Para Oraib Rantawi, diretor do Al-Quds, um dos mais importantes centros de estudos políticos do mundo árabe, "existe uma demanda crescente por autonomia em áreas curdas."
"Se isso continuar, poderemos ver problemas sérios entre as forças curdas e de outras etnias iraquianas, um confronto entre curdos e árabes, curdos e xiitas", disse Rantawi à BBC Brasil.
O comando militar americano no Iraque será transferido do general David Petraeus para o general de divisão, Raumond Odierno. O general Petraeus irá assumir a chefia do comando central para todas as operações militares no Oriente Médio, inclusive no Afeganistão.
Em entrevista à BBC, na semana passada, Petraeus alertou que os ganhos no país seriam "reversíveis". Rantawi concorda com a declaração do general.
Curdistão
O norte do Iraque, de maioria étnica curda, vive um regime de semi-autonomia desde o início da década de 1990 e foi relativamente pouco afetado pela invasão comandada pelos Estados Unidos de 2003.
Dos 275 integrantes da Assembléia iraquiana, 77 são curdos. Eles elegeram o líder curdo Jalal Talabani para a presidência da República, cargo simbólico no regime parlamentarista iraquiano.
Rantawi alerta, no entanto, que mesmo a participação curda na coalizão de governo está ameaçada.
"Tenho visto debates no parlamento curdo e crescem agora as vozes que querem a saída dos curdos do governo central e do processo político", disse ele à BBC Brasil.
"Essas vozes são favoráveis à anexação unilateral da cidade de Kirkuk e outras áreas disputadas. Se esse assunto não for resolvido politicamente, teremos problemas sérios no futuro. E muitos grupos vão usar essa disputa para benefícios próprios, da Al-Qaeda ao Irã", afirmou.
Violência
Rantawi destaca ainda que outro grande desafio - tanto para o novo comando militar quanto para o governo iraquiano, predominantemente xiita - é prosseguir no processo de integração de comunidades sunitas.
A violência no Iraque diminuiu substancialmente durante a gestão de Petraeus e um dos motivos reconhecidos para essa redução foi a cooptação de líderes tribais sunitas, que se juntaram aos americanos na luta contra os insurgentes da rede Al-Qaeda.
Desde o ano passado, os militares americanos passaram a armar e pagar salários a grupos sunitas.
"Os líderes tribais não são mercenários, mas parte da sociedade iraquiana. O desafio agora é como incluir essas pessoas. Os deixar desempregados, isolados na pobreza, isso pode causar um problema sério para a segurança, já que eles podem ser convencidos pela Al-Qaeda."
"Não acho que (o primeiro-ministro) Maliki tenha um plano claro para incluir esses sunitas, mas vejo que ele entende a necessidade disso. Temos visto sinais positivos, mas se vão ser bem-sucedidos, é outra historia", afirmou ele.
Além da aliança com líderes sunitas, outro motivo geralmente apontado para explicar a diminuição da violência no país foi o envio de cerca de 30 mil soldados americanos adicionais para as áreas mais turbulentas do país.
O analista afirma que, tanto quanto o número de homens, as táticas mais cautelosas dos soldados também ajudaram a manter baixos os níveis de violência.
"Nos últimos meses, não temos testemunhado ofensiva pesadas, como bombardeios contra cidades ou áreas urbanas, o tipo de situação que costuma gerar muitas mortes entre civis", afirmou.
De acordo com o analista, a transferência de poder no Iraque, de Petraeus para Odierno, não deve significar uma mudança significativa na estratégia do país.
"Esta é a primeira vez em cinco anos que se tem visto algum sucesso. Não creio que os pontos fundamentais vão mudar", disse.Fonte: BBC Brasil
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