quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Teste para empresas do país será rolar US$ 15,1 bi de dívidas

As empresas privadas brasileiras têm US$ 15,1 bilhões de dívidas de médio e de longo prazo a vencer no período que vai deste mês até o final de dezembro. Esses papéis podem ser renovados ou liquidados, a depender do que exigirem os credores. O sucesso (ou fracasso) nessas operações será a melhor forma de aferir qual o impacto real da crise financeira internacional sobre o Brasil.
A Folha ouviu vários operadores do setor financeiro ontem e muitos acreditam num recrudescimento para as empresas brasileiras na hora de renovar seus empréstimos. Um exemplo recorrente citado foi uma operação frustrada da Telemar, que na semana passada abortou uma emissão de US$ 1,5 bilhão de eurobônus.
Os dados do Banco Central indicam que os US$ 15,1 bilhões a vencer até dezembro são majoritariamente na forma dos chamados "commercial papers" (US$ 9,170 bilhões). Esses são títulos que ficam mais vulneráveis a uma exigência de liquidação pelos credores.
Há também no valor total da dívida externa de empresas nacionais financiamentos (US$ 3,552 bilhões vencendo até dezembro) e empréstimos diretos (US$ 2,368 bilhões). Em alguns desses casos, são as próprias empresas fazendo operações de empréstimo da matriz no exterior para a subsidiária no Brasil -o que, em tese, facilita renovação do contrato.
Antes das turbulências das últimas duas semanas, os papéis emitidos por empresas brasileiras eram facilmente renováveis. O país está com a economia estável, o PIB cresce e há demanda para mais investimentos. Esses empréstimos não são feitos para serem pagos, mas só para serem rolados.
Ocorre que agora vários dos provedores de crédito no exterior podem estar precisando de dinheiro para tapar buracos causados pela crise financeira norte-americana. Nesse caso, pedem ao devedor brasileiro que pague o que deve.
Outra hipótese menos dramática para as empresas brasileiras é que sejam confrontadas com uma condição mais dura na operação de rolagem da dívida. O prazo de vencimento pode ser encurtado e os juros podem ser aumentados.
Não há ainda dados suficientes no mercado para saber qual será o efeito para o setor privado brasileiro. Formou-se um consenso sobre o volume menor de crédito internacional de maneira geral. A favor do Brasil há o argumento de que os investidores estrangeiros continuarão a colocar algum dinheiro em países emergentes.
A decisão sobre onde aplicar é sempre pragmática e visa a uma distribuição geográfica de alguma amplitude. Grandes fundos sempre aplicarão na América Latina, embora em volume menor. Nesse caso, o Brasil poderá continuar a ficar com um naco desses recursos -é o que esperam empresas prestes a renegociar papéis.
Outro fato a ser considerado nesse cenário é que não haverá certamente problema de liquidez se grande parte dos credores exigir o pagamento das dívidas vincendas.
O Brasil tem reservas acima de US$ 200 milhões. As empresas poderão remeter o dinheiro que for necessário.

Fonte: Folha de São Paulo

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