quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Em alta, Lula 'decreta' fim da era neoliberal

Depois de ter acusado os países ricos de praticarem ''populismo nacionalista'' e de ter dito que o sistema financeiro mundial investiu em uma ''jogatina'' que resultou na atual turbulência econômica, Lula se despediu de Nova York e de sua temporada na Assembléia Geral da ONU, ''decretando'' o fim da era neoliberal.

Ao longo de sua estadia em Nova York, encerrada na quarta-feira, o presidente deu declarações que demonstraram a segurança de alguém cuja popularidade alcançou a marca recorde de 77,7% - de acordo com pesquisa do Instituto Sensus- e a confiança de um líder cujo país não foi fortemente atingido pelas mazelas econômicas que vêm assolando os Estados Unidos.

Lula disse acreditar que o período neoliberal ''está encerrado porque (a crise) demonstra que também no sistema financeiro é preciso ter seriedade, é preciso ter ética, não é apenas o cidadão comum que tem que ser ético''.

Os puxões de orelhas do líder brasileiro ao longo de sua estadia de três dias não se limitaram ao sistema financeiro. Lula também desferiu golpes contra os Estados Unidos e o presidente George W. Bush e ainda deu palpites na campanha eleitoral americana.

''O ideal é que os dois candidatos pudessem assinar uma carta ao povo americano, como a que eu assinei ao povo brasileiro em 2002, assumindo um compromisso para dar tranqüilidade ao povo americano e tranqüilidade para o mundo como um todo'', afirmou.

O presidente também procurou colocar o Brasil em um papel de protagonista no contexto internacional, capaz de exigir dos organismos multinacionais propostas para contornar a atual crise financeira.

''Eu cobrei do G8, cobrei do FMI e do Banco Mundial que estava na hora de eles se manifestarem, porque quando é um país pequeno que tem crise, todos eles dão palpite. Quando é a maior economia do mundo que entra em colapso, a gente não vê nenhum palpite deles.''

O último evento de Lula em Nova York foi uma reunião sobre a crise financeira mundial da qual participou como único representante da América Latina, ao lado de líderes como o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e o premiê espanhol, José Luiz Rodríguez Zapatero.

Repercussão

Se à primeira vista os comentários e ações do líder brasileiro poderiam dar a impressão de meras bravatas, a mídia americana tratou as observações de Lula com destaque e até reverência.

Para o New York Times, o discurso de Lula na abertura da cúpula da ONU, no qual o presidente afirmou que "o ônus da cobiça desenfreada não pode cair impunemente sobre todos" refletiu o tom do encontro.

O Wall Street Journal destacou que Lula defendeu a criação de um sistema que previna o sistema financeiro mundial de ser vítima de futuros abusos.

O jornal também definiu o presidente brasileiro como um ''defensor do meio termo entre capitalismo e socialismo'', e, em tom menos lisonjeiro, como um líder que ''anda em uma corda bamba entre as práticas da ortodoxia econômica e o financiamento de programas sociais populistas''.

Ao passo que a mídia dos Estados Unidos deu ouvidos aos comentários de Lula, o presidente também esteve atento ao pronunciamento do líder americano, George W. Bush, mas aproveitou para criticá-lo, devido ao pouco destaque que ele deu ao tema da crise econômica em seu discurso.

"Eu lamentei porque imaginei que o presidente Bush, já que é a ultima aparição dele na sede das Nações Unidas, faria um discurso de despedida, falando um pouco da crise econômica e o que o governo americano pretende fazer", afirmou.

O líder brasileiro ainda ironizou: ''Eu, como sou defensor da autodeterminação dos povos e da soberania dos discursos dos presidentes, fui obrigado então a ficar quieto".

Odebrecht

Enquanto Lula estava em Nova York, a empreiteira brasileira Odebrecht se viu envolvida em uma polêmica no Equador.

O governo do país sul-americano acusou a companhia de ter cometido falhas na construção e posterior paralisação da central hidrelétrica San Francisco - a segunda maior do país - construída pela empresa - e está exigindo o pagamento de uma indenização por parte da Odebrecht.

Ao contrário do tom dirigido aos Estados Unidos, para o vizinho sul-americano o presidente reservou um tom fraterno ou, como ele próprio comparou, uma postura de irmão mais velho.

''Não tem jeito. O Brasil tem o papel de ser cobrado, porque somos o maior. Você imagina na sua casa, com seus irmãos menores, quando você morava com três, quatro irmãos, você podia estar certo, mas eles ficavam te cobrando coisas'', afirmou.

Bom humor

O presidente não deixou também de fazer piada sobre as recentes descobertas de petróleo feitas no Brasil e os investimentos da Petrobras no setor, que deverão estar na ordem de US$ 112 bilhões de dólares entre 2008 e 2012.

De acordo com o presidente, as descobertas farão do presidente da empresa, José Sergio Gabrielli, o primeiro ''xeque brasileiro''.

Nos últimos dias, Lula ofereceu um retrato completamente distinto do presidente que era notoriamente avesso ao contato com a imprensa até o final de seu primeiro mandato.

Ele se mostrou bem-humorado no trato com os jornalistas e solícito em dar declarações, chegando a oferecer diariamente uma média de duas entrevistas coletivas - ainda que estas tenham sido realizadas no improviso, entre um evento e outro de sua apertada agenda e em plena calçada do hotel em que estava hospedado, o suntuoso Waldorf Astoria.

Lula retornou ao Brasil na quarta-feira à noite, onde deverá retomar a rotina dos últimos dias de subir ao palanque de diferentes candidatos governistas.

As pesquisas mais recentes mostraram também que o presidente é o melhor cabo eleitoral da política nacional, um motivo a mais para Lula estar dotado de tanto bom humor.

Fonte: BBC Brasil

FMI avalia custo da crise financeira em US$ 1,3 trilhão

O Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou hoje para US$ 1,3 trilhão o custo da crise financeira, após a turbulência recente, mais de 30% acima de seu cálculo anterior.

O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, divulgou o novo número em uma conferência na sede do organismo e seu "número dois", John Lipsky, depois explicou o número em discurso na Califórnia.

Lipsky disse que os bancos europeus e americanos perderam entre US$ 640 bilhões e US$ 735 bilhões devido à queda do valor de seus ativos, principalmente em dólares.

Ao acrescentar os prejuízos para outras instituições, de todo o sistema financeiro, as perdas subiram para US$ 1,3 trilhão, disse.

Em abril, o FMI tinha estimado o custo da crise em US$ 945 bilhões, equivalente a todo o Produto Interno Bruto (PIB) do México.

A crise financeira fez com que o FMI reduza "de forma modesta" suas perspectivas de crescimento mundial, mas esta "não impedirá em si mesma uma recuperação gradual" em 2009, disse Lipsky.

O arrefecimento econômico ocorre em todo o planeta, não só nos países avançados, disse, o que desmente a teoria de que as nações emergentes estavam de alguma forma isoladas das tribulações financeiras.

Lipsky também alertou sobre as repercussões da queda do setor imobiliário no Reino Unido, República da Irlanda e Espanha para seus próprios sistemas financeiros.

Nos Estados Unidos, há alguns sinais de desaceleração na redução dos preços dos imóveis, mas Lipsky insistiu em que a crise ainda não terminou.

São Paulo: para Lula, os efeitos da crise serão "quase imperceptíveis" no Brasil

"A crise? Perguntem a Bush, é a dele, não a minha!" O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, fustiga a um só tempo os Estados Unidos, por causa da "lentidão" da sua reação, os bancos, "essas instituições que adoram dar lições estão indo à falência", e "o cassino do sistema financeiro internacional, onde alguns apostaram na roleta e perderam". Mas, tratando-se do seu país, ele busca mostrar-se tranqüilizador: "Nós não permitiremos que o Brasil seja vítima desses jogos de azar". Entretanto, ele se mostra sem dúvida um pouco otimista demais quando prevê que os efeitos da crise serão "quase imperceptíveis" no Brasil.

De fato, a Bolsa e a moeda foram atingidas em cheio pela tempestade financeira. Em São Paulo, a maior praça financeira de América Latina conheceu as suas piores jornadas desde 11 de setembro de 2001. O seu principal indicador, o índice Ibovespa, sofreu uma dura queda antes de recuperar, cinco dias mais tarde, o seu nível anterior. A moeda, o real, viu acelerar-se a sua tendência à queda em relação ao dólar, que havia sido iniciada algumas semanas atrás. A divisa brasileira perdeu todos os ganhos que haviam sido acumulados desde janeiro.

Por sua vez, o movimento de "io-iô" da Bolsa não chegou a ser tão dramático. Os índices de mercado não paravam de subir desde 2004. Os seus progressos registravam o bom desempenho da economia. O índice Bovespa havia alcançado um nível recorde em maio, mas acabou sofrendo uma queda de 30%. Um grande número de valores, que até então vinham sendo artificialmente valorizados pela euforia do mercado local, estava e continua sendo excessivo. Na opinião de muitos especialistas, a crise atual oferece a oportunidade para se operar uma correção salutar dessas distorções. A Bolsa está procedendo a uma "limpeza" de si mesma. Ao apurar seus valores, ela faz com que os seus atores possam consolidar suas posições. Uma vez que as empresas cotadas, em sua maioria, apresentam uma boa saúde e se mostram resistentes, o mercado deverá recuperar aos poucos um novo vigor.

Em contrapartida, a fragilidade da moeda revela ser mais preocupante. Não faltavam aqueles que a consideravam como excessivamente valorizada, mas hoje, os mesmos lamentam a maneira como ela desmoronou, vitimada por uma fuga dos capitais. Obrigados a retirarem os ganhos obtidos no Brasil para cobrirem suas perdas em outras praças, os investidores provocaram de fato uma forte queda do real.

Este ataque evidenciou a vulnerabilidade do Brasil, que se tornou muito dependente das movimentações dos fundos especulativos no curto prazo. As quantias movimentadas por esses fundos representam o triplo do montante, ainda que muito confortável - de US$ 208 bilhões (R$ 374 bilhões) -, das reservas em divisas do país.

O crescimento do PIB havia alcançado 5,4% em 2007. Com uma projeção de crescimento de 4,6% em 2008, o produto interno bruto deverá alcançar um teto situado entre 3% e 3,5% em 2009. Essa queda deverá ocorrer se, conforme alguns observadores brasileiros estão temendo, a contração do comércio mundial provocar uma diminuição da demanda das matérias-primas e dos produtos agrícolas, e consequentemente dos seus preços.

O Brasil ampliou o leque dos seus clientes. Os Estados Unidos hoje não absorvem mais do que 14% das suas vendas, contra 24% em 2000, isso porque a China aumentou consideravelmente a sua participação (11%). Contudo, os Estados Unidos e a Europa ainda compram cerca da metade das exportações brasileiras. Caso esses dois "clientes" viessem a sofrer uma quase-recessão em seus mercados, isso prejudicaria forçosamente a balança comercial brasileira. Por enquanto, a maior parte dos especialistas segue acreditando na manutenção de uma demanda sustentada dos produtos agrícolas.

O bom comportamento dos indicadores fundamentais da sua economia justifica o prudente otimismo dos brasileiros. A inflação permanece contida por volta de 4,5%. Promovido ao status de "país seguro" pelos investidores, o Brasil tornou-se "credor" desde que as suas reservas superaram o montante da sua dívida externa pública e privada. Por sua vez, o crédito interno deverá sem dúvida sofrer um aperto, mas os bancos brasileiros apresentam uma boa saúde. A sua prosperidade reflete um dinamismo interno que vem sendo alimentado pelos investimentos das empresas e pelo consumo das famílias.

Fonte: UOL/Le Monde

Wolf: por que o plano de Paulson não foi uma verdadeira solução para a crise

Tempos desesperados pedem por medidas desesperadas. Mas é preciso não esquecer que decisões tomadas às pressas podem moldar o sistema financeiro por uma geração. A velocidade é essencial. Mas é igualmente essencial fazer com que qualquer novo regime seja certo.

Sem dúvida, a crise há muito passou do ponto em que os governos poderiam deixar o setor privado salvar a si mesmo, apenas com uma pequena ajuda dos bancos centrais. Para os Estados Unidos, o resgate do Bear Stearns foi o momento em que essa opção evaporou. Mas os eventos das últimas duas semanas e meia - os resgates do Fannie Mae e Freddie Mac, a falência do Lehman Brothers, a venda do Merrill Lynch, o resgate do AIG, a fuga para segurança nos mercados e as decisões do Morgan Stanley e Goldman Sachs de se tornarem holdings bancárias reguladas - tornaram inevitável uma solução abrangente.

A opinião pública americana espera ação. A pergunta é se obterá a ação certa. Para responder isso, nós devemos determinar qual é o desafio do sistema financeiro americano e qual o critério para julgar como deve ser tratado.

E qual é o desafio? A resposta dada por Hank Paulson, o ativo secretário do Tesouro americano, ao anunciar na última sexta-feira seu "programa de ajuda aos ativos problemáticos", é que "por trás da fraqueza de nosso sistema financeiro atual estão os ativos hipotecários sem liquidez que perderam valor com o andamento do ajuste dos preços dos imóveis. Estes ativos sem liquidez estão sufocando o fluxo de crédito que é tão vital para nossa economia". O principal desafio, então, é considerado a falta de liquidez, não a insolvência. Ao criar um mercado para os ativos pobres, Paulson espera deter a espiral de queda de preços e falências.

Eu sugiro olharmos os eventos de forma mais ampla. A dívida americana saltou de meros 163% do produto interno bruto, em 1980, para 346%, em 2007. Apenas dois setores da economia foram responsáveis por este aumento imenso na alavancagem: os lares, cujo endividamento saltou de 50% do PIB, em 1980, para 71%, em 2000, e 100%, em 2007; e o setor financeiro, cujo endividamento saltou de apenas 21% do PIB, em 1980, para 83%, em 2000, e 116%, em 2007. Os balancetes do setor financeiro explodiram, assim como a lucratividade teórica do setor. Mas a alavancagem funciona dos dois modos.

Como as obrigações líquidas americanas para com o restante do mundo eram de apenas 17% do PIB no final de 2007, virtualmente toda esta dívida é um ativo de outra entidade doméstica e resulta em quase nada. Mas quando a dívida bruta é imensa e as condições econômicas são difíceis, as chances de muitas entidades falirem é alta. Quando as pessoas temem insolvência em massa, os emprestadores deixam de emprestar e os endividados param de gastar. O resultado pode ser a "deflação de dívida", descrita pelo economista americano Irving Fisher, em 1933, e vivenciada pelo Japão nos anos 90.

Dada a recente explosão em alavancagem, o desafio dificilmente é um de apenas preços errados de ativos hipotecários tóxicos. Muitas pessoas e instituições fizeram apostas alavancadas que agora azedaram. A dívida delas não pode ser paga. Os credores estão respondendo de acordo.

Agora, vamos ao critério a ser usado para julgar a intervenção. Primeiro, ele lidaria com a ameaça sistêmica. Segundo, minimizaria os danos aos incentivos. Terceiro, ocorreria com custo e risco mínimos para o contribuinte. Além disso, seria consistente com as idéias de justiça social.

O problema fundamental com o esquema de Paulson, da forma como foi proposto, é que não é nem necessário e nem uma solução eficiente. Não é necessário, porque o Federal Reserve (o banco central americano) é capaz de administrar a falta de liquidez por meio de suas muitas operações de emprestador de último recurso. Não é eficiente, porque só pode lidar com a insolvência por meio da compra de ativos podres por um preço muito acima de seu valor verdadeiro, garantindo assim grandes perdas para os contribuintes e fornecendo um resgate ilimitado aos investidores mais irresponsáveis.

Além disso, esses ativos não têm liquidez precisamente por serem muito difíceis de avaliar. O governo corre o risco de encontrar seus cofres repletos de quantidades imensas de títulos podres acima do preço mesmo tentando o contrário. Também são questionáveis os poderes ilimitados para o Tesouro, apesar de mais no propósito do que nos fundamentos. Um fundo desses deve ser operado profissionalmente, sob supervisão independente. Finalmente, se o governo americano for resgatar investidores incompetentes, ele certamente deve também fornecer ajuda aos mutuários pobres e frequentemente desinformados.

Mas, acima de tudo, um esquema para lidar com a crise deve ser capaz de consertar a descapitalização que se avulta no sistema financeiro do modo mais focado possível.

A forma mais simples de recapitalizar as instituições é as forçando a aumentar o patrimônio e suspender os dividendos. Se isso não funcionar, poderia haver conversões forçadas de dívida em patrimônio. A atração da troca dívida-patrimônio é de que criariam perdas aos credores, o que é essencial para a saúde a longo prazo de qualquer sistema financeiro.

A vantagem desses esquemas é que não exigiriam nenhum centavo de dinheiro público. O revés é que provocariam perturbação e seriam altamente impopulares: as instituições bancárias teriam de ser avaliadas, um momento em que as entidades subcapitalizadas teriam de adotar uma das formas de melhorar suas posições de capital.

Se, como parece plausível, um esquema que imponha tamanha dor ao sistema financeiro for veementemente rejeitado, a próxima melhor alternativa seria a injeção, pelo governo, de ações preferenciais nas instituições descapitalizadas, segundo a proposta de Charles Calomiris, da Universidade de Columbia. Isso seria um resgate, mas um que restringiria o comportamento dos beneficiários, e não um pagamento de dividendos. Isso seria muito melhor do que despejar benefícios aos indignos, por meio da compra em massa de papéis podres valorizados além do preço.

Então o que eu concluo? Sim, pode haver espaço para intervenção no mercado de ativos pobres. Mas esta é uma forma cara e ineficaz de resolver o profundo desafio atual. O que é necessário, ainda mais, é uma forma clara e eficaz de desalavancar e recapitalizar o setor financeiro, idealmente sem o uso de dinheiro do contribuinte. Se esse dinheiro for usado, ele também deve ser injetado da forma mais cuidadosa e controlada possível. Uma ação abrangente é essencial, como decidiu Paulson. Mas deixem que os Estados Unidos não tenham pressa para que possa acertar nessa ação abrangente.

Fonte: UOL/Financial Times

Demanda do etanol no país vai crescer 150% em dez anos, diz EPE

Para presidente da empresa, etanol é 'jóia da coroa', ao lado do pré-sal.
Investimentos para atender a demanda chegarão a US$ 25 bilhões.

O Brasil vai viver um "boom" de etanol nos próximos dez anos, quando a demanda pelo produto vai crescer 150%, passando de 25,5 bilhões de litros, em 2008, para 63,9 bilhões de litros, em 2017.

Para atender a demanda, serão necessárias 246 novas usinas, sendo que 46% já estão em construção, e um investimento de US$ 20 bilhões a US$ 25 bilhões. O cenário foi traçado nesta quarta-feira (24) pelo presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, que classificou o etanol como uma "jóia da coroa", ao lado do pré-sal.

"O Brasil está caminhando para ser uma potência do ponto de vista energético porque tem o pré-sal que vai tornar o Brasil um grande exportador de petróleo e o etanol que faz dele um exportador e um produtor de combustíveis limpos. Então, sem dúvida alguma, o etanol é uma ‘jóia da coroa’, ao lado do pré-sal", ressaltou.

Aumento da frota

De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia, mais 14 milhões de veículos serão adicionados à frota brasileira em dez anos. E, se hoje 30% da frota de 23,2 milhões de veículos são de carros flex, a projeção é que esse índice chegue a 73% de 37 milhões de veículos em 2017.

"O flex fuel dá poder ao consumidor. Hoje, ele vai na bomba e escolhe se vai botar etanol ou gasolina. Hoje, 75% desse conjunto de carros flex fuel abastecem com etanol. Só 25% escolhem gasolina", explica Tolmasquim.

A perspectiva é que, em 2017, 80% de todos veículos de passeio serão abastecidos por etanol. Para que abastecer com álcool seja vantajoso para o consumidor, é necessário que o preço do litro custe até 70% do preço da gasolina. A média nacional hoje, segundo a EPE, é de 59%.

Crescimento 'forte'

"A perspectiva de crescimento da demanda é muito forte. O etanol é muito atrativo para o investidor. Mesmo o barril de petróleo chegando a US$ 75, que é o piso que nós acreditamos que pode chegar, o etanol ainda é competitivo. Portanto, eu acredito que haverá muito investimento e que essa crise internacional não afetará essa perspectiva boa de expansão", explicou.

Já quanto à exportação, a expectativa é que o volume negociado com outros mercados duplique nos próximos dez anos, passando dos atuais 4,2 bilhões para 8,3 bilhões de litros em 2017. Nesse cenário, os Estados Unidos, hoje o principal comprador, perderão espaço para o Japão, cuja demanda pelo etanol deve representar 36,2% das exportações.

Fonte: G1

Júpiter é 'grande jazida' de gás natural e petróleo leve, diz Petrobras

Poço está localizado na área pré-sal, em águas profundas.
Perfuração confirmou descoberta anunciada em 21 de janeiro de 2008.

A Petrobras divulgou nota nesta quarta-feira (24) confirmando a conclusão da perfuração do poço de Júpiter, na Bacia de Santos. Segundo a empresa, trata-se de uma "grande jazida" de gás natural e óleo leve em águas ultraprofundas da áreas conhecida como pré-sal.

O consórcio de exploração do poço é formado pela companhia (80%), com participação de 20% da Galp Energia. A petrolífera anunciou que essa perfuração confirmou a descoberta anunciada em 21 de janeiro de 2008.

Conforme comunicado da empresa, o poço está localizado a 290 quilômetros da costa do Rio de Janeiro e a 37 quilômetros da área do poço de Tupi, em profundidade de 2.187 metros. A profundidade total atingida na perfuração, informou a empresa, foi de 5.773 metros. Segundo a Petrobras, a prospecção garantiu que várias amostras de petróleo fossem coletadas.

A descoberta de Júpiter foi comunicada à Agência Nacional de Petróleo (ANP) nesta quarta-feira. Conforme nota da Petrobras, a estimativa dos volumes de gás e óleo será possível somente depois de análise das amostras já retiradas e da perfuração de novos poços.

Fonte: G1

Equador ameaça não pagar BNDES por hidrelétrica

O presidente do Equador, Rafael Correa, ameaçou nesta quarta-feira não pagar o empréstimo de mais de US$ 200 milhões concedido pelo BNDES para o financiamento das obras da central hidrelétrica equatoriana de San Francisco.

A obra, que apresentou falhas na execução, é o pivô de uma crise entre o governo equatoriano e a construtora brasileira Odebrecht.

"Nós estamos pensando seriamente em não pagar o crédito do BNDES (...) que foi concedido por meio da Odebrecht para construção da hidrelétrica", declarou Correa durante uma entrevista a uma TV local.

"Ainda mais um empréstimo de centenas de milhões de dólares, de mais de US$ 200 milhões, para um projeto que não presta", acrescentou.

Correa questionou o fato de o empréstimo ter sido direcionado diretamente à construtora, mas que "legalmente" consta como dívida interna do Equador com o Brasil. “É um dinheiro que nem entra no país”, disse.

“Terrível”

Nesta terça-feira, Correa ordenou o confisco dos bens da Odebrecht e a expulsão da construtora do país depois de um desentendimento em um acordo no qual o Estado exigia o pagamento de uma indenização de US$ 43 milhões em conseqüência das falhas apresentadas na obra.

O presidente equatoriano disse que a crise com a Odebrecht não deverá afetar as relações bilaterais com o Brasil.

"Não acredito que haja repercussões internacionais (...) Eu gosto muito do Brasil, mas o que essa empresa fez no Equador é terrível", afirmou.

De acordo com o governo, a San Francisco deixou de funcionar um ano depois de serem concluídas as obras e está paralisada desde seis de junho, quando técnicos apontaram falhas estruturais na construção.

A hidrelétrica é a segunda maior do país, e sua paralisação estaria colocando em risco o abastecimento de energia no Equador.

Proposta

A construtora Odebrecht disse, por meio de um comunicado, ter uma proposta "altamente positiva para o governo equatoriano", em que resguarda as possíveis perdas da Hidropastaza, proprietária da central hidrelétrica.

A empreiteira afirma estar disposta a pagar uma garantia de US$ 43 milhões exigida pelo Estado e contratar "uma auditoria internacional independente a fim de determinar as responsabilidades das partes envolvidas no projeto".

A construtora disse estar disposta a pagar os trabalhos imediatos de recuperação da central hidrelétrica, "independentemente do resultado da auditoria" e "estender a garantia da obra".

Em entrevista a uma rádio equatoriana, o ministro de Setores Estratégicos, Derlis Palacios disse que "todas as instâncias" de diálogo "foram esgotadas" entre o governo e a empresa, e que o acordo vinha se arrastando havia dois meses.

Palacios disse que a Odebrecht "não voltará" ao país.

"O Equador se cansou desta empresa, se cansou que manipule os organismos de controle", afirmou o ministro. "Tem que haver um novo futuro para a contratação pública no país."

Fonte: BBC Brasil

Dilma: com pré-sal Brasil elimina pobres em 18 anos

A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) reuniu-se com diretores da Caixa Econômica Federal num hotel de Brasília.

Deu-se nesta quarta (24). A preferida de Lula para 2010 discursou. Disse que o dinheiro do pré-sal vai ajudar o Brasil a erradicar a pobreza em menos de 18 anos.

Disse que, valendo-se de programas já existentes –“Bolsa Família”, “infra-estrutura” e “educação”—o país eliminaria “definitivamente” a miséria num prazo de 15 a 18 anos.

Mas o dinheiro resultante da exploração comercial do petróleo armazenado em águas profundas será usado, segundo Dilma, ‘para encurtar o processo.”

Curioso. A própria Petrobras reconhece que as plataformas encomendadas para extrair óleo e gás do pr-e-sal só estarão operando em capacidade plena no ano da graça de 2017.

Ou a ministra dispõe de informação privilegiada, ainda desconhecida da platéia, ou terá de explicar melhor o que a faz discorrer com tanta proficiência sobre uma verba que só estará disponível no final do mandato do sucessor do sucessor de Lula.

Dilma falou também sobre a crise que rói os pilares de Wall Street e faz estremecer os mercados do mundo.

Repisou a cantilena de que a economia brasileira, por "forte e robusta", está preparada para arrostar os efeitos da turbulência.

Ecoando Lula, Dilma voltou no tempo, estacionando na era FHC: “Vivemos um momento extraordinariamente diferente do de crises anteriores — da crise da Rússia, da Ásia e da Argentina — nas quais o Brasil também esteve mergulhado.”

acha que a crise americana não pode ser motivo, no Brasil, de "desconfiança". Comparou a CEF às instituições que financiam casas próprias nos EUA:

“Não se pode dizer que uma instituição como a Caixa não tenha recursos para investir. Isso não ocorre, no Brasil, e não ocorrerá...”

“Os bancos, as instituições financeiras [nos EUA] têm seus problemas, mas não são iguais à Caixa...”

“A Caixa tem outro tipo de intervenção na área da construção civil e da construção de moradias e na coordenação de projetos governamentais na área de saneamento.”

De resto, previu que o PIB brasileiro, em alta, está a salvo. Disse que o país expetrimenta “um processo de crescimento que veio para ficar.”

Fez, por último, uma concessão à realidade. Disse que as avaliações de Brasília sobre a crise "não significam que o governo esteja de olhos fechados."

Admitiu que a situação no mercado internacional precise ser monitorada. Ah, bom!


Fonte: Folha de São Paulo

Brasil sobe para quarto lugar em atração de capital em 2007, diz Unctad

Em 2006, país havia ficado com a 8ª colocação entre os emergentes.
Brasil recebeu US$ 34 bilhões no ano passado.

O Brasil saltou da oitava para a quarta posição, de 2006 para 2007, no recebimento de investimentos estrangeiros diretos (IED) em economias emergentes. A informação consta do relatório de 2008 elaborado pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês), divulgado nesta quarta (24) simultaneamente em 60 países.

(Aviso sobre chamada errada: o G1 chamou na manchete da Primeira Página, por cerca de dez minutos, por volta das 14h50, uma outra reportagem, errada, que informava que o Brasil era o quinto nesse ranking de investimentos. A informação correta é a que está nesta notícia: o Brasil é o quarto.)

No Brasil, o documento foi publicado pela Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet). No relatório anterior da Unctad, antes da atualização dos dados consolidados, o Brasil estava na quinta posição em 2007.

Ranking

Nos dois anos em questão (2006 e 2007), a China liderou a atração de IED, com US$ 72,7 bilhões e US$ 83,5 bilhões, respectivamente. O segundo posto foi mantido por Hong Kong, que recebeu US$ 45,1 bilhões (2006) e US$ 59,9 bilhões (2007). A terceira posição ficou com a Rússia (US$ 32,4 bilhões, em 2006, e US$ 52,5 bilhões, em 2007). Já a quarta posição, que era de Cingapura em 2006 (US$ 24,7 bilhões), passou para o Brasil (US$ 34,6 bilhões) em 2007.

Em 2006, quando estava em oitavo lugar, o Brasil havia recebido um total de US$ 18,8 bilhões de investimentos externos diretos. "No ranking dos 10 principais pólos emergentes de atração de IED de 2007, o Brasil superou México, Índia, Turquia e Cingapura", constatou o presidente da Sobeet, Luís Afonso Lima.

O IED para o Brasil cresceu 83,7% de 2006 para 2007, taxa quase três vezes maior do que a expansão dos investimentos no mundo, ainda segundo o levantamento. "Com este recorde, o Brasil ultrapassa outras economias emergentes latinas na obtenção de recursos externos, como Chile e México, e asiáticas, como Turquia, Coréia e Índia", salientou Lima.

Concentração

No ano passado, o pólo de atração dos investimentos ficou mais concentrado nas economias desenvolvidas (68,1% do total), com destaque para Europa (46,3%) e a América do Norte (18,6%). As economias em desenvolvimento obtiveram 27,3% do total, enquanto as em fase de transição, 4,7%. No caso da América Latina, a região obteve 6,9% do total, com o Brasil registrando fatia de 1,9%; Argentina, de 0,3%; Chile, de 0,8%, e México, de 1,3%.

Segundo os dados do relatório analisados pela equipe da Sobeet, o IED para as economias em desenvolvimento subiu 21% de 2006 para 2007, atingindo um total de US$ 500 bilhões. "Estes investimentos foram, em parte, direcionados para setores ligados a commodities, com preços em alta." Destes recursos, cerca de 65% tiveram a Ásia como destino; 25% a América Latina e 10%, a África.

Fluxo global

O fluxo de IED aumentou 29,9% no globo, de 2006 para 2007, atingindo o recorde de US$ 1,833 trilhão e colaborou para que o estoque total de investimentos dessa natureza alcançasse US$ 15 trilhões.

O levantamento da Unctad revelou ainda que o faturamento de empresas transnacionais foi de US$ 31 trilhões, o que significa uma expansão de 23% no ano passado em relação a 2006. O número de empregos nessas empresas superou 82 milhões, distribuídos em 790 mil filiais.

Fonte: G1

Governo estuda doar 4% da Amazônia a posseiros

Se aprovado, projeto beneficiará quase 284 mil atuais ocupantes de terras de até 4 km2.

Pesquisador do Imazon diz que, ao doar terras, União abriria mão de patrimônio de R$ 2,1 bi, mesmo sem considerar valor de mercado.

O governo estuda a doação de terras da União de até 4 km2 hoje ocupadas por posseiros na Amazônia Legal. O "rito sumário" de regularização fundiária, caso aprovado, beneficiará quase 284 mil posseiros e alcançará uma área equivalente a 4% de toda a Amazônia, ou pouco mais de duas vezes o Estado de Pernambuco, segundo cálculo do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
A proposta foi apresentada ao presidente Lula duas semanas atrás, com o apoio de ministros e governadores. Lula deu prazo até novembro para definir mudanças nas regras de titulação de terras.
A regularização fundiária é a prioridade do PAS (Plano Amazônia Sustentável). Embora a grilagem de terras na região seja um problema com dimensões muito maiores, o alvo da regularização fundiária é, por ora, um território de quase três vezes o Estado de São Paulo ou 13% da Amazônia Legal, constituído por terras da União ainda não destinadas a unidades de conservação ou a terras indígenas, por exemplo.
De acordo com a proposta em análise na Casa Civil, as novas regras permitiriam regularizar em dois anos, já a partir de 2009, todas as posses de até quatro módulos fiscais (entre dois e quatro quilômetros quadrados, dependendo da cidade) localizadas em 436 municípios de nove Estados da Amazônia Legal. Pará, Amazonas e Rondônia são os Estados com o maior número de posseiros ocupando terras da União.
"Muitas dessas pessoas foram parar na Amazônia na época do "Brasil ame-o ou deixe-o". A maioria não tem nenhuma documentação", disse Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário), numa referência à estratégia de ocupação da Amazônia dos governos militares. "Os projetos nunca deram certo, as pessoas foram jogadas lá, sob uma enorme instabilidade jurídica", completou.
O documento intitulado "Terra Legal: regularização fundiária acelerada na Amazônia Legal", a que a Folha teve acesso, aponta o atual conjunto de regras que tratam da titulação de terras -nove leis e dois decretos- como um entrave ao processo. "Mantidas as normativas atuais, seriam necessários 40 anos de trabalho [para a regularização]", diz o texto.
Atualmente, a legislação exige a vistoria dos imóveis a serem regularizados e a localização geográfica com precisão de 50 centímetros, além de processo administrativo para a verificar os requisitos da legitimação da posse. Também é cobrado o valor histórico de posses (da época da ocupação) até 100 hectares e o valor de mercado para posses entre 101 hectares e quatro módulos fiscais. Lula sancionou lei que dispensa licitação para venda de posses de até 15 módulos fiscais.
A doação de terras de até quatro módulos ou a cobrança só de valor histórico entre 101 hectares e quatro módulos exige mudança das leis. Não está definido se as mudanças serão feitas por medida provisória.
Coordenador do estudo "Quem é dono da Amazônia", o pesquisador do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) Paulo Barreto calcula que, ao doar as terras, o governo abriria mão de um patrimônio de R$ 2,1 bilhões, mesmo sem considerar os preços de mercado.
O rito acelerado de regularização em análise no Planalto prevê a convocação dos posseiros por edital. Eles devem preencher um cadastro (informando o tempo de ocupação, a atividade econômica desenvolvida, o tamanho e a localização do imóvel) e tirar uma foto.
O tempo previsto para a emissão de título de propriedade do imóvel é de apenas 60 dias após o preenchimento do cadastro. A vistoria é abolida. E empresas contratadas farão o georeferenciamento dos imóveis num prazo de 30 dias. Esse também é o prazo previsto para a análise dos processos das pequenas propriedades.
Nas posses entre 4 e 15 módulos rurais, o prazo para a emissão de títulos é de 90 dias. Nesse caso, haverá vistoria do imóvel, e o título de propriedade será emitido mediante pagamento do valor de mercado.
Posses com mais de 15 módulos rurais só poderão ser vendidas por meio de licitação e até o limite de 25 módulos rurais. Acima desse limite, os imóveis serão retomados pela União, conforme já prevê a lei.

Fonte:Folha de São Paulo

Projeto busca plantas à prova de mudanças climáticas

Um projeto de âmbito global começou a procurar por plantas que tenham características que as ajudem a resistir a mudanças climáticas para, assim, desenvolver colheitas capazes de suportar o aquecimento global.

Coordenado pela organização Global Crop Diversity Trust, o projeto de US$ 1,5 milhão está realizando buscas em bancos nacionais de sementes para encontrar variedades "à prova do clima" de vários produtos, entre eles milho e arroz.

A equipe busca sementes que sejam resistentes a eventos extremos, como enchentes, secas ou mudanças constantes de temperatura.

Os pesquisadores esperam que essas variedades ajudem a proteger a produção de alimentos do impacto das mudanças climáticas.

Segundo a Global Crop Diversity Trust, a falta de material preciso e disponível prejudica os esforços de produtores para identificar o que pode ser usado para desenvolver variedades que possam resistir a condições futuras.

"Nossas plantações devem produzir mais alimento, na mesma quantidade de terra e com menos água", disse o diretor organização, Cary Fowler.

"Não há um cenário possível no qual nós possamos continuar a produzir os alimentos que precisamos sem diversidade", afirmou.

Acesso aberto

O projeto representa o mais recente estágio de um plano mais amplo da organização para conservar a variedade de plantas produzidas ao redor do mundo.

Nos últimos anos, a organização realizou uma série de encontros com especialistas na produção de alimentos básicos como trigo, arroz, lentilha e milho, com o objetivo de identificar a melhor estratégia de conservação para cada produto.

"Esses especialistas nos ajudaram a identificar quais são as mais importantes coleções de sementes em termos de diversidade genética", disse Fowler à BBC.

A informação ajudou a organização a estabelecer quais características são necessárias para que as espécies tenham as melhores chances de sobreviver no futuro.

Fowler disse que um exemplo é quando uma planta mostra um bom nível de resistência ao calor durante o período de florescimento - um estágio no qual a planta passa por mais estresse -, mas para o qual havia pouca informação.

Banco de dados

Nos próximos 24 meses, os pesquisadores esperam construir um perfil completo das várias características "resistentes ao clima" e em quais plantas elas podem ser encontradas.

"Depois disso, teremos de usar as variedades que têm essas características em programas de produção", afirmou Fowler.

Ele disse que os dados estarão disponíveis para todos - organizações públicas e privadas - em um banco de dados online.

"Os produtores poderão acessar esse banco de dados e colocar o critério de busca, daí eles receberão os detalhes de amostras que batem com as suas exigências, como resistência à seca e ao calor", afirmou.

Desenvolver plantas que produzirão mais alimentos e poderão lidar melhor com as mudanças climáticas é um caminho também seguido pelo setor de biotecnologia e grupos a favor da produção de alimentos modificados geneticamente.

Questionado sobre a possibilidade de o projeto ser usado por esses grupos, Fowler afirmou que ninguém sabe exatamente o que será necessário em 100 ou 500 anos em termos de produção agrícola e que a melhor alternativa agora é manter todas as opções possíveis.

Fonte: BBC Brasil

Dívida pública sobe 1,6% em agosto, para R$ 1,31 trilhão

Apropriação de juros e emissão elevaram dívida interna, diz Tesouro.
Subida do dólar, por sua vez, aumentou o nível da dívida externa.

A dívida pública federal apresentou crescimento de 1,66% em agosto deste ano, para R$ 1,31 trilhão, segundo informou nesta quarta-feira (24) a Secretaria do Tesouro Nacional. Em julho, a dívida estava em R$ 1,29 trilhão.

O Tesouro Nacional informou que o aumento da dívida pública no mês passado se deve à emissão líquida (acima dos resgates) no valor de R$ 6,1 bilhões em títulos públicos no mercado interno, além da apropriação de R$ 12,6 bilhões em juros. Com isso, a dívida pública interna avançou 1,5% no período, para R$ 1,22 trilhão.

No caso da dívida externa, a subida do dólar também aumentou o endividamento brasileiro, segundo informou a instituição. Por conta principalmente deste fator, a dívida externa pública subiu de R$ 93,5 bilhões, em julho, para R$ 96,3 bilhões no mês passado. A dívida externa é cotada em dólares. Quando sobe a moeda norte-americana, também avança o nível do endividamento.

Composição da dívida

Em agosto, a parte da dívida interna atrelada à variação da taxa de juros voltou a subir, atingindo R$ 487 bilhões, ou 39,8% do endividamento total, contra R$ 477 bilhões em julho, ou 39,6%. Desde que o Banco Central começou a subir os juros para tentar conter o crescimento da inflação, este tipo de papel tem sido mais demandado - uma vez que eles são corrigidos pela taxa Selic.

No caso da dívida prefixada, ou seja, que tem a correção determinada no momento do leilão, a Secretaria do Tesouro Nacional informa que também houve elevação em agosto, quando somou R$ 384 bilhões, ou 31,4% do endividamento total. Em julho, o patamar desta dívida estava em R$ 371 bilhões, ou 30,8%. Apesar do pequeno aumento em agosto, o nível ainda está abaixo de meses anteriores (chegou a 37% em dezembro do ano passado).

Já a dívida atrelada à inflação somou R$ 356 bilhões, ou 29,1% do total, em agosto deste ano, contra R$ 354 bilhões, ou 29,4% do total, em julho deste ano.

Fonte: G1

Crise com Odebrecht será 'resolvida nos próximos dias', diz Amorim

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse acreditar que o embargo do governo do Equador aos bens da empresa brasileira Odebrecht e a proibição de que funcionários da companhia saiam do país será ''discutida e resolvida'' nos próximos dias.

O presidente do Equador, Rafael Correa, ordenou, através de um decreto, o embargo dos bens da Odebrecht e proibiu que funcionários da empresa deixem o Equador.

De acordo com o ministro equatoriano de Setores Estratégicos, Derlis Palacios, a medida significa a expulsão da empresa do país.

O governo equatoriano exige o pagamento de uma indenização por parte da empresa devido a falhas no funcionamento e da posterior paralisação da central hidrelétrica San Francisco, construída pela empreiteira.

Correa ordenou a militarização imediata das obras que estão sob responsabilidade da Odebrecht, entre elas uma outra hidrelétrica, uma rodovia e um aeroporto.

Há uma semana, o presidente equatoriano chegou a ameaçar expulsar a empresa se não fosse paga a indenização exigida pelo Estado e disse que a empreiteira está sendo investigada por suposta corrupção. De acordo com Correa, algumas obras da construtora foram realizadas "com um terço de capacidade e o triplo de custo".

"Estou 'por aqui' com a Odebrecht, quanto mais cavo mais lama encontro (...) Estes senhores (da construtora) foram corruptos e corruptores, compraram funcionários do Estado. O que está sendo feito é um assalto ao país", afirmou.

Foram gastos na construção da hidrelétrica US$ 338 milhões, com uma capacidade estimada de geração de 12% do total da energia elétrica consumida no país. A hidrelétrica é a segunda maior do país e está fechada desde junho deste ano.

''Achamos que a Odebrecht é uma grande companhia, obviamente não podemos pré-julgar todas as reclamações do governo do Equador'', afirmou o chanceler Amorim.

Em um comunicado, a empresa afirmou que, até o momento, "os trabalhos prosseguem dentro do cronograma estabelecido".

Celso Amorim comentou que ''a Odebrecht fez ofertas que nos pareceram, pelo menos à primeira vista, razoáveis. Agora, ela é um consórcio, a Odebrecht não pode resolver sozinha, ela depende também de outras empresas. O que sei é que a Odebrecht tinha que ter a aprovação de suas sócias''.

Mas acrescentou que a companhia ''não obteve, ou pelo menos não obteve logo (essa aprovação)''.

O chanceler contou ter sido informado pelo embaixador brasileiro em Quito que dois diretores da Odebrecht já deixaram o Equador e outros dois estão refugiados na embaixada brasileira. ''Não há uma ameaça física a eles e não há um mandado de prisão'', acrescentou.

Amorim afirmou também que o governo brasileiro tem dado ao caso ''um acompanhamento normal, adequado, para uma empresa brasileira no exterior''.

Agenda

O ministro Celso Amorim veio a Nova York acompanhando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está participando da Assembléia Geral da ONU.

Lula regressará ao Brasil nesta quarta-feira, após ter realizado o discurso de abertura do evento na terça.

Nesta quarta, o presidente terá encontros bilaterais com líderes da Holanda, Namíbia, Líbano e China.

Ele participará, ainda de uma reunião de trabalho de chefes de Estado da Unasul, de um almoço da Comunidade de Países da Língua Portuguesa, de uma recepção oferecida pelo presidente de Gana e de uma reunião sobre a crise financeira global, da qual participam ainda líderes da Austrália, Espanha, Grã-Bretanha, China e Índia.

O presidente deve retornar a Brasília por volta de 21h (22h, do horário brasileiro). Celso Amorim permanecerá na cidade até o próximo dia 29.

Fonte: BBC Brasil

Combate à corrupção 'estanca' no Brasil, diz Transparência Internacional

O combate à corrupção "parece ter estancado" no Brasil nos últimos anos, segundo o relatório anual da organização Transparência Internacional (TI), divulgado nesta terça-feira.

O índice de percepção de corrupção – que reflete como cidadãos em diversos países vêem o combate a este mal – calculado para o Brasil permaneceu em 3,5 pontos, intocado em relação ao ano passado, em uma escala que varia de 0 a 10.

Segundo a ONG, a situação do Brasil é ilustrativa da regional: 22 dos 32 países da região incluídos no levantamento ficaram abaixo dos 5 pontos, o que indica problemas sérios de corrupção.

Destes, 11 sequer passaram dos 3 pontos, marco indicativo de corrupção desenfreada.

Em sua análise para as Américas, a TI qualificou os resultados como "tendência infeliz para a região nos últimos anos".

"Os esforços anticorrupção parecem ter estancado, o que é particularmente perturbador à luz dos programas de reformas de muitos governos", afirma o comunicado da ONG.

Judiciário

A pontuação foi obtida pela análise de diversos indicadores – no caso brasileiro, sete foram utilizados como fonte.

As pesquisas mostraram que a América Latina tem o pior nível de confiança no seu Judiciário: quase três em cada quatro latino-americanos entrevistados em dez países da região declararam acreditar que existe corrupção nesta esfera de poder, afirmou a TI.

Além disso, 54% dos entrevistados em uma pesquisa no ano passado disseram esperar que a corrupção aumente nos próximos três anos – uma proporção que era de 43% há quatro anos.

"Esses elementos comuns parecem ser fatores determinantes no perpétuo sentimento de impasse na luta contra a corrupção na América Latina e no Caribe", afirmou o documento.

"A região avançou significativamente na adoção de convenções e instrumentos legais contra a corrupção, mas está claro que muitos países ainda carecem da aplicação efetiva da lei."

O professor Johann Graf Lambsdorff, da Universidade de Passau, que elabora o Índice para a TI, diz que há evidências de que melhorar um ponto no índice de percepção da corrupção aumenta as receitas de um país em até 4%, e a afluência de capital em até 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

'Desastre humanitário'

No mundo, a lista dos países com melhores e piores índices foi pouco alterada em relação ao ano passado. Dinamarca e Suécia lideram o ranking, desta vez ao lado da Nova Zelândia - o antigo terceiro lugar, a Noruega, ficou em 14º e foi uma queda marcante no relatório deste ano, notou a ONG.

Já a Somália, Mianmar, Iraque e Haiti registraram os piores índices.

A Transparência Internacional procurou destacar o que chamou de "relação fatal" entre pobreza, instituições decadentes e corrupção.


O mal adicionará US$ 50 bilhões - cerca de metade do volume de ajuda econômica anual global - ao custo de alcançar os Objetivos do Milênio em acesso a água e saneamento básico, estimou a ONG.

"Nos países mais pobres, os níveis de corrupção podem ser a diferença entre a vida e a morte quando está em jogo o dinheiro vai para hospitais ou para água potável", disse a presidente da TI, Huguette Labelle.

"Os altos e persistentes níveis de corrupção e pobreza que assolam muitas das sociedades mundiais são o equivalente a um desastre humanitário e não podem ser tolerados."

Ela notou que mesmo nos países ricos o problema é preocupante, normalmente por falta de uma legislação que fiscalize a atuação das grandes companhias em outros países.

Fonte: BBC Brasil

Brasileiro trabalha cinco meses do ano para pagar impostos, diz pesquisa

157 dias de trabalho vão para o pagamento dos tributos.
No resto do ano, contribuinte gasta com serviços básicos particulares.

De acordo com um estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), o contribuinte trabalha, em média, 157 dias por ano só para pagar impostos. São mais de cinco meses.

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Ao todo, 40,5% de tudo que o trabalhador receber este ano vai entregar ao governo até o fim de dezembro por meio de impostos, tributos e contribuições.

Saúde, educação, segurança são direitos básicos. Todo brasileiro deveria ter acesso a eles, mas faltam eficiência e qualidade. Quem paga a conta de todos esses maus serviços é o trabalhador. Cinco meses de trabalho vão para os impostos.

No resto do ano, tudo que entra na conta é gasto com os mesmos serviços essenciais a que todo brasileiro deveria ter acesso - como saúde, educação e segurança - na rede particular. Quem pode paga, mas a maioria tem mesmo que enfrentar um tormento diário. Na saúde, então, os gastos são surpreendentes.

Tudo custa muito: escola particular, plano de saúde, previdência privada ou transporte particular. Quando o serviço público, que deveria atender a todos os brasileiros, não funciona ou funciona mal, quem resolve pagar pelos serviços essenciais tem um rombo no orçamento doméstico.

O consultor Marcelo Braga tem R$ 2 mil de impostos por mês descontados do salário, dois filhos na escola particular e um plano de saúde privado.

“Hoje eu tenho que pagar os meus impostos, uma carga tributária alta, e tenho que ainda pagar pela saúde e pela educação dos meus filhos. Tudo isso se torna alto para nós”, diz o consultor.

Dados do IBGE mostram que o contribuinte de classe média gasta mais com saúde do que o governo. Em 2005, foram R$ 103 bilhões com consultas, exames e remédios. O setor público investiu R$ 66 bilhões em hospitais e atendimento.

“Pago muito imposto pelo pouco que eu tenho”, aponta o consultor Marcelo Braga.

“Após pagar todos os tributos, essa classe média tem que trabalhar para comprar serviços privados em substituição aos serviços públicos: segurança privada, educação privada, previdência privada, saúde privada. Isso também consome uma parcela significativa da renda da classe média”, explica Gilberto Amaral, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT).

Os ministros do Planejamento, Paulo Bernardo, e da Fazenda, Guido Mantega não quiseram comentar a pesquisa. Por meio da assessoria de imprensa, o governo informou que tem aumentado os investimentos em saúde e em educação, o que tem melhorado os indicadores sociais do país.

Fonte: G1

Desemprego tem menor nível para mês de agosto desde 1998, mostra Dieese

Desemprego ficou em 14,5% em seis regiões pesquisadas pelo instituto.
Índice mostrou queda de 7,1% frente ao mesmo período de 2007.

O nível de desemprego em seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo Dieese, em convênio com a Fundação Seade, mostrou o menor resultado para o mês de agosto desde desde 1998, segundo levantamento divulgado nesta quarta-feira (24).



De acordo com a a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) das instituições o nível de desemprego total ficou em 14,5% nas regiões pesquisadas em agosto, frente aos 14,6% apurados em julho, uma queda de 0,7%. Frente ao mesmo período do ano anterior, a queda foi de 7,1%.



O total de desempregados foi estimado pela organização em 2,911 milhões de pessoas, 22 mil a menos do que no mês anterior. O nível de ocupação subiu 0,5% em agosto em relação a julho, e aumentou 5,4% no mês passado na comparação com agosto de 2007.



Em agosto, o nível de ocupação cresceu em Salvador (1,6%), Porto Alegre (1,4%), Belo Horizonte (1,1%) e Recife (1,0%), a apresentou comportamento próximo à estabilidade no Distrito Federal (0,1%) e em São Paulo (0,1%).

Rendimento

O rendimento médio real dos ocupados nas seis regiões metropolitanas caiu 0,5% em julho ante junho, e passou a R$ 1.156,00. Em comparação a julho de 2007, houve uma elevação de 4,1%.

A massa de rendimento dos ocupados, que é o resultado da multiplicação do valor dos rendimentos e nível de ocupação, registrou ligeira elevação de 0,2% em julho ante junho, e subiu 9,1% em comparação a julho de 2007.


Em São Paulo

O desemprego na região metropolitana de São Paulo atingiu 14% em agosto, taxa um pouco inferior ao nível de 14,1% registrado em julho, de acordo com a pesquisa. Mesmo assim, esta é a menor taxa para agosto, desde 1996. O total de desempregados no mês passado ficou em 1,476 milhão de pessoas na região.

O nível de ocupação registrou pequena elevação de 0,1% em agosto, em comparação a julho. Em relação a agosto do ano passado, o nível de ocupação subiu 4,5%.

De acordo com a PED, o rendimento médio real dos ocupados em São Paulo caiu 1,8% em julho ante junho deste ano, de R$ 1.215,00 para R$ 1.193,00. Porém, ao comparar o resultado com o rendimento de R$ 1.169,00 em julho do ano passado, o rendimento médio subiu 2,1%.

A massa de rendimento dos ocupados caiu 1,7% em julho, em relação a junho. Em comparação a julho de 2007, a massa de rendimento dos ocupados subiu 6,3%.

Fonte: G1

Quase 20 milhões de pessoas migraram em 2007; mais da metade eram nordestinos

Quase 20 milhões de pessoas migraram entre as grandes regiões do Brasil em 2007, segundo a Síntese de Indicadores Sociais 2008, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira (24). Mais da metade dos emigrantes eram nordestinos (53,5%), que foram, em sua maioria, morar no Sudeste (66,7%), seguidos por aqueles que nasceram no Sudeste (20%) e, também majoritariamente, foram morar no Centro-Oeste (36%), atraídos pelo crescimento da região.

Os dados da pesquisa mostram ainda que quase toda a população do Nordeste (97,2%) e do Sul (94%) é formada de pessoas que nasceram na região onde moram. Já o Centro-Oeste, que abriga regiões como o Distrito Federal e Goías, de povoamento regional tardio, tem apenas 69,7% de população nativa.

Os estrangeiros que decidiram morar no Brasil somaram 692 mil pessoas e se acumularam principalmente na região Sudeste (71,6%). E nota-se que os movimentos migratórios, de uma forma geral, mantiveram as mesmas tendências verificadas desde o início da década de 1990.

A densidade demográfica média da população brasileira em 2007 foi de 22,3 habitantes por quilômetro quadrado, divididos de forma bastante irregular pelo território.

O Sudeste, por ter a economia mais desenvolvida, abriga 42% da população total, o que lhe garante a maior densidade do país: 87,4 habitantes por quilômetro quadrado. Só a região metropolitana de São Paulo concentra 20 milhões de pessoas, o correspondente a 10,5% da população total, superando todas as outras unidades da federação.

Já a região Norte, que possui quase metade (45,2%) da área total do país, tem apenas 8,1% da população e, portanto, 4 habitantes por quilômetro quadrado.

O Brasil está cada vez mais urbanizado. A taxa de pessoas morando em cidades foi de 83,5% da população total em 2007.

No Rio de Janeiro, a proporção sobe para 96,7%, porque a Estado não possui contingente significativo em atividades agropecuárias. E no Piauí, onde o trabalho rural predomina, a proporção cai para 62,1%.

Fonte: UOL

Número de idosos aumenta quase 50% na última década

A população de pessoas de 60 anos ou mais cresceu 47,8% na última década, um crescimento bastante superior aos 21,6% da população brasileira total no mesmo período. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais, do IBGE, esse aumento se deve, principalmente, a menor taxa de mortalidade em função dos avanços da medicina e dos meios de comunicação.

No Brasil, os maiores de 60 anos representam 10,5% da população total e 83% deles vivem nas cidades. O destaque fica para a região metropolitana do Rio de Janeiro, que tem 1,7 milhão de idosos ou 14,7% da população.

Segundo o estudo, a porcentagem de idosos na zona urbana segue a média nacional, já que a partir da década de 1970, o Brasil passa a ser considerado um país urbano. "A grande evasão da população rural ocorre devido às mudanças na produção agropecuária, ao esgotamento das fronteiras agrícolas e ao processo de industrialização e modernização", ressalta o IBGE. O aumento do número de municípios (de 3.952, em 1970, para 5.564, em 2008) também contribuiu para o crescimento da população urbana.

A quantidade de idosas é superior a de idosos. Em 2007, havia 79 homens com mais de 60 anos para cada 100 mulheres nesta faixa etária. Quanto maior a idade, maior a diferença entre os sexos: no grupo de 65 anos ou mais de idade são 76 homens para cada 100 mulheres; com 70 anos ou mais, chega-se a 72 homens para 100 mulheres. A Região Sul possui a maior diferença entre os sexos. Na faixa dos 70 anos ou mais, por exemplo, há somente 67 homens para cada 100 mulheres.

Quando cruzamos os dados de urbanização e sexo, observamos que nas áreas rurais o número de homens supera o de mulheres: 107 homens para cada 100 mulheres. Uma das causas desta inversão, segundo o IBGE, é que "a migração rural/urbana feminina é superior à masculina e, predominantemente, os homens têm maior presença em atividades tipicamente rurais". Também contribui o fato de as mulheres buscarem mais intensamente os serviços e condições de vida urbana onde, com freqüência, podem estar morando seus filhos, netos ou parentes.

Educação
O nível de instrução vem crescendo desde 1997 no país, inclusive na faixa etária dos idosos. Mas as pessoas com mais de 60 anos sem instrução ou menos de um ano de estudo ainda representam 32,2% do total. A percentual é maior no Nordeste, onde 52,2% ainda possuem baixo nível de escolaridade -mas o índice era ainda pior há 10 anos: 62,8%. No outro extremo estão o Sudeste, com 22,8% sem instrução, e o Sul, que agora possui o menor percentual brasileiro (21,5%).

Segundo o IBGE, a melhoria nos dados se deve "ao novo contingente de idosos que durante o seu ciclo de vida foram beneficiados com políticas públicas anteriores", como o aumento do número de escolas e faculdades na década de 1970. Porém, o instituto ressalta que o incentivo à alfabetização dos idosos ainda é insuficiente.

Quando as zonas urbana e rural são analisadas separadamente, verificamos que 27,5% dos idosos têm baixa instrução na primeira contra 55% na segunda. Mais uma vez a região Sul apresenta um índice bem abaixo do resto do Brasil: são 20,5% com baixa instrução nas cidades e 25,5% no campo.

Rendimento
O número de domicílios considerados pobres (com rendimento médio mensal "per capita" inferior a 1/2 salário mínimo) representa 12,6% do total. Entre as pessoas com 10 ou mais anos de idade que vivem em estado de pobreza, os idosos são 7,7%. A posição deles é vantajosa, já que os idosos representam 12,5% dos maiores de 10 anos, independente do rendimento.

Assim como nos dados sobre grau de instrução, o porcentual de idosos que vivem em situação de pobreza é maior na área rural. No Sudeste, por exemplo, são 6,8% na zona urbana e 16,1% na rural. No Sul a diferença é bem menor: 6,3% e 7,1%, respectivamente.

Convívio em família
Com o aumento na expectativa de vida, tornou-se comum pessoas de três gerações morando juntas. Dos idosos que vivem com os filhos e netos, 45% são chefes do domicílio (no Norte e Nordeste estes números chegam a 50%). Se considerarmos que a renda dos idosos significa mais da metade do total da renda domiciliar, o percentual sobe para 53% das casas brasileiras.

Na área rural, a importância da renda dos idosos é ainda mais significativa. Em 67,3% dos domicílios, os idosos tinham uma participação superior a 50% no rendimento total da família. Separando por regiões, o Nordeste encabeça a lista com pouco mais de 73% das residências lideradas por idosos.

O estudo atenta para o fato de que a renda dos idosos é importante nas áreas mais carentes. E esta renda está diretamente relacionada às políticas públicas dirigidas a esta faixa etária, como a Lei Orgânica da Assistência Social que concede um salário mínimo para idosos pertencentes às famílias com renda mensal "per capita" inferior a 1/4 do salário mínimo. O benefício que antes era destinado apenas a pessoas com mais 70 anos, foi estendido, em 2004, aos maiores de 65.

Fonte: UOL

Expectativa de vida do brasileiro cresce mais de três anos na última década

A expectativa de vida do brasileiro ao nascer cresceu mais de três anos na última década e passou de 69,3 anos, em 1997, para 72,7 anos, em 2007. As mulheres ainda vivem mais tempo: em média 76,5 anos, contra os 69 anos vividos pelos homens. Os dados constam da Síntese de Indicadores Sociais 2008, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira (24).

A maior taxa de mortalidade masculina é responsável, em parte, pela chamada "razão de sexo" brasileira. Existem 95,3 homens para cada 100 mulheres, sendo que em Recife (87,8/100), Rio de Janeiro (88,5/100) e Belém (89,1/100) a diferença é ainda maior. Veja na tabela:

Segundo Fernando Albuquerque, gerente do projeto Componentes da Dinâmica Demográfica do IBGE, a maior mortalidade dos homens é percebida desde o momento do nascimento, quando são registrados mais óbitos de bebês do sexo masculino. "Existe uma predisposição genética, mas a taxas aumentam com os números de óbitos relacionados a causas violentas, como acidentes de trânsito e homicídios", explica.

Entre as grandes regiões do Brasil, o melhor índice de esperança de vida está no Sul (74,7 anos) e o pior, no Nordeste (69,7 anos). Santa Catarina (75,3 anos) e Distrito Federal (75,3 anos) se destacam por serem os lugares onde há maior longevidade. Já Alagoas (66,8 anos) e Maranhão (67,6 anos), pelas piores médias.


A melhora na expectativa de vida e a queda na mortalidade da população - de 6,6 por mil (‰) para 6,23‰ em dez anos - foram responsáveis por um aumento considerável no número de idosos no Brasil. Hoje, os maiores de 60 anos representam 10,5% dos brasileiros e somam quase 20 milhões de pessoas.

Na última década, o aumento foi de 47,8%, sendo que o crescimento total da população brasileira no período foi bem menor: 21,6%. Se considerarmos apenas os com mais de 80 anos, que representam 1,4% da população e somam 2,6 milhões de pessoas, o aumento foi ainda mais relevante: 86,1%.

O número de jovens com até 14 anos, por sua vez, caiu de 30,8% para 25,4% na comparação 1997-2007. Já os menores de um ano passaram a ser 1,4% da população e se concentraram principalmente na região Nordeste, onde é maior o nível de fecundidade (número médio de filhos que uma mulher teria ao final do período fértil). A taxa de fecundidade também diminuiu e foi de 2,54 para 1,95 filho no mesmo período.

"Em 1960, uma mulher teria em média seis filhos. Hoje, a taxa brasileira de fecundidade já está abaixo do nível de reposição da população (há mais pessoas morrendo do que nascendo). Por enquanto ainda não é um problema, mas daqui a 30 ou 40 anos o efeito já será sentido", aponta Albuquerque.

É visível a mudança no perfil da população brasileira. A participação da terceira idade na sociedade é cada vez maior, o número de nascimentos é cada vez menor e mesmo que a mortalidade infantil ainda seja alta se comparada a outros países emergentes, como a Rússia (onde o índice está entre 14‰ e 19‰), a taxa caiu de 35,2‰ para 24,3‰ da população em dez anos.

A população brasileira está envelhecendo. "A base da pirâmide demográfica (formada pelas crianças) está diminuindo e os mais velhos representam uma maior proporção do todo. Isso significa que o Brasil ainda possui uma pirâmide triangular, mas se já aproxima dos países desenvolvidos, que possuem uma pirâmide cilíndrica", explica o especialista.

Ele atribui o avanço aos tratamentos para doenças como o câncer e as cardíacas, que contribuem para a queda da mortalidade bruta da população, assim como aos programas de saúde pública e à melhora nas condições de habitação e saneamento, que resultam em índices positivos de mortalidade infantil e materna. "O aumento do acompanhamento pré-natal, a urbanização, o cuidado com a criança e o idoso, a vacinação eficaz, tudo isso faz com que a população ganhe mais tempo de vida", ressalta.

Comparação com outros países emergentes
Na Rússia, os homens vivem em média 13,6 anos menos do que a mulheres. Lá, a estrutura etária é mais envelhecida e os maiores de 65 anos correspondem a 13,2% da população. Existem 86,1 homens para cada 100 mulheres. A taxa de mortalidade é de 16,2‰ e a natalidade, 10,7‰, níveis parecidos com os verificados em países da Europa Ocidental. A taxa de mortalidade infantil também é a menor entre os emergentes.

Índia e África do Sul apresentam pirâmides demográficas predominantemente jovens. Nesses países, os indicadores são mais desfavoráveis: as crianças correspondem a 31,8% dos indianos e 31,7% dos sulafricanos. Já os mais velhos são 5,2% e 4,6% respectivamente. No entanto, a expectativa de vida na África do Sul (49,3 anos) é 15,4 anos menor que a observada na Índia. Na Índia, existem 107,3 homens para cada 100 mulheres, enquanto na África do Sul a razão de sexo é 96,9 homens para cada 100 mulheres.

A China tem a maior expectativa de vida entre os países comparados: 73 anos para ambos os sexos. O país chama a atenção pela taxa de mortalidade infantil feminina (quase 10 mortes por mil habitantes) maior que a masculina, fruto de uma política pública que obriga as famílias a terem um único filho, existindo uma preferência por bebês do sexo masculino, especialmente na zona rural, onde vive 80% da população. Existem, portanto, 106,8 homens em média para cada 100 mulheres.

Fonte: UOL

BC muda depósitos compulsórios para colocar mais dinheiro na economia

O Banco Central anunciou duas mudanças nos depósitos compulsórios das instituições financeiras com o objetivo de compensar os efeitos, no Brasil, da restrição de crédito no sistema financeiro internacional, ou seja, a falta de liquidez.

O depósito compulsório obriga que as instituições financeiras recolham junto ao BC parte do dinheiro depositado pelos seus clientes. Com isso, os bancos ficam com menos dinheiro para emprestar e fazer outras operações.

A falta de liquidez nos mercados é uma das principais características da atual crise financeira que atinge os EUA. Justamente por isso os BCs ao redor do mundo têm injetado ao longo do último ano bilhões de dólares nas suas economias e evitar, assim, que a falta de dinheiro em circulação as faça "parar".

A primeira medida do BC foi adiar o cronograma de implantação do recolhimento compulsório sobre leasing. Em janeiro, o governo decidiu que os bancos deveriam recolher compulsoriamente até 25% dos depósitos captados das empresas de leasing. À época, foi anunciado um cronograma para o aumento gradual dessa alíquota, hoje em 15%.

Com o anúncio de hoje, o recolhimento com base na alíquota de 20%, que seria feito a partir de 14 de novembro de 2008, passa a vigorar em 16 de janeiro de 2009. Já a adoção da alíquota de 25% foi adiada de 16 de janeiro de 2009 para 13 de março de 2009.

A previsão do BC é que o recolhimento compulsório sobre leasing, quando estiver completamente implementado, retire da economia R$ 8 bilhões.

O leasing é uma modalidade de crédito que funciona como um aluguel (equipamentos e veículos, principalmente), em que o tomador tem a opção de compra do produto no final do contrato. Segundo dados do BC, as operações de leasing para pessoa física cresceram 7,8% entre junho e julho deste ano --em 12 meses, a modalidade registra crescimento de 141,7% para o consumidor e 78,4% para empresas.

Bancos médios

A segunda medida foi ampliar de R$ 100 milhões para R$ 300 milhões o valor a ser deduzido pelas instituições financeiras do cálculo da "exigibilidade adicional" sobre depósitos à prazo, depósitos de poupança e recursos à vista. Segundo cálculos do BC, só esta medida injetará imediatamente R$ 5,2 bilhões na economia do país.

A "exigibilidade adicional" é o mecanismo que o BC tem para aumentar o compulsório apenas dos bancos com volume maior de recursos. Com a mudança, apenas as instituições com depósitos superiores a R$ 300 milhões terão de cumprir essa regra, o que vai ajudar os bancos médios e pequenos a ter mais crédito.

As alíquotas usadas para o cálculo dessa exigibilidade, que é remunerada pela taxa básica de juros (Selic), permanecem inalteradas em 8% para os depósitos a prazo, 10% para os depósitos de poupança e 8% sobre os recursos à vista.

"Com o objetivo de preservar o sistema financeiro nacional dos efeitos da restrição de liquidez que vem sendo observada no sistema financeiro internacional, o Banco Central do Brasil decidiu fazer as seguintes alterações, de caráter pontual", diz o BC em nota.

Trata-se da segunda ação do BC em menos de uma semana para amenizar os efeitos da crise. Na última sexta-feira, a instituição vendeu US$ 500 milhões aos bancos para ajudar a segurar a alta do dólar.

Fonte: Folha de São Paulo

Análise: Nafta e abertura política fortaleceram tráfico no México

Há cerca de dois anos, a cidade de Uruapan, no Estado mexicano de Michoacán, ganhou as manchetes dos jornais do país. A razão não foram chuvas torrenciais ou o impacto de um terremoto, mas um incidente macabro acontecido em um bar chamado Sol y Sombra.

De maneira um tanto inesperada, as cabeças de cinco homens decapitados foram lançadas na pista de dança do local.

Até esta noite, o bar, que fica na estrada Uruapan-Pátzcuaro, no subúrbio de Bela Vista, era conhecido por oferecer serviços de dança e costumava ficar cheio. Mas o cenário mudou.

Michoacán, assim como seu vizinho, Guerrero, passaram a ser então conhecidos como Estados marcados pela violência associada ao narcotráfico.

Por décadas, os dois Estados estiveram na geografia do comércio de drogas ilícitas do México. Mas o pior período nos dois lugares começou com o desvio das rotas de cocaína internacionais para o território mexicano, principalmente para a costa do Oceano Pacífico.

Tanto Michoacán quanto Guerrero possuem uma extensa costa ao longo do Pacífico. No limite ente os dois territórios está o porto mexicano de Lázaro Cárdenas, o mais dinâmico da costa do Pacífico mexicano.

Este é um ponto de entrada e saída de mercadorias com um movimento cada vez mais intenso e que em apenas uma década saltou de um montante de 4,5 mil contêineres por ano para 197 mil.

Mas é só transitar pelas estradas de ambos Estados para que o viajante encontre alguns dos símbolos do boom de uma economia ilícita cada vez mais violenta.

Ao longo das estradas, próximo às entradas das cidades, há discotecas, lojas de carros usados que aparecem e desaparecem como mágica, motéis que anunciam quartos que podem ser alugados por três horas por US$ 10 ou US$ 15 e, obviamente, serviços funerários que funcionam 24h por dia.

No México, assim como em outros países, o tráfico de drogas é uma das muitas atividades que formam a economia ilegal. Muitos dos produtos e serviços oferecidos são ilegais, tanto pela natureza do negócio quanto pelos métodos que são usados neste comércio. Há também uma boa dose de consentimento oficial a estas atividades.

Mas o tráfico de drogas é muito mais que apenas mais um setor da economia ilícita. Na verdade, o tráfico é um sócio em muitas destas atividades e um agente multiplicador de áreas para a impunidade.

A era da cocaína

A história do tráfico de drogas no México passa por duas grandes etapas.

O primeiro começou com a legislação que proibiu o consumo, a venda e produção de narcóticos nos EUA e sua posterior adoção pelo México, no início do século passado.

A legislação nos EUA ofereceu uma janela de oportunidade para aqueles que estavam dispostos a lucrar com as vendas de álcool e narcóticos do outro lado da fronteira.

O marco legal promoveu uma repentina escalada no número de turistas que cruzavam a fronteira com o México em busca destas substâncias. Em 1919, 14 mil turistas cruzaram a fronteira, no ano seguinte o número subiu para 420 mil. O crescimento criou as bases da economia ilegal no país.

Da década de 1920 até final dos anos 1950, surge assim uma pequena - e relativamente pacífica - economia ilícita, organizada em volta do cultivo e tráfico de maconha e heroína.

Mas, no final dos anos 1970 e início dos 1980, nasce uma nova economia ilícita organizada em volta do tráfico de cocaína.

O desvio para o México de 60% do pó branco destinado aos EUA marcou o início de um outro estágio, assim como o surgimento de uma vigorosa e cada vez mais violenta economia de transporte de cocaína e de outros serviços associados a ela.

Há, talvez, duas explicações mais comuns à repentina explosão do tráfico de drogas no México.

A primeira é a operação militar conhecida como “Hat Tricks”, com a qual Washington tentou retirar a Flórida do comércio de cocaína. O resultado foi a mudança deste comércio do Estado americano para o México.

O segundo ponto é a abertura de oportunidades para o transporte de mercadorias ilícitas como resultado do Nafta, tratado de livre-comércio entre o México, EUA e Canadá, que começou a vigorar em 1994.

Terra de oportunidades?

No México, como em muitos outros países em desenvolvimento, a presença de mão de obra barata, a disponibilidade de terras a preços baixos e a aplicação intermitente da lei ofereceu, durante décadas, vantagens à produção e comércio de maconha e ópio.

Entretanto, a participação do México – assim como a da Colômbia e da Nigéria – no circuito internacional de drogas ilícitas também é resultado de três variáveis fundamentais: a geografia, uma longa tradição de contrabando e a relativa fraqueza da autoridade central.

No final da década de 1980 as áreas tradicionais de cultivo de drogas ainda estavam em uso - mas a partir daí, começou a mudar a antiga geografia do mercado e os cartéis começaram a dividir o país e a repartir seu território.

Sob estas novas condições, a já reduzida capacidade do Estado de fazer com que a lei fosse cumprida ficou ainda mais cerceada.

Outro fator foi a escassez de oportunidades econômicas. A pressão da crise econômica dos anos 1980 e a fraqueza da economia criaram um grande setor da população sem empregos fixos.

Nos anos 1990, a entrada em vigor do Nafta parecia abrir um novo caminho para a recuperação, mas, depois de mais de uma década, é sabido que o acordo não foi capaz de promover um crescimento econômico significativo ou aumento nos empregos.

Nestas condições, o desemprego criou um grande setor informal e uma reserva de mão de obra para a economia ilícita de serviços ligados ao tráfico de cocaína.

Em outras palavras, a participação da população nas atividades ilegais não só aumentou de maneira gradual, mas também se diversificou.

Se em décadas anteriores o traço mais característico desta participação era a presença de camponeses em áreas de cultivo de drogas em Estados produtores – estimada em 1965 em torno de 200 e 300 mil pessoas -, na década de 1980 a economia ilícita não só incorporou novas atividades, como passou a precisar do talento e da habilidade de profissionais e empresários.

Procura de profissionais

A nova, animada e diversificada economia ilícita dos anos 1990 – com suas ramificações na indústria de roubo de automóveis, prostituição e tráfico de pessoas, seqüestros e outras atividades – também contava com a participação de transportadores, carregadores, secretárias, contadores, administradores, pilotos, advogados e assessores financeiros.

No início do século 20, a estas profissões se juntaram vigilantes, assassinos de aluguel e exércitos particulares que hoje tomam as manchetes dos principais jornais diários do México.

Mudança de cenário

Há menos de quatro décadas, México e Turquia eram anunciados como histórias de sucesso entre países em desenvolvimento.

Apesar de terem tomado caminhos diferentes, no início dos anos 1970, os dois países conseguiram reduzir e controlar suas economias ilegais.

Segundo vários pesquisadores, este sucesso era fruto de três fatores principais.

Nos dois países, a erradicação e o controle da produção de drogas foi alcançada em um contexto em que o Estado mantinha o monopólio da violência e exercia também uma sólida autoridade central aliada à relativa independência e saúde econômica.

Mas o cenário no México é completamente diferente hoje. Qualquer um que ler as manchetes dos jornais dos últimos três anos pode se perguntar se o Estado tem o real monopólio da violência.

A abertura política trouxe consigo o enfraquecimento do poder Executivo, que até então era uma peça-chave da autoridade do Estado.

A fraca economia das últimas três décadas também não contribuiu para oferecer mais oportunidades de emprego, o que explica o fato de tantos mexicanos terem procurado trabalho na economia ilícita.

Limitações, dificuldades e incertezas. O resultado é tráfico de drogas, violência e mortes. Para onde quer que se olhe, o cenário é aterrador.

Fonte: BBC Brasil

O debate muçulmano do criacionismo: enfrentando Darwin na Turquia

Os cristãos fundamentalistas americanos não são os únicos liderando uma cruzada contra Darwin. O criacionismo e o "design inteligente" também estão se tornando cada vez mais populares entre os muçulmanos da Turquia

Daniel Steinvorth
Em Istambul (Turquia)

O homem que deseja salvar o mundo se chama Harun Yahya e lembra um ator da época do cinema mudo. Ele veste um terno de seda branca, abotoaduras douradas e exibe uma barba bem aparada no queixo. "Em 20 anos", ele diz em tom sério, "a humanidade entrará em uma era dourada".

Yahya diz que descobriu essa notícia maravilhosa na Bíblia e no Alcorão. Ele argumenta que é um "fato científico" que Jesus e o Mahdi, o messias muçulmano, voltarão à humanidade para resolver todos os conflitos globais. Antes, entretanto, ele diz que esses dois emissários celestiais terão que lidar com outro desafio: eles terão que erradicar a heresia do naturalista britânico Charles Darwin, que postula que toda a vida se originou de um processo de seleção natural.

Na visão de Yahya, o darwinismo está na raiz de todos os males do mundo. Visando ajudar a livrar o mundo desta teoria, ele bancou a impressão de milhares de cópias de "O Atlas da Criação" e as enviou para várias partes do mundo. Este tomo de formato grande e 800 páginas visa provar que nunca houve uma evolução natural das espécies. Em vez disso, ele argumenta que todas as formas de vida da Terra permaneceram inalteradas por milhões de anos. Ilustrações coloridas de fósseis foram incluídas para documentar a falta das chamadas formas transitórias.

Yahya, 52 anos, um ex-estudante de arquitetura, é sem dúvida o mais expressivo seguidor do criacionismo em seu país. Ele alega já ter vendido 8 milhões de cópias de seus vários livros. No ano passado, milhares de cópias de "O Atlas da Criação" foram entregues - de forma não solicitada - para escolas de toda a Europa. A identidade da pessoa ou instituição que pagou a conta dessa iniciativa permanece desconhecida.

Além de Yahya, que atualmente está sendo processado "por ganho pessoal ilegal", há outros opositores veementes da evolução na Turquia. Um deles é Kerim Balci, um jornalista que trabalha para o jornal "Zaman" pró-governo. Sua mensagem: "Deus não é aquele que está morto; é o darwinismo".

Uma pesquisa realizada em 2006 mostrou quão impopular permanece a teoria da evolução no mais moderno de todos os países islâmicos. Foi perguntado às populações de 34 países sobre sua postura em relação à teoria da evolução, e o menor percentual de defensores foi encontrado na Turquia. Apenas um quarto dos turcos sente que a teoria de Darwin é correta. Apenas ligeiramente à frente deles - em 33º lugar - estavam os americanos.

Para Ibrahim Betil, um ativista comunitário turco envolvido em programas escolares, estes números contrastam enormemente das políticas educacionais oficiais do país. Diferentemente do que está acontecendo em várias áreas nos Estados Unidos, todas as tentativas de introduzir o criacionismo nas aulas de biologia na Turquia foram bloqueadas. Apenas a teoria da evolução é ensinada "em todas as escolas, em todas as salas de aula, mesmo nas províncias mais remotas".

Mas isso poderá mudar em breve. Como colocou recentemente o ministro da Educação ortodoxo da Turquia, Hüseyin Çelik, o darwinismo não é nada mais do que "uma arma dos materialistas e dos infiéis". Çelik é um grande admirador da teoria do "design inteligente" - uma versão moderna da teoria do criacionismo, que alega reconhecer a mão de uma espécie de projetista por trás de todas as leis naturais do mundo.

Fonte: UOL/Der Spiegel