio Ambiente estava sendo criado e muitos órgãos estaduais tinham acabado de ser montados".
O banco destaca que alguns de seus projetos tiveram êxito. Cita também a demarcação de terras indígenas e o apoio a cerca de 300 projetos de manejo comunitário de recursos naturais. Nas contas do banco, dos 23 projetos que monitorou do PPG7, envolvendo US$ 125 milhões, cerca de US$ 12 milhões foram devolvidos aos doadores.

Fonte: Folha de São Paulo

Fronteira não pode ficar "a reboque" de índios, diz general


A política indígena do governo brasileiro, complacente com a atuação de ONGs estrangeiras na fronteira amazônica, ameaça a soberania nacional. A afirmação é do general-de-brigada Luiz Eduardo Rocha Paiva, comandante de 2004 a 2006 da escola que prepara os oficiais superiores do Exército.

Paiva, 56, endossou em entrevista à Folha as críticas do general Augusto Heleno, responsável pelo CMA (Comando Militar da Amazônia), quando eclodiu o conflito entre arrozeiros e índios na reserva Raposa/Serra do Sol (Roraima).

"Eu acho que na faixa de fronteira tem que ter cidades, vilas, comércio. A terra indígena impede o surgimento. Somos 190 milhões de habitantes. Não podemos ficar a reboque de 700 mil [índios]", disse.

O general acha que, como estão pouco povoadas, as reservas na área de fronteira podem virar territórios autônomos: "Se o brasileiro não-índio não pode entrar nessas reservas, daqui a algumas décadas a população vai ser de indígenas que, para mim, são brasileiros, mas para as ONGs não são. Eles podem pleitear inclusive a soberania".

Paiva afirma que o Estado "não se faz presente". "A Amazônia não está ocupada. É um vazio. Alguém vai vir e vai ocupar. Se o governo não está junto com as populações indígenas, tem uma ONG que ocupa. As ONGs procuram levar as populações indígenas a negar a cidadania brasileira. Elas atuam sem o controle do Estado brasileiro. Ligadas a interesses estrangeiros, são um perigo."

O risco maior, segundo o general, está na região entre Roraima e Amapá, devido à influência de Inglaterra (sobre a Guiana), França (Guiana Francesa) e Holanda (Suriname) e aos interesses dos EUA. "Eu acho que podemos perfeitamente caracterizar a ameaça e dizer o nome desses atores."

Na fronteira com a Venezuela e com a Guiana, na região da Raposa/Serra do Sol, o Exército mantém pelotões especiais, mas o general diz que isso de pouco adianta. "O pelotão de fronteira não defende nada. É preciso uma ação de presença importante, mas para vivificar. Vivificar com gente brasileira, inclusive com o índio."

Paiva, que passou à reserva em julho passado, disse que "a cobiça pelas riquezas" da Amazônia é o assunto principal da Eceme (Escola de Comando e Estado-Maior do Exército), que fica no Rio de Janeiro.

"Quando eu cheguei ao comando da escola, já era o assunto mais importante. Eu continuei estimulando para que o assunto mais importante, a ser estudado, fosse a Amazônia em relação à ameaça", afirmou.

As idéias do general ainda circulam no meio militar. Ele deve publicar em breve artigo sobre ameaça à Amazônia na revista "Idéias em Destaque" do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica. Em 2006, o general publicou um artigo na revista da Eceme sobre "vulnerabilidade, cobiça e ameaça" à Amazônia. O material foi republicado na edição de março e abril na "Military Review", edição brasileira.

Fonte: Folha de São Paulo

JAPÃO-BRASIL, 100 ANOS - A imigração sob um novo olhar

Os dilemas apresentados pelas imigrações – e por seus eventuais desdobramentos racistas – não param de desafiar o mundo globalizado.

A novíssima política para a imigração ilegal na Europa, o desenvolvimento das rotas migratórias Sul-Sul, os debates sobre as quotas e o sobre o direito à diferença e à identidade cultural (a "mixofobia"), são questionamentos que o "homem que não para de se mover" suscita.

No Brasil da "democracia racial" e do "homem cordial", onde tudo se acomoda, celebra-se um dos casos retumbantes de "integração" racial por ocasião do centenário da imigração japonesa. Um locutor de rádio chegou a dizer que "quando o japonês acaba em uma escola de samba temos aí um exemplo acabado de assimilação total à vida brasileira".

O texto que se segue, publicado no suplemento dominical "Mais!", da Folha de S.Paulo (20/4/2008), procurou divulgar – para o público fora do mundo acadêmico – a revisão histórica que hoje se faz na universidade, revisão que mostra que a história da imigração japonesa está longe de ser um processo unilateral de "integração" à vida brasileira.

Mais ainda: trata-se de um percurso marcado por conflitos, por discriminações e por violências.

O historiador Fabio Koifman, após a leitura do artigo no "Mais!", me fez observações importantes sobre o Estado Novo, observações que ajudam a entender a complexidade e contradições da questão da imigração – nas análises sobre o racismo, a simplificação é um risco constante.

A pesquisa que o Datafolha realizou com japoneses e descendentes da cidade de São Paulo, em fevereiro, mostra que alguns valores importantes para a preservação da identidade, como casamentos e conhecimento da língua, são ainda fortemente cultivados pela comunidade nikkei.

Um em cada três japoneses ou descendentes declarou ao Datafolha que sente alguma forma de discriminação por parte dos brasileiros, uma proporção alta a desafiar o mito harmonioso da "integração" (a professora Sidinalva dos Santos Wawzyniak, do Paraná, prefere chamá-la de "estratégia de sobrevivência": o imigrante torna-se um "homem traduzido", alguém que não é mais de fora, mas também não é integralmente local).

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Rompendo o silêncio

Tema esquecido pela historiografia brasileira, discriminação social e institucional contra japoneses foi defendida por grandes nomes do pensamento nacional, como o sociólogo Oliveira Vianna

Durante a Assembléia Nacional Constituinte de 1946, no Palácio Tiradentes, no Rio capital da República, o então senador pelo Distrito Federal Luiz Carlos Prestes fechou questão a favor da emenda 3.165, de autoria do médico, empresário ligado à extração do sal e deputado carioca Miguel Couto Filho, do PSD.

Prestes liderava a bancada comunista de 14 deputados (ela teve 15 por três meses, com a interinidade de um suplente) composta por, entre outros, Jorge Amado, eleito pelos paulistas, Carlos Marighela, pelos baianos, João Amazonas, o mais votado do país, escolha de 18.379 eleitores do Rio, e o sindicalista Claudino Silva, único constituinte negro, também eleito pelo Rio.

A emenda 3.165 dizia: "É proibida a entrada no país de imigrantes japoneses de qualquer idade e de qualquer procedência".

O deputado carioca do PSD retomava, doze anos depois, o espírito de várias emendas propostas à Constituição de 1934 – sendo que uma delas ficou conhecida com o nome de seu pai, Miguel Couto, médico, educador, presidente da Academia Nacional de Medicina e membro da Academia Brasileira de Letras.

O retórico Miguel Couto, pai, eleito pelo Partido Economista do Distrito Federal, era a maior expressão da "bancada médica", que contava com sessenta membros, incluindo a paulista Carlota Pereira de Queiroz, a primeira mulher ("e que médica!", bradou Couto da tribuna) brasileira na Câmara.

A maioria da bancada defendia, com teses "científicas" que vinham do darwinismo social e da eugenia racial, surgidos na Europa na segunda metade do século 19, a necessidade do "branqueamento" da população brasileira.

Médicos como o destacado sanitarista Artur Neiva, eleito pelo Partido Social Democrático da Bahia (foi interventor naquele Estado em 1931), e Antonio Xavier de Oliveira, eleito pela Liga Eleitoral Católica do Ceará, encheram boa parte dos 22 volumes dos anais da Constituinte com ataques aos degenerados "aborígenes nipões".

Ainda que no corpo final da Constituição de 34 o espírito "niponófobo" resultasse abrandado, a emenda teve aprovação acachapante: 171 votos contra 26. O texto estabelecia quotas (2% do total de ingressantes no país nos últimos 50 anos) sem fazer menção a raça ou nacionalidade e proibia a concentração populacional de imigrantes.

Insolúvel como enxofre

Uma dúzia de anos depois, em 27 de agosto de 1946, o ex-vice-presidente da República, senador pelo PDS mineiro e presidente da Constituinte, Fernando Mello Viana, colocou em votação a emenda de Couto Filho (que viria a ser, em 1953, o primeiro ministro da Saúde, em cargo criado por Getúlio Vargas, e, entre 1955 e 58, governador do Rio). O deputado Prado Kelly, da UDN do Rio, achava que ela "amesquinharia a nossa obra" e propôs que fosse deslocada para as disposições transitórias.

Na hora do voto, 99 constituintes favoráveis à proibição da imigração de japoneses ficaram sentados; os que eram contra a emenda levantaram-se, e também eram em número de 99. Mello Viana, o voto de Minerva, foi contra – e a Constituição de 1946 não se amesquinhou.

Um dos ideólogos do antiniponismo era Francisco José de Oliveira Vianna, autor de Populações Meridionais do Brasil (1918), considerado um clássico do pensamento nacional. Além desta obra, Oliveira Vianna é notoriamente reconhecido pela autoria de frases como "os 200 milhões de hindus não valem o pequeno punhado de ingleses que os dominam" e "o japonês é como enxofre: insolúvel".

Quando, no raiar do século 20, começaram as especulações em torno de uma possível imigração japonesa, o diplomata, primeiro biógrafo de D. João 6º e encarregado de negócios da inaugural missão diplomática brasileira no Japão, Manuel de Oliveira Lima, deu parecer contra o projeto. Em 1901, ele escreveu ao Ministério das Relações Exteriores alertando sobre o perigo de o brasileiro se misturar com "raças inferiores".

Na sua edição de 5 de dezembro de 1908, a revista carioca O Malho, editava uma página de charges criticando a imigração de japoneses. Em uma das legendas, lia-se: "O governo de São Paulo é teimoso. Após o insucesso da primeira imigração japonesa contratou 3.000 amarelos. Teima pois, em dotar o Brasil com uma raça diametralmente oposta à nossa".

Os japoneses passaram a sofrer uma discriminação múltipla: à visão de uma raça inferior vieram a se somar os temores com relação ao expansionismo militarista do império nipônico (após as vitórias nas guerras contra a China, em 1895 e Rússia, 1905) e o ressentimento pela sensação de que o imigrante japonês resistia a se integrar – era "inassimilável", um "quisto", conforme o vocabulário do momento.

Os "súditos do Eixo"

As idéias racistas, a paranóia derivada da ameaça do "perigo amarelo" (a expressão é atribuída ao kaiser Guilherme 2º, da Alemanha, quando incitou os russos a guerrearem contra o Japão; mas ela ganhou força na crise da imigração japonesa nos EUA. De lá, teria vindo para o Brasil) passam a tomar forma de ação ao se articular com as forças repressivas.

Com o acirramento dos sentimentos nacionalistas a partir do Estado Novo, em 1937, e com a entrada do Japão na Segunda Guerra ao atacar Pearl Harbor, em dezembro de 1941, o preconceito antinipônico deixa de atuar apenas no campo das idéias. Uma série de medidas contra os "súditos do Eixo" – alemães, italianos e japoneses – foram tomadas, e algumas delas foram particularmente doloridas para a comunidade nikkei no Brasil.

Mais de duzentas escolas de japonês foram fechadas. A língua japonesa foi proibida de ser falada em público; para a maioria dos nipônicos no país, esta era a única forma de se comunicar.

A publicação dos jornais em japonês ficou muito cara (passou a ser obrigatória a edição bilíngüe, japonês-português) e eles deixaram de circular. Em 1939, uma pesquisa da Estrada de Ferro Noroeste, de São Paulo, mostrava que 87,7% dos japoneses assinavam jornais na sua língua materna, um índice altíssimo para os padrões do setor no Brasil.

Os bens das empresas nipônicas foram confiscados. Japoneses não podiam viajar sem salvo conduto. Aparelhos de rádios pertencentes às famílias eram apreendidos – para que não se ouvisse transmissões em ondas curtas do Japão. Os "súditos do imperador" estavam proibidos de dirigir veículos de sua propriedade, mesmo os comerciais – os choferes tinham que ser designados por uma autoridade policial brasileira.

Sem que houvesse indícios de que organizações político-militares ligadas às armas imperiais do Japão estavam atuando no país (como foi o caso de núcleos do Partido Nazista entre os imigrantes alemães), civis japoneses e muitos de seus descendentes nascidos no Brasil foram tratados como prisioneiros de guerra.

Em 1942, a colônia japonesa que serviu para o cultivo da pimenta em Tomé-Açu, no Pará, foi transformada em campo de concentração (expressão da época), embora nenhuma atividade contra a "segurança nacional" por parte de seus membros tivesse sido detectada.

De Washington, o embaixador brasileiro Carlos Martins Pereira e Souto, incentivava o Brasil a adotar, a exemplo dos EUA, os "campos de internamento": áreas de confinamento para as quais foram levados, sem respaldo jurídico, mais de 120 mil nisseis (muitos já cidadãos americanos). Eles viveram nesses "campos prisão" até o final da guerra, em condições humanas precárias.

A delação – como diz Tzvetan Todorov, a delação no estado totalitário é um modo de colocar "o terror a disposição de todos" – contra os japoneses tornava-se popular. "Desavenças de vizinhos, dívidas não pagas e até brigas de crianças eram motivos para que os japoneses fossem delatados anonimamente às autoridades", conta Fernando Morais em Corações Sujos.

A suspeita não tinha limites: em dezembro de 1942, o jornalista Hideo Onaga e um grupo de jovens foram presos em um piquenique na represa Eldorado, distrito de Santo André (SP), por que havia uma desconfiança de que eles estivessem construindo um submarino (!), conforme relatou à historiadora Marcia Yumi Takeuchi. Marchinhas de carnaval ironizavam Hiroíto e a "terra do Micado".

Os pintores japoneses do grupo Seibi (Tomoo Handa e Yoshiya Takaoka, entre outros), que se reuniam para pintar na rua e no campo, foram obrigados a entrar em reclusão e atuar clandestinamente, o que não ocorreu com o grupo Santa Helena, por exemplo, composto em sua maioria por italianos.

Cômodos no porão

Em 10 de julho de 1943, sem aviso prévio, cerca de 10 mil "súditos do Eixo" (90% eram japoneses) foram obrigados a abandonar Santos em poucas horas, deixando todos os seus bens para trás. Em 3 de maio de 1944, o delegado-chefe do serviço de salvo-condutos, José Antonio de Oliveira, nega pedido de Miya Tekeuti, que estava em São Paulo e queria voltar a residir na Baixada Santista para ficar perto dos sete filhos, o menor deles com 12 anos.

A ladeira Conde de Sarzedas, no centro de São Paulo, foi um marco para os japoneses. O aluguel dos cômodos no porão dos sobrados era uma bagatela e grupos de japoneses passaram a morar nesses quartos, a partir de 1912. Ela passa a ser conhecida como a Rua dos Japoneses, iniciando a história da Liberdade como o bairro nipônico – nasciam ali os primeiros restaurantes japoneses da capital paulista.

Em 2 de fevereiro de 1942, os já numerosos nikkeis da Conde de Sarzedas e da Rua dos Estudantes são acordados durante a noite por agentes do Dops; foram avisados que teriam de abandonar a área em 12 horas. A cena se repetiria na véspera do 7 de setembro, desta vez com os japoneses tendo dez dias para se mudarem definitivamente da região.

Em 25 de maio de 1945, a mais famosa dupla do jornalismo brasileiro, composta pelo repórter Davi Nasser e pelo fotógrafo Jean Manzon, publica, em O Cruzeiro, uma matéria-ilustração inspirada em algo parecido feito pela americana Time, com o objetivo de ensinar os brasileiros a distinguirem um japonês de um chinês.

O japonês, segundo Nasser, entre outras coisas, é "de aspecto repulsivo, míope, insignificante".

Nas palavras do historiador Roney Cytrynowicz, em seu livro sobre o impacto da Segunda Guerra no dia-a-dia do paulistano (Guerra sem Guerra), "a opressão contra os imigrantes japoneses, diferente do que ocorreu com italianos e alemães em São Paulo, deixa claro que o Estado Novo moveu contra eles – a pretexto de acusação de sabotagem – uma campanha racista em larga escala".

Com o fim da guerra, os japoneses ganharam mais estigmas: os de fanáticos e terroristas. Eles estavam ligados às ações da organização Shindô-Renmei, uma tentativa desesperada de preservar o espírito nipônico e a veneração ao imperador japonês em terras estrangeiras, em criar uma pátria para despatriados. Seus membros jamais aceitaram "suportar o insuportável", não atendendo às históricas palavras de Hiroito ao comunicar aos súditos, por rádios e alto-falantes, a rendição japonesa.

Em um dos casos históricos mais curiosos de tentativa radical e desesperada de preservação de um passado em terra estrangeira, os membros da Shindô-Renmei (31.380 nisseis, segundo a polícia paulista, eram suspeito de pertencer à organização; em 1946, o Dops fichou 376 deles) e a maioria da comunidade japonesa no Brasil se recusavam a aceitar que o Japão havia perdido a guerra. A organização matou 23 e feriu 147 nipônicos, acusando de serem "derrotistas" aqueles que aceitavam a derrota do império do sol nascente.

Linchamento

Por causa do assassinato do caminhoneiro Pascoal de Oliveira, o Nego, pelo também caminhoneiro japonês Kababe Massame, após uma discussão, em 31 de julho de 1946, a população de Osvaldo Cruz (SP), que já estava à flor da pele com dois atentados da Shindô-Renmei na cidade, saiu às ruas e invadiu casas dispostas a maltratar "impiedosamente", na palavra do historiador local José Alvarenga, qualquer japonês que encontrassem pela frente.

O linchamento dos japoneses só foi totalmente controlado com a intervenção de um destacamento do Exército, vindo de Tupã, chamado pelo médico Oswaldo Nunes, um herói daquele dia totalmente atípico na história de Oswaldo Cruz e das cidades brasileiras.

Com o final da Segunda Guerra, o eclipse do Estado Novo e o desmantelamento da Shindô-Renmei, inicia-se um ciclo de emudecimento, de ambos os lados, sobre as quatro décadas de intolerância vividas pelos japoneses. Do lado local, foi sedimentando-se no mundo das letras, a idéia do país como um "paraíso racial". Do lado dos imigrantes, as segundas e terceiras gerações de filhos de japoneses se concentraram, a partir da década de 1950, na construção da sua ascensão social. A história foi sendo esquecida, junto com o idioma e os hábitos culturais de seus pais e avós.

Como diz a historiadora Priscila Nucci, da Unicamp, no seu trabalho Os intelectuais diante do racismo antinipônico no Brasil: textos e silêncios, até os estudos sobre a imigração japonesa passaram a se focar nas questões ligadas à "assimilação, integração e aculturação", deixando um vácuo, um "silenciamento ou minimização das discussões sobre o racismo contra os japoneses no Brasil".

Fonte: Observatório da Imprensa - Por Matinas Suzuki Jr.

'Eleição no Zimbábue não refletiu vontade do povo'

Observadores da SADC (Comunidade de Desenvolvimento do sul da África) afirmaram neste domingo que o resultado do segundo turno da eleição presidencial do Zimbábue não refletiu a vontade do povo.

Neste domingo Robert Mugabe tomou posse da Presidência do país pela sexta vez, durante uma cerimônia realizada em sua residência oficial na capital Harare.

Resultados oficiais afirmam que Mugabe venceu as eleições presidenciais em todas as dez províncias do país com uma grande vantagem.

A declaração dos observadores da SADC, horas depois da posse de Mugabe, afirmou que o período antes da votação foi marcado pela violência política de tal forma que a credibilidade da eleição foi prejudicada.

"Não há nenhuma chance de imaginar que esta (votação) pode ser descrita como uma eleição justa, uma eleição livre", afirmou Dianne Kohler Barnard, uma das observadoras da SADC.

"O MDC (Movimento pela Mudança Democrática, na sigla em inglês, partido de oposição) não estava lutando contra outro partido em uma eleição política. Eles estavam lutando contra toda a máquina do Estado."

"A maior parte da liderança do MDC está presa ou em fuga. Milhares de pessoas estão vivendo nas montanhas, estas pessoas tiveram suas casas queimadas, foram espancadas e aterrorizadas", acrescentou.

A SADC manteve um grupo de 400 observadores durante as eleições no Zimbábue.

Golpe

O correspondente da BBC em Johannesburgo, Peter Biles, afirma que esta declaração dos observadores da SADC é um golpe para o presidente Robert Mugabe.

De acordo com Biles, a declaração dos observadores pode levar os governos da região sul da África a não reconhecerem Mugabe como presidente e declararem a eleição como ilegítima, assim como alguns países ocidentais já fizeram.

Se isto ocorrer, a União Africana poderá ser pressionada a tomar medidas a respeito.

A declaração foi divulgada na véspera da reunião da União Africana, que começa nesta segunda-feira, no Egito, que deve contar com a participação de Mugabe.

Cerimônia

Robert Mugabe foi empossado em uma cerimônia organizada rapidamente, uma hora depois de a Comissão Eleitoral ter anunciado os resultados.

A cerimônia de posse confirma o novo mandato de cinco anos de Mugabe, que já está no comando do país há 28 anos.

Mugabe concorreu sozinho no segundo turno da eleição presidencial após seu opositor, Morgan Tsvangirai ter decidido boicotar o pleito por causa da violência sofrida por seus partidários.

Autoridades da Comissão Eleitoral disseram que o comparecimento às urnas foi de 42,37%, número parecido com o do primeiro turno, em março.

De acordo com os resultados oficiais, Mugabe obteve 2.150.269 votos, contra 233.000 de Tsvangirai e 131.481 inválidos.

Em um discurso logo depois da posse, Mugabe afirmou que se compromete a negociar com a oposição para encontrar uma solução para a crise política.

"Tenho esperança de que em breve (...) vamos fazer uma consulta voltada para o diálogo, enquanto minimizamos nossas diferenças e aumentamos a área de união e cooperação", afirmou.

O líder oposicionista Morgan Tsvangirai foi convidado para a cerimônia de posse, mas se recusou a participar. Tsvangirai afirmou que Mugabe oferece a negociação por não ter outra opção.

"Isto não é estender a mão, nestas circunstâncias, ele (Mugabe) não tem opção a não ser negociar com a oposição", disse.

Em entrevista à BBC, Tsvangirai afirmou que qualquer negociação deve ser baseada no resultado do primeiro turno da eleição, ocorrido no dia 29 de março.

"Acreditamos que a eleição de 29 de março refletiu a vontade do povo e que aquela deve ser a base de qualquer negociação", afirmou.

Naquela votação, o líder oposicionista obteve 47,9% dos votos contra 43,2% de Mugabe. A Comissão Eleitoral precisou de cinco semanas para divulgar estes resultados, comparados aos dois dias necessários para os resultados do segundo turno.

Desde o primeiro turno, o partido do líder da oposição, MDC, disse que 86 de seus partidários foram assassinados e 200 mil foram obrigados a deixar suas casas pelas milícias leais ao partido governista Zanu-PF.

O governo culpa o MDC pela violência.

Governo da Caxemira revoga transferência de terras para hindus


O governo indiano na Caxemira afirmou que vai revogar a decisão de transferir terras com florestas para a organização que gerencia um importante templo hindu.

A notícia de que a diretoria do Templo Amarnath iria ficar com a administração das terras desencadeou protestos na região, que é de maioria muçulmana. Quatro pessoas morreram e centenas ficaram feridas nas manifestações.

Os protestos foram os maiores ocorridos na região nos últimos anos e acabaram se ampliando, com exigências de grupos pró-independência.

Segundo o correspondente da BBC em Nova Déli Chris Morris os protestos continuaram por toda a Caxemira neste domingo. Lojas, escritórios e empresas permaneceram fechados.

Protestos continuam

Mesmo depois de o ministro-chefe da Caxemira, Ghulam Nabi Azad, ter feito o anúncio da suspensão da transferência das terras, muitos dos grupos que já estavam envolvidos nos protestos afirmaram que iria continuar com as manifestações.

O que começou como o protesto contra a transferência das terras, uma área de cerca de cem acres de floresta, se transformou em manifestações pela independência da região.

E estes protestos se transformaram nas maiores manifestações de rua desde a revolta contra o governo indiano há cerca de vinte anos.

De acordo com Chris Morris as conseqüências já começam a ser sentidas, um grande parceiro da coalizão de governo retirou seu apoio.

E em outras regiões da Índia grupos nacionalistas hindus alertaram que qualquer tentativa de transferência da terra não será tolerada.

Fonte: BBC Brasil

Mugabe toma posse no Zimbábue após vitória nas urnas


Robert Mugabe tomou posse na Presidência do Zimbábue pela sexta vez neste domingo, durante uma cerimônia realizada em sua residência oficial na capital, Harare.

Resultados oficiais afirmam que Mugabe venceu em todas as 10 províncias do país com uma larga vantagem - mas também houve muitos votos invalidados.

Mugabe concorreu sozinho no segundo turno da eleição presidencial após seu opositor, Morgan Tsvangirai ter decidido boicotar o pleito por causa da violência sofrida por seus partidários.

Autoridades da comissão eleitoral disseram que o comparecimento às urnas foi de 42,37%, número parecido com o do primeiro turno, em março.

De acordo com os resultados oficiais, Mugabe obteve 2.150.269 votos, contra 233.000 de Tsvangirai e 131.481 inválidos.

Observadores independentes disseram que muitos dos que votaram foram às urnas por medo e que milhares de pessoas invalidaram seus votos ao danificar as cédulas eleitorais ou marcá-las de forma errada.

Votos invalidados

A cerimônia de posse confirma o novo mandato de cinco anos de Mugabe, que já está no comando do país há 28 anos.

Tsvangirai foi convidado para a cerimônia em um "gesto de boa-vontade", mas disse que o convite era "inútil".

"Como o partido pode dar sua bênção a algo que ele rejeitou?", perguntou um porta-voz da oposição.

Tsvangirai, líder do Movimento pela Mudança Democrática (MDC, na sigla em inglês), anunciou que estava desistindo de sua candidatura no último domingo, atribuindo sua decisão à violência promovida pelo governo.

Mesmo assim, seu nome continuava constando das cédulas eleitorais na votação de sexta-feira, porque as autoridades eleitorais do Zimbábue se recusaram a aceitar sua decisão.

Reação internacional

O correspondente da BBC em Johannesburgo, Peter Biles, disse que assim que Mugabe assumir o novo mandato, ele deve voar para o Egito, onde participa de uma reunião da União Africana, que começa nesta segunda-feira.

De acordo com analistas, a reação dos vizinhos do Zimbábue no sul da África será crucial.

Um grupo de monitoramento do Parlamento Pan-Africano pediu ao chamado SADC (Comunidade de Desenvolvimento do sul da África) e à União Africana que facilitem conversas entre o governo e a oposição.

Já o ex-arcebispo da Cidade do Cabo, Desmond Tutu, fez um apelo para que a comunidade internacional intervenha no Zimbábue e utilize a força, se necessário.

Tutu afirmou que apoiaria o envio de uma tropa da Organização das Nações Unidas (ONU) para restaurar a paz no país.

Em uma entrevista à BBC, Tutu também disse que os líderes da União Africana deveriam se recusar a reconhecer Robert Mugabe como o presidente legítimo do Zimbábue.

"Se você tivesse uma voz unânime, dizendo claramente a Mugabe... você é ilegítimo e nós não vamos reconhecer sua administração de nenhuma forma - acho que seria um sinal muito, muito poderoso e fortaleceria bastante a comunidade internacional."

Muitos países e organizações internacionais criticaram o governo do Zimbábue por seguir em frente com o segundo turno da eleição presidencial.

Neste sábado, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, afirmou que vai pressionar para que a ONU tome medidas severas contra o que ele chamou de governo "ilegítimo" do Zimbábue.

Bush afirmou que quer uma proibição à exportação de armas para o país e a proibição de viagens para autoridades do governo do Zimbábue.

Negociações

Apesar de Mugabe ter dito que venceu com uma larga vantagem, observadores internacionais disseram que muitos votos foram invalidados e em algumas áreas o número deles era maior do que os votos para o presidente.

As autoridades eleitorais chegaram a informar que a contagem dos votos estava encerrada, mas os resultados das regiões rurais do país continuaram chegando.

O jornal estatal Sunday Mail traz em sua edição deste domingo a segunite afirmação: "Mugabe é um homem com uma tarefa e esta tarefa ainda tem de ser cumprida, por isso ele continua no cargo."

Em entrevistas publicadas em jornais britânicos neste domingo, Tsvangirai disse que vai pressionar por negociações com Mugabe para uma nova constituição e novas eleições.

"Nós temos o poder de controlar o parlamento e isto é reconhecido até pelo partido de Mugabe, o Zanu-PF... Nós temos de forçar um acordo de transição para um prazo e trabalhar por uma nova constituição para o Zimbábue", disse ele ao jornal Mail on Sunday.

"Estou confiante que nós podemos conseguir isso se a pressão internacional continuar grande."

Em outra entrevista ao jornal Sunday Telegraph, Tsvangirai disse que seria possível Mugabe permanecer como chefe de Estado cerimonioso.

"Não acho que seja inconcebível inclui-lo em um acordo, dependendo, é claro, dos detalhes do que está sendo proposto e qual é o acordo."

Mugabe ficou em segundo lugar no primeiro turno da eleição presidencial em março, perdendo para Tsvangirai.

De lá para cá, o partido do líder da oposição, MDC, disse que 86 de seus partidários foram assassinados e 200 mil foram obrigados a deixar suas casas pelas milícias leais ao partido governista Zanu-PF.

O governo culpa o MDC pela violência.

Fonte: BBC Brasil

Reunião entre Lula e Chávez termina sem avanços na área de integração energética


A reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, nesta sexta-feira, na capital da Venezuela, terminou sem avanços na área de integração energética.

O encontro ocorreu na sede da petroleira PDVSA, em Caracas, e serviu para o anúncio de pequenas parcerias bilaterais e de um acordo de compra de gás venezuelano que só terá resultados práticos em 2013.

Nenhum avanço sobre os projetos da Petrobras com a estatal venezuelana foi apresentado.

Ao longo da semana, assessores do governo venezuelano e representantes do Itamaraty sugeriram que poderia ser anunciada nesta sexta-feira a resolução para o impasse em torno de pelo menos dois projetos - sobre uma refinaria em Recife, no Brasil, e sobre a participação da Petrobras em exploração na faixa petrolífera do Orinoco, na Venezuela.

Licitação

Em entrevista coletiva após a assinatura de acordos, na sede da PDVSA, Lula disse que a demora "se deve ao fato de que são duas empresas grandes e poderosas e estão estabelecendo denominadores comuns para fechar o acordo".

O presidente também afirmou que, no projeto conjunto de exploração e produção de petróleo pesado no campo de Carabobo 1, na faixa do Orinoco, a Petrobras, em vez de entrar sozinha com 10%, como previsto anteriormente, quer participar do processo licitatório com as outras empresas.

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, negou que as recentes descobertas de jazidas petrolíferas no pré-sal da Bacia de Santos tenham levado a empresa a se desinteressar pelo empreendimento na Venezuela.

"Na verdade, ter diversidade de fontes (de petróleo) é sempre bom. Não há uma relação significativa entre uma coisa e outra" afirmou Gabrieli, ao final do evento com os presidentes.

Projetos

Desde 2005, os cinco projetos que a Petrobras anunciou como possibilidade de parceria com a PDVSA não saíram do papel.

Nem mesmo o mais adiantado desses projetos, a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, tem a parceria definida.

Há três meses, em um encontro dos dois presidentes em Recife, foi assinado um acordo de associação entre a PDVSA e a Petrobras. No entanto, os estatutos sociais, o acordo de acionistas e o contrato de compra venda de petróleo ainda precisam ser elaborados.

Uma assessora da Petrobras disse à BBC Brasil que a empresa “prefere analisar com calma os contratos antes de fechar o acordo e não poder voltar atrás”.

Acordos

Durante a visita de Lula à Venezuela foram assinados 21 acordos - oito entre os governos e o restante entre empresas brasileiras e venezuelanas.

Os presidentes firmaram um acordo que prevê a extensão da rede de abastecimento energético das hidrelétricas de Guri e Tucurui Belo Monte que poderá gerar entre 2 mil e 3 mil megawatts.

O projeto se tornará viável após a construção do chamado Linhão Tucuruí-Manaus-Macapá, ainda em fase de leilão, de 1.829 quilômetros de linhas de transmissão, que deverá conectar a região amazônica ao resto do país.

Lula e Chávez também assinaram um protocolo de intenções para que a Petrobras compre, futuramente, GNL (Gás Natural Liquefeito) da PDVSA.

Durante a reunião, foi exibido um vídeo sobre as obras do complexo de produção e polietileno e polipropileno no estado Anzoategui, onde a Braskem desenvolve dois empreendimentos com a petroquímica venezuela Pequivem, em um projeto no valor de US$ 5,4 bilhões.

O encontro bilateral desta sexta-feira foi o quarto entre Lula e Chávez desde setembro do ano passado, quando os dois presidentes acertaram que se reuniriam a cada três meses. O próximo encontro está marcado para setembro, no Brasil.

Fonte: BBC Brasil

Banco do Sul 'terá capital autorizado de US$ 20 billhões'Banco do Sul 'terá capital autorizado de US$ 20 billhões'

O Banco do Sul terá capital autorizado de US$ 20 bilhões, segundo um comunicado conjunto divulgado por ministros e vice-ministros da área econômica de Brasil, Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela reunidos nesta sexta-feira, em Buenos Aires.

De acordo com a nota, o Banco do Sul deverá começar a funcionar a partir de 2009 com US$ 10 bilhões no caixa – US$ 3 bilhões a mais que o valor inicialmente anunciado, quando a idéia foi lançada, no ano passado.

A expectativa, segundo assessores das autoridades que participaram do encontro, é de que outros países da região, como Chile e Peru, financiem os recursos que completariam os US$ 10 bilhões.

A previsão de se alcançar os US$ 20 bilhões é feita a partir da possível participação de outros países da região.

"O Banco do Sul entrou numa etapa final de definições relacionadas ao seu convênio constitutivo", diz o comunicado.

O texto diz ainda que este capital corresponde aos países membros da União das Nações Sul-americanas (Unasul).

Uma nova reunião deverá ser realizada no próximo mês em Assunção, no Paraguai, e outra em La Paz, na Bolívia.

Desenvolvimento

O Banco do Sul partiu de uma iniciativa da Venezuela, como uma alternativa a instituições como o Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A nova entidade é definida como um braço para o "desenvolvimento" e não pretende ter, de acordo com assessores, um perfil como o do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Na prática, Brasil, Venezuela e Argentina vão participar com US$ 2,9 bilhões. Equador e Uruguai com US$ 400 milhões, e Paraguai e Bolívia com US$ 100 milhões cada.

No entanto, cada país ainda depende de aprovação de seus parlamentos para a liberação destes recursos.

Em visita à capital argentina, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, evitou declarações aos jornalistas brasileiros. Numa recepção na embaixada do Brasil, conversou sobre inflação com o ministro argentino da Economia, Carlos Fernández, mas não foram revelados maiores detalhes.

O governo argentino tem sido acusado por diferentes setores de maquiar os dados da inflação que, de acordo com consultorias econômicas, estaria em torno de 25% acumulados nos últimos 12 meses, e não em 8% como afirmam as cifras oficiais.

Fonte: BBC Brasil

sábado, 28 de junho de 2008

Sérvios estabelecem assembléia em Kosovo


Sérvios de Kosovo realizaram a sessão inaugural de uma assembléia estabelecida para desafiar o governo de maioria étnica albanesa de Kosovo e a Organização das Nações Unidas (ONU).

A reunião está ocorrendo na cidade de Mitrovica, marcada pela divisão étnica.

Foram eleitos 45 membros desta assembléia em maio, durante as eleições gerais e municipais da Sérvia, uma votação da que a ONU e o governo de Kosovo consideraram ilegal.

A maioria étnica albanesa de Kosovo declarou independência da Sérvia em fevereiro, apesar da oposição dos sérvios e da Rússia.

Kosovo foi reconhecido como Estado por 43 países, incluindo os Estados Unidos e a maioria das nações européias. Mas, os governos da Sérvia e da Rússia afirmam que a declaração de independência de Kosovo foi ilegal, segundo as leis internacionais.

O ministro do governo sérvio, Slobodan Samardzic, afirmou que o estabelecimento desta assembléia vai ajudar a Sérvia na luta por Kosovo.

"É importante politicamente e em termos de representação. Agora eles têm sua representação de todo o Kosovo. E, neste sentido, eles vão participar em um processo político no qual os sérvios vão expressar sua vontade e sua opinião política", afirmou.

Poder real

Segundo a correspondente da BBC em Mitrovica Helen Fawkes, nacionalistas linha dura sérvios lotaram uma sala de palestras de uma universidade local.

O presidente da assembléia então declarou que esta era a organização oficial para representar os sérvios em Kosovo e agir como uma organização de coordenação com o governo sérvio em Belgrado.

De acordo com Fawkes apesar de a assembléia não ter poder real, vai significar um desafio à autoridade do governo de maioria étnica albanesa de Kosovo.

Foram tomadas mais medidas de segurança em Mitrovica, onde ocorreram episódios de violência recentemente. No começo de junho um atirador atacou uma delegacia de polícia. Em março, um tumulto deixou um policial da ONU morto.

Cerca de 90% da população de dois milhões de pessoas de Kosovo é formada por albaneses. O norte de Kosovo é dominado por cerca de 50 mil sérvios.

De 1999 a 2008 a província foi administrada pela ONU, depois do fim do conflito que teve origem nas divisões étnicas e na repressão.

A constituição do país entrou em vigor no dia 15 de junho, garantindo ampla autonomia para a minoria sérvia em Kosovo.

Mas, a reconciliação entre albaneses que, em sua maioria, apoiou a independência, e sérvios, ainda está longe de ser alcançada.

Fonte: BBC Brasil

UE e Rússia lançam negociações para novo pacto

O presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, e autoridades da União Européia lançaram nesta sexta-feira negociações para um novo acordo de cooperação estratégica.

O anúncio foi feito em uma reunião de cúpula da Rússia e do bloco europeu na cidade siberiana de Khanty-Masiysk.

O lançamento das negociações, que devem começar de fato daqui a uma semana em Bruxelas, vinha sendo adiado devido à relação tensa de alguns países da União Européia, como a Polônia e a Lituânia, com o antecessor de Medvedev na Presidência russa, Vladimir Putin.

Na reunião, Medvedev afirmou que está buscando um "novo impulso" nas relações com a União Européia.

"O futuro acordo é um instrumento para aproximar verdadeiramente a Rússia e a União Européia. Será construído sobre o princípio de direitos iguais, pragmatismo, respeito pelos interesses de outras partes e, claro, uma abordagem comum a problemas importantes de segurança", disse.

"Destacaria que (o futuro acordo) está destinado a se transformar na base de uma parceria estratégica entre a Rússia e a União Européia para o longo prazo."

Interesses

O novo acordo entre União Européia e a Rússia deve substituir um de dez anos que expirou em 2007, mas que deve continuar norteando as relações bilaterais até que um novo entre em vigor.

Medvedev elogiou o clima "sincero, amável" durante a reunião, e o presidente da Comissão Européia (o órgão executivo da União Européia), José Manuel Durão Barroso, afirmou que "realmente gostou (da reunião)... uma atmosfera muito aberta e construtiva".

Mas, apesar dos interesses comuns, velhos problemas já surgiram durante o encontro em Khanty-Masiysk, segundo o correspondente da BBC em Moscou, James Rodgers.

Medvedev afirmou que a Rússia ficou assustada com o que ele chamou de tendência de usar a solidariedade européia para promover os interesses de integrantes individuais do bloco em disputas bilaterais com a Rússia.

As negociações foram paralisadas em 2006 depois que a Polônia contestou um embargo imposto pelos russos à importação de carne e derivados feitos em território polonês.

Depois, foi a vez da Lituânia atrasar as negociações, alegando que queria um debate sobre o apoio russo a separatistas da Geórgia e da Moldávia. O país báltico retirou essa ressalva em maio.

Segurança

O presidente russo também criticou duramente os planos dos Estados Unidos para a instalação de um escudo antimísseis na Europa e alertou a União Européia para que não deixe a cargo de outros países garantir a segurança no bloco.

De acordo com James Rodgers, a Rússia afirmou que os líderes da União Européia receberam com interesse as propostas russas para um novo tratado de segurança europeu.

Moscou quer realizar uma nova reunião de cúpula para discutir a questão.

O governo russo acredita que as atuais organizações internacionais de segurança, incluindo a Otan, não estão preparadas para lidar com a tarefa sozinhas.

Fonte: BBC Brasil

OEA enviará missão à UE para discutir restrições a imigração

A Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou o envio de uma "missão de alto nível" para a União Européia com o objetivo de discutir a recente reforma nas regras de repatriação no bloco que criminaliza a imigração ilegal.

"O Conselho Permanente (da OEA) ... adotou hoje por aclamação uma resolução que pede que o secretário-geral, José Miguel Insulza, acompanhe uma missão de alto nível a Estados da União Européia para obter informações e discutir as implicações" das novas diretrizes, disse comunicado oficial da OEA.

A resolução também expressa "preocupação" dos 34 membros da OEA com "as leis e medidas adotadas por alguns Estados que podem restringir os direitos humanos e as liberdades fundamentais dos migrantes".

A diretriz aprovada no último dia 18 pelo Parlamento Europeu prevê detenções de até 18 meses para quem não tiver os documentos apropriados e não colaborar para sua identificação. Ela prevê também uma proibição de reentrada na União Européia por até cinco anos.

As novas normas contemplam ainda a possibilidade de entregar os menores desacompanhados a tutores que não sejam seus familiares diretos ou a serviços de assistência social do país de onde a criança veio.

José Miguel Insulza destacou que "temos que reconhecer que este é um tema essencialmente econômico e social, porque as pessoas vão onde estão os empregos, e este é um fenômeno natural que não vamos interromper e nem vamos eliminar com ações puramente coercitivas".

A correspondente da BBC Mundo em Washington, Lourdes Heredia, disse que não há grande expectativa de que a missão da OEA tenha algum sucesso em sua visita à Europa.

A União Européia estima que existam hoje oito milhões de pessoas sem os documentos apropriados nos países do bloco.

O secretário-geral da OEA lamentou que a Europa tenha imposto "as normas e a discussão dos temas" e tenha escolhido enfocar o problema somente pela perspectiva judicial ou policial.

A nova diretriz européia foi criticada por vários países latino-americanos. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse que contemplaria a possibilidade de suspender o envio de petróleo à Europa e o presidente da Bolívia, Evo Morales, disse que estudará a possibilidade de reintroduzir o pedido de visto para os europeus que desejarem viajar ao seu país.

Fonte: BBC Brasil

'Já nos sentimos parte do Mercosul', diz Chávez

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou nesta sexta-feira que seu país já se sente parte do Mercosul.

Em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Caracas, Chávez disse que continua aguardando a decisão dos Congressos do Brasil e do Paraguai para finalizar o processo de adesão da Venezuela ao bloco.

"Nós, de fato e de coração, já nos sentimos parte do Mercosul", afirmou Chávez, em entrevista coletiva ao lado de Lula na sede da estatal venezuelana PDVSA.

"E que o Brasil sinta a Venezuela como parte desta união do sul, da fortaleza do sul, do grande bloco da América do Sul."

A entrada da Venezuela como membro pleno do Mercosul depende da aprovação dos Congressos dos demais países membros. O brasileiro e o paraguaio ainda não aprovaram o projeto.

"Lula me informou que isso continua avançando. Nós, enquanto isso, estamos esperando a decisão que se definirá nos organismos legislativos do Brasil e do Paraguai" disse Chávez.

No ano passado, o presidente venezuelano criticou a demora na tramitação do projeto de ingresso da Venezuela e chegou a ameaçar se retirar do bloco se a aprovação não ocorresse dentro de três meses.

Prioridade

De acordo com fontes do governo brasileiro, a entrada da Venezuela no Mercosul será uma das prioridades do Brasil, que assumirá a presidência do bloco na próxima reunião de Cúpula, nesta segunda-feira, na Argentina.

Com o ingresso no Mercosul, o governo da Venezuela, com uma economia baseada na produção de petróleo e derivados, pretende diminuir a dependência das importações dos Estados Unidos e da Colômbia, países com os quais o governo Chávez mantém uma permanente crise diplomática.

No entanto, na avaliação do analista político venezuelano Javier Biardeau, a adesão da Venezuela ao bloco não significará uma maior independência.

Segundo Biardeau, a provavél "invasão" dos competitivos produtos brasileiros e argentinos no vasto mercado venezuelano é um risco que o governo Chávez pretende assumir.

"Enquanto o governo não alcança a diversificação da produção para romper com sua dependência das importações, Chávez prefere que sua economia esteja conectada ao Mercosul a mantê-la alinhada às dos Estados Unidos e da Colômbia", disse Biardeau à BBC Brasil.

Segundo o economista venezuelano Orlando Ochoa, a opção venezuelana pela dependência não é a melhor.

"Os produtores venezuelanos não podem enfrentar um mercado tão atrativo como o brasileiro ou o argentino. A saída seria fortalecer a economia interna antes de entrar na livre competição do Mercosul", disse Ochoa.

Fortalecimento

De acordo com Biardeau, outro fator que leva a Venezuela a pretender participar do livre mercado na região - modelo econômico criticado reiteradamente por Chávez - seria a necessidade de o governo venezuelano se fortalecer internacionalmente.

"A Venezuela necessita fortalecer seu projeto de integração na região, e o presidente Chávez acredita que o Mercosul pode ser esta plataforma", afirmou Biardeau.

Para o Brasil e a Argentina, as duas principais economias do bloco, a Venezuela é vista como um pólo provedor energético, ao mesmo tempo que representa um importante mercado de exportações.

O Brasil se tornou o terceiro sócio comercial da Venezuela, atrás apenas dos Estados Unidos e da Colômbia.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, no ano passado o Brasil exportou para a Venezuela mais de US$ 4,7 bilhões. As exportações venezuelanas ao mercado brasileiro somaram US$ 345 milhões.

Fonte: BBC Brasil

ONU 'lamenta' realização de eleição no Zimbábue

O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) disse lamentar profundamente a decisão do governo do Zimbábue de seguir em frente com a eleição presidencial no país, que foi realizada nesta sexta-feira.

O atual presidente, Robert Mugabe, tem a vitória garantida após o líder da oposição, Morgan Tsvangirai, ter boicotado o segundo turno da eleição.

A contagem dos votos está sendo realizada neste sábado.

O embaixador americano na ONU, Zalmay Khalilzad, leu uma declaração do CS que dizia que todos os integrantes "concordaram que não existiam condições para eleições livres e justas e que lamentavam que o pleito seguiu em frente nestas circunstâncias".

Por outro lado, o documento, que foi assinado por todos os 15 integrantes do conselho, incluindo África do Sul, China e Rússia, não delcarou a votação ilegítima por oposição da África do Sul.

Khalilzad acrescentou que o conselho vai voltar a discutir o assunto nos próximos dias.

"Nós já começamos as discussões com alguns colegas sobre uma resolução que imporia sanções apropriadas ao regime, considerando que as condições continuem iguais às registradas atualmente."

Porém, diplomatas disseram que a resistência de África do Sul, China e Rússia tornará difícil a aprovação de qualquer sanção contra o governo do Zimbábue.

Críticas da comunidade internacional

A União Européia e os Estados Unidos criticaram a votação desta sexta-feira e disseram que ela não tem sentido.

A Secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, afirmou que quer entrar com uma resolução no Conselho de Segurança da ONU na semana que vem para enviar uma mensagem de repreensão a Mugabe.

"Houve um sentimento forte... de que o que está acontecendo no Zimbábue é simplesmente inaceitável no século 21 e isto não pode ser ignorado pela comunidade internacional", afirmou Rice.

Ela acrescentou que os Estados Unidos vão fazer tudo para forçar a aprovação de sanções ao governo de Mugabe.

Ministros do Exterior do G8, reunidos no Japão, disseram que não podem aceitar a legitimidade de um governo no Zimbábue "que não reflita a vontade do povo zimbabuano".

Segundo o G8, violência, obstrução e intimidação tornaram uma eleição livre e justa no país impossível.

Já o presidente da comissão da União Africana, Jean Ping, disse que democracia e direitos humanos são valores compartilhados por todos os países do grupo e que os líderes africanos podem encontrar uma solução para os problemas do Zimbábue.

"Nós estamos aqui exercendo o papel de guardiães destes valores, então quando vemos que houve violações de alguns destes valores compartilhados, é nosso dever reagir e convocar alguns de nossos integrantes para resolver o problema", afirmou Ping no Egito, onde será realizada uma conferência da União Africana na semana que vem.

Mugabe deve participar da reunião e, de acordo com o correspondente da BBC em Johannesburgo, o presidente pretende declarar sua vitória antes de deixar o país para o Egito.

'Intimidação em massa'

O líder de oposição do Zimbábue, Morgan Tsvangirai, descreveu o segundo turno da eleição presidencial como um exercício de intimidação em massa.

"O que está acontecendo hoje (sexta-feira) não é uma eleição. É um exercício de intimidação em massa com as pessoas em todo o país sendo obrigadas a votar", afirmou.

Tsvangirai resolveu boicotar o pleito por causa da violência e da intimidação sofridas pelos seus partidários e descreveu a votação como uma simulação organizada por uma "ditadura desesperada".

"Felizmente, o zimbabuanos estão tentando ficar longe das urnas, pois eles podem diferenciar a democracia de uma ditadura desesperada pela ilusão de legitimidade", acrescentou.

Fonte: BBC Brasil

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Planta sobe montanha para fugir do calor

Com o aquecimento global, vegetais migraram, em média, 29,4 metros de altitude a mais por década entre 1995 e 2005

Das 171 espécies estudadas em áreas da França, 118 tiveram deslocamento para outras áreas mais altas e 53 diminuíram a sua elevação

As plantas estão fugindo do calor provocado pelo aquecimento do planeta. Um estudo com vegetais de montanha na França mostra que eles estão vivendo cada vez mais alto, na direção do frio -subiram em média 29,4 metros por década entre 1905 e 2005.
"O aspecto mais importante da nossa pesquisa é mostrar que a mudança climática está causando conseqüências significativas em um grande conjunto de espécies de plantas", declarou Jonathan Lenoir, em comunicado da revista "Science", que publica na edição de hoje o artigo descrevendo o estudo.
Lenoir, pesquisador do Laboratório de Estudo dos Recursos de Florestas e Bosques, de Nancy, França, e mais quatro colegas -incluindo um cientista chileno- analisaram dois grandes conjuntos de dados de plantas em regiões de montanha do país europeu.
Em entrevista coletiva por telefone, Pablo Marquet, da Pontifícia Universidade Católica do Chile, disse que o estudo demonstrou que não só as espécies estão se deslocando, mas que estão indo para toda parte, e que isso valeria também para outras regiões, "permitindo nos situar em meio a um mar de espécies em movimento".
Para Marquet, este é o primeiro trabalho que permite dizer com confiança que espécies de planta estão se movendo por conta do aquecimento global, e que foi possível demonstrar isso porque outros fatores de mudança que poderiam afetar a pesquisa -como o uso da terra, ou o perda de nitrogênio- foram controlados.
Foram selecionadas 171 espécies de planta, que incluíam desde árvores e arbustos até gramíneas. Para ter mais confiabilidade dos dados, Lenoir e colegas procuraram estudar as espécies mais comuns, deixando as mais raras ou sensíveis de lado. Apesar de existirem 2.853 espécies nas bases de dados, essas 171 representavam 62% do total de ocorrências.

Equador ou Antártida?
Que o aquecimento está afetando a distribuição de espécies de plantas e animais já é sabido. Mas, até agora, os estudos se restringiram mais a variações de calor devido à latitude (quanto mais uma espécie se afasta ou se aproxima do calor do equador ou do frio polar).
As plantas estudadas vivem em altitudes de zero metro a 2.600 metros. Os locais são seis cadeias de montanhas francesas -Alpes Ocidentais, Pirineus do Norte, Maciço Central, Jura Ocidental, Vosges e a cadeia da Córsega.
A mudança climática na França, escreveram os autores, se caracterizou no século 20 por aumento de temperatura acima da média mundial de 0,6C. Na região alpina, a média ficou em 0,9C e se aproximou de 1C desde os anos 1980.
Os autores da pesquisa tomaram cuidado em restringir as florestas nas quais as tendências de longo prazo teriam mais impacto, pois o dossel das árvores age como uma espécie de "zona-tampão" ao amenizar a variação de temperatura durante o ano. Em áreas mais abertas, a variação climática ao longo do ano e as práticas agrícolas causam um impacto maior na temperatura. Isso contribui para tornar as mudanças na distribuição de espécies sob o dossel uma boa indicação de tendências regionais.
Das 171 espécies, 118 tiveram deslocamento para maiores altitudes e 53 diminuíram a sua elevação ótima. A mudança tendeu a ser maior para espécies que estão restritas a habitats de montanha.

Fonte: Folha Ciência