Representantes de dois dos setores que mais utilizam o gás natural em sua produção dizem que a preocupação com um eventual racionamento é constante e só deve acabar em 2010. Até lá, os empresários acreditam que o Brasil já tenha ampliado a geração do combustível em plataforma nacional, reduzindo a dependência do produto que vem da Bolívia.
"Até 2010 não vai haver segurança total", afirma Antonio Carlos Kieling, superintendente da Anfacer (Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento).
"Os próximos dois anos vão ser de pranto e ranger de dentes", completa Lucien Belmonte, superintendente da Abividro (Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro), prevendo um "cenário positivo" a partir de 2011. "Para isso, a Petrobras tem que cumprir o cronograma de produção", ressalva.
Até lá, as indústrias trabalham em compasso de espera, retendo investimentos por temor de uma crise energética. "Não houve nenhum momento em que deixamos de receber gás natural nos últimos anos, mas não existe oferta para expansão. Trabalhamos a pleno vapor, porém sem perspectiva de crescimento. Isso retarda os investimentos", diz Kieling.
Os dois setores dependem totalmente do repasse de gás natural para manter suas atividades e chegam a consumir, juntos, mais de 1,5 bilhão de metros cúbicos ao ano. Em um cenário de contingenciamento, teriam de interromper a produção.
"Nós iríamos apenas manter os ativos, os fornos ligados, mas não produzindo", diz Belmonte. "Felizmente, esse horizonte não se confirmou, mas em todas as crises, nunca se chegou a 15 milhões de metros cúbicos", completa.
O número é uma referência ao corte no envio de gás da Bolívia para o Brasil na manhã de quinta-feira, após a danificação de uma válvula de segurança que paralisou o transporte de um gasoduto da Transierra. O problema teria sido causado por manifestantes contrários à política do governo Evo Morales.
Depois de chegar a 15 milhões de metros cúbicos, a interrupção no fornecimento voltou a ser da ordem de 3 milhões de metros cúbicos, ou 10% do total que o Brasil recebe diariamente. Este déficit decorre de um incidente anterior, uma explosão que atingiu o mesmo gasoduto na última quarta-feira.
Para os empresários brasileiros, resta torcer. "A gente conta com a torcida, mas não dá pra ficar muito animado. Temos de tentar nos preparar, mas é verdade que existe uma apreensão neste sentido", reconhece Belmonte.
O termo apreensão é o mesmo utilizado pelo representante do setor de fabricação de cerâmica. "A apreensão é grande. Até agora não fomos afetados, mas gostaríamos muito que não houvesse problemas políticos mais graves na Bolívia", diz Kieling.
Ele explica que ao longo de uma década, os empresários do setor investiram no gás natural como matriz energética, e acabou dependente deste combustível. "Um terço dos custos de produção são referentes a gás e nós não temos uma alternativa. Fizemos investimentos altos e hoje, todos os equipamentos de ponta são movidos a gás natural", afirma.
Fonte: UOL
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