sábado, 31 de outubro de 2009

Entenda os principais pontos do acordo em Honduras

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e o líder do governo interino, Roberto Micheletti, chegaram a um acordo para pôr fim à crise política no país, que já dura mais de quatro meses.

O acordo prevê que a decisão sobre o retorno ou não de Zelaya à Presidência ficará a cargo do Congresso. No entanto, estabelece que também será feita uma consulta prévia ao Supremo Tribunal de Justiça.

A implementação do acordo deve levar algum tempo, e ainda não há um prazo fixado para o retorno de Zelaya à Presidência.

O documento foi firmado após a pressão de uma comissão do governo americano enviada a Honduras.

A resolução do impasse político em Honduras é considerada crucial para que as eleições presidenciais no país, marcadas para 29 de novembro, sejam reconhecidas pela comunidade internacional.

Abaixo, a BBC Brasil responde a algumas perguntas sobre o acordo e o futuro da situação política em Honduras.

Quais os principais pontos do acordo?

O acordo determina que a decisão sobre a restituição de Manuel Zelaya à Presidência de Honduras será do Congresso. Esse ponto era uma das exigências de Zelaya e um dos principais entraves para um entendimento.

O Congresso apoiou a deposição de Zelaya, em 28 de junho. No entanto, partidários do presidente deposto acreditam que, como cerca de metade dos parlamentares irá disputar a eleição de 29 de novembro, votariam a favor da restituição do presidente, para garantir que o pleito seja reconhecido pela comunidade internacional.

Apesar de a decisão sobre a volta de Zelaya à Presidência ser do Congresso, o acordo prevê a realização de uma consulta prévia ao Supremo Tribunal de Justiça. Inicialmente, o governo interino, comandado por Roberto Micheletti, exigia que a decisão ficasse a cargo do Tribunal.

O acordo prevê a criação de um governo de união nacional. Os dois lados reconheceriam as eleições de 29 de novembro. Também será formada uma comissão de verificação para garantir que os termos do acordo sejam cumpridos.

A proposta fala em restaurar o poder Executivo à situação anterior ao dia 28 de junho (data em que Zelaya foi deposto e expulso do país). Com isso, Micheletti retornaria ao seu cargo anterior, de presidente do Congresso.

O acordo também prevê que Zelaya abandone qualquer tentativa de mudar a Constituição para permitir a reeleição presidencial - fato que desencadeou a crise.

Qual a participação dos Estados Unidos no acordo?

O acordo final - que teve como base uma proposta anterior, mediada pelo presidente da Costa Rica, Oscar Árias - foi costurado por uma delegação dos Estados Unidos, liderada pelo secretário assistente de Estado para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon. A comitiva americana foi a Honduras para pressionar os dois lados por um acordo.

Em encontros com representantes dos dois lados, Shannon deixou claro que um acordo era necessário para que a comunidade internacional pudesse ajudar Honduras em seu processo eleitoral, marcado para 29 de novembro, e que a definição era urgente, já que falta menos de um mês para o pleito.

Qual a reação da comunidade internacional?

Diversos governos manifestaram satisfação com a notícia de um acordo em Honduras. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, divulgou uma nota em que chama o acordo de "histórico". "Não me lembro de outro país na América Latina que, tendo passado por uma ruptura em sua ordem democrática e constitucional, tenha superado a crise por meio da negociação e do diálogo", disse.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse em uma declaração esperar que o acordo coloque Honduras "no caminho da completa restauração da ordem democrática e constitucional".

Em nota, o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, também manifestou satisfação com o acordo. "Cumprimento os cidadãos de Honduras por ter alcançado a meta que todos queríamos: a assinatura de um acordo feito por e para os hondurenhos."

"O presidente Zelaya e o senhor Micheletti, junto com suas delegações, deram uma apreciável mostra de flexibilidade e de sentimento patriótico", afirma a nota. A OEA também afirma que deverá trabalhar pelo levantamento da suspensão de Honduras da organização.

O presidente da Costa Rica, Oscar Árias, autor de uma proposta anterior na qual se baseou o novo acordo, disse estar "muito satisfeito".

O governo espanhol também divulgou um comunicado em que garante "o desejo de contribuir para o êxito do processo, junto com seus sócios da União Europeia e da OEA".

Qual a reação do Brasil?

Em nota divulgada nesta sexta-feira, o Itamaraty afirma que o governo brasileiro "recebeu com satisfação a notícia do acordo" e que "expressa a expectativa de que a normalidade institucional se restabeleça dentro do mais breve prazo em Honduras, com a volta da titularidade do Poder Executivo ao estado prévio ao golpe de estado de 28 de junho".

Aifrma ainda que "o Brasil confia em que o acordo ontem alcançado permita a plena reintegração de Honduras ao sistema interamericano e internacional e a pronta normalização da situação de sua Embaixada em Tegucigalpa".

O fato de o Brasil abrigar o presidente deposto provocou polêmica. Desde 21 de setembro, quando retornou a Honduras sem autorização do governo interino, Zelaya permanece na embaixada brasileira ao lado de familiares e apoiadores.

Como ficam as eleições de 29 de novembro?

A restituição de Zelaya era uma exigência da comunidade internacional para reconhecer o resultado das eleições de 29 de novembro.

Com o acordo firmado pelos dois lados, observadores internacionais deverão ser enviados a Honduras para acompanhar a realização do pleito.

A OEA já anunciou que vai designar uma missão para observar as eleições. Os hondurenhos irão eleger um novo presidente, além de 128 deputados no Congresso, 20 no Parlamento Centroamericano e 298 prefeitos.

Qual a origem da crise?

A crise política em Honduras foi motivada pela proposta, apresentada por Zelaya, de que nas eleições de 29 de novembro também fosse realizada uma consulta sobre a possibilidade de convocar uma Assembleia Constituinte para mudar a Constituição e permitir a reeleição presidencial.

No dia 28 de junho, Zelaya pretendia realizar uma consulta sobre a consulta, perguntando aos eleitores se concordavam ou não com sua proposta. O então presidente do Congresso, Roberto Micheletti, que era do mesmo partido que Zelaya, o Partido Liberal, afirmou que a consulta não teria validade jurídica e que pela atual Constituição ela seria considerada um delito.

Zelaya foi detido e expulso do país, e Micheletti assumiu o comando do governo interino.

Fonte: BBC Brasil

Chile e Argentina assinam tratado de integração na A.Latina

As presidentes do Chile e da Argentina, Michelle Bachelet e Cristina Fernández de Kirchner, assinaram hoje em Santiago o Tratado de Maipú de Integração e Cooperação, um convênio inédito entre as duas nações que aprofunda as relações bilaterais.

O cenário da assinatura do tratado foi a comunidade de Maipú, ao sudoeste da capital chilena, onde em 1818 um Exército chileno-argentino capitaneado pelos generais Bernardo O'Higgins e José de San Martín derrotou às tropas espanholas e selou a independência do Chile.

Imitando a parceria da independência, Bachelet e Fernández selaram o acordo nesta sexta-feira com um abraço, que substituirá ao Tratado de Paz e Amizade, assinado em 1984 para desativar um grave conflito entre os países pela controvérsia sobre o Canal de Beagle, no extremo sul do continente.

O acordo inclui o aprofundamento das relações, da conectividade à criação de um grupo de trabalho para preparar um acordo de livre circulação de pessoas em ambos os países.

Contempla ainda o compromisso para a construção de um trem transandino e de um túnel na passagem Águas Negras, unindo a região de Coquimbo com a província argentina de San Juan.

O Tratado de Maipú institucionalizará a rede de 57 mecanismos de trabalho entre os dois países.

Além disso, facilita a cooperação entre os conselhos regionais e as legislaturas provinciais para harmonizar normas jurídicas e fomentar o trabalho comum frente a outras regiões e países do mundo.

Nas áreas de trabalho e justiça, os países se comprometem a aplicar um convênio de previdência social já redigido, assim como a simplificar os processos de extradição.

Nas comunicações, se estenderão os sistemas de controles integrados em cinco áreas de fronteira, para agilizar o fluxo de pessoas e mercadorias.

Simultânea à cerimônia entre as chefes de Estado em Maipú, o intendente da região do Maule, Fernando Coloma, e o vice-presidente da província argentina de Mendoza, Cristian Raacconto, realizaram a assinatura do tratado com um encontro na passagem fronteiriça Cristo Redentor.

Bachelet e Kirchner devem liderar nesta sexta-feira a 29ª Feira Internacional do Livro de Santiago, que neste ano tem à Argentina como convidada de honra, pelas celebrações do Bicentenário da Independência das nações em 2010.

Fonte: UOL

Colômbia assina acordo para uso de bases militares pelos EUA

Os Estados Unidos e a Colômbia anunciaram nesta sexta-feira que assinaram o acordo que dá a tropas americanas acesso a sete bases colombianas.

O ministro colombiano do Exterior, Jaime Bermúdez, disse que o conteúdo do entendimento será divulgado na semana que vem.

As negociações do acordo, em agosto, causaram mal-estar entre os vizinhos da Colômbia, como Brasil, Equador e Venezuela, temerosos quanto ao aumento da presença militar americana em suas fronteiras.

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, teve de acionar sua diplomacia e dar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sua "palavra" de que o uso de bases militares pelos americanos se limitará ao território colombiano.

"Que fique claro: o que este acordo busca é acabar com o narcotráfico e o terrorismo na Colômbia. Os países vizinhos e toda a região podem ficar tranquilos", declarou nesta sexta-feira o Bermúdez em entrevista à rádio colombiana RCN.

Em nota à imprensa, a chancelaria colombiana garantiu que as operações americanas se darão "com base nos princípios de respeito total da igualdade soberana, integridade territorial e não-intervenção nos assuntos internos dos outros Estados".

Um dos maiores críticos da negociação colombiana com os Estados Unidos foi o presidente venezuelano, Hugo Chávez.

Em agosto, o líder da Venezuela taxou o acordo de "ameaça" à integração regional, e disse que, com a aproximação, os Estados Unidos desejam manter os olhos sobre a Amazônia brasileira, o petróleo venezuelano e o Aquífero Guarani, no Cone Sul, considerado a maior reserva de água doce do mundo.

Fonte: BBC Brasil

Entenda o que muda com a Venezuela no Mercosul

A Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou nesta quinta-feira o protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul. A decisão ocorre depois de meses de discussões entre parlamentares governistas e de oposição.

A matéria já passou pela Câmara. Após aprovação na comissão, deverá ser votada no plenário do Senado.

O protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul foi assinado em 2006 e deve ser aprovado por todos os integrantes para que o país se torne um membro integral do bloco.

Argentina e Uruguai já ratificaram o ingresso da Venezuela no Mercosul. O Paraguai espera a decisão do Brasil para votar o protocolo.

Abaixo, a BBC Brasil responde a algumas perguntas sobre os impactos da entrada da Venezuela no Mercosul.

Que impacto a entrada da Venezuela no Mercosul deverá ter no bloco e nas relações com outros países?

Setores contrários à entrada da Venezuela no Mercosul afirmam que o governo do presidente Hugo Chávez deixa a desejar em relação ao respeito aos princípios democráticos e que a adesão de seu país pode ser prejudicial ao bloco.

De acordo com analistas consultados pela BBC Brasil, o estilo "personalista" de Chávez pode ser motivo de temor em alguns países da região.

"É um tipo de governo que, de alguma forma, traz outro comportamento para dentro do Mercosul", diz Sônia de Carmago, professora da PUC-Rio. Segundo ela, enquanto Lula tem uma atuação "agregadora" em política externa, o presidente venezuelano é mais intempestivo e cultiva um "nacionalismo exacerbado".

José Alexandre Hage, professor de Relações Internacionais da Trevisan Escola de Negócios, questiona ainda como o bloco irá agir diante de problemas que a Venezuela tradicionalmente tem, como os conflitos com a Colômbia.

"Se a Venezuela entra no Mercosul, de certa forma estamos corroborando os problemas dela. E a rivalidade que a Venezuela tem com a Colômbia, por exemplo? Como fica o bloco?", questiona.

O discurso antiamericano do presidente da Venezuela também é visto por alguns como um problema, e há o temor de que possa prejudicar as relações do bloco com os Estados Unidos. "Uma alta dose de Chávez no Mercosul pode aumentar uma ideologização antiamericana", diz Hage.

Há ainda o temor de que a presença da Venezuela prejudique as negociações para um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.

No entanto, o argumento dos defensores do ingresso da Venezuela no Mercosul é o de que não se pode impedir a entrada do povo venezuelano no bloco devido à atual circunstância política e que deixar o governo Chávez isolado seria pior.

"O problema não é a Venezuela, todo mundo quer que a Venezuela faça parte do Mercosul. O problema é o governo Chávez", diz Georges Landau, conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

A Venezuela deve se beneficiar da integração comercial com o Mercosul. De acordo com alguns analistas, também o bloco teria benefícios com o ingresso do país.

"Do ponto de vista de se criar um bloco político mais coeso, a entrada da Venezuela pode ajudar. De certa forma, os países que compõem o Mercosul são muito parecidos na essência, com governos de centro-esquerda, com traços de um certo nacionalismo. O Chávez é um pouco mais denso nesse nacionalismo, isso pode dar ao bloco um pouco mais de consistência", afirma Hage.

O ingresso da Venezuela no Mercosul pode aumentar o poder de influência de Hugo Chávez na região?

Alguns analistas afirmam que o ingresso da Venezuela no Mercosul dará a Chávez mais poder de influência na região. O país, que já integra a Alba (Aliança Bolivariana para as Américas) e a Unasul (União de Nações Sul-Americanas), ganharia um palco importante.

"Aumenta o grau de projeção de Chávez, tem muito mais espaço de articulação", diz Hage. "Ganharia um palco muito melhor que Unasul e Alba, que são expectativas, enquanto o Mercosul, apesar da crise, realmente existe."

Como os venezuelanos veem a adesão do país ao bloco?

Nesta semana, um dos principais opositores de Chávez, o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, veio ao Brasil e defendeu a aprovação da entrada da Venezuela no Mercosul. O líder opositor afirma que o povo venezuelano não pode ser punido com o isolamento por causa do governo Chávez.

Além disso, há a expectativa de que, com a entrada da Venezuela, aumente o poder de pressão do Mercosul sobre o governo Chávez, para que cumpra pré-requisitos democráticos. Em uma audiência no Senado, Ledezma disse que a adesão da Venezuela ao Mercosul seria uma chance de "enquadrar" Chávez.

O Protocolo de Ushuaia, parte do Tratado de Assunção, que criou o Mercosul, afirma que "a plena vigência das instituições democráticas é condição essencial para o desenvolvimento dos processos de integração" do bloco. Em caso de não cumprimento das cláusulas democráticas, um país pode sofrer suspensão.

"A Venezuela é uma democracia em termos formais, mas tem uma forma de governo muito autoritária", diz Sonia de Camargo.

No entanto, alguns analistas afirmam que os resultados práticos desse tipo de pressão por parte do Mercosul podem ficar aquém do esperado. "Não há mecanismos para isso, porque o Mercosul é muito pouco institucionalizado", diz Hage.

Apesar das limitações, alguns defensores do ingresso da Venezuela no Mercosul afirmam que é melhor ter o país no bloco, atendendo a algumas regras, do que independente e sem controle.

Qual o impacto econômico da adesão da Venezuela ao Mercosul?

No ano passado, a balança comercial do Brasil com a Venezuela alcançou US$ 5,7 bilhões, com superávit de US$ 4,6 bilhões para o Brasil.

Desde 2007, o Brasil passou a ser o segundo sócio comercial do país, ficando atrás somente dos Estados Unidos, principal consumidor do petróleo venezuelano.

A Venezuela importa 70% do que consome, a maior parte da Colômbia e dos Estados Unidos. Defensores afirmam que o ingresso do país no Mercosul traria vantagens econômicas e fortaleceria o PIB do bloco. Também estenderia o bloco para o norte da América do Sul, com influência na região caribenha e benefícios para os Estados da região norte do Brasil.

Para fazer parte do Mercosul, a Venezuela tem de cumprir critérios, entre eles a adoção da Tarifa Externa Comum (TEC), vigente no comércio do bloco. Críticos afirmam que a Venezuela ainda não cumpriu esses critérios e não aceitou o tratado de tarifas comuns com terceiros países.

Fonte: BBC Brasil

terça-feira, 27 de outubro de 2009

País pobre perde até 89% dos 'cérebros'

Guiana, Haiti e Granada estão entre os locais nos quais mais de 80% dos que atingem o nível superior se mudam para trabalhar no exterior

Em Guiana, que faz fronteira com Roraima e Pará, de cada dez pessoas que terminam a faculdade, nove deixam o país. Quadro semelhante foi constatado em Granada e na Jamaica (8,5 em cada dez), no Haiti (8,4) e em pequenos países africanos e asiáticos, aponta o estudo Fluxo de Capacidade: Uma Reconsideração Fundamental da Mobilidade dos Trabalhadores Capacitados e o Desenvolvimento. O trabalho faz parte de uma série de pesquisas que subsidiaram o RDH (Relatório de Desenvolvimento Humano) de 2009, intitulado Ultrapassar Barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos.

O documento aponta que as nações menores e mais pobres são as que mais sofrem com a fuga de cérebros. “Sabendo que esses países também concentram os piores índices educacionais e o menor número de trabalhadores com nível superior, esse tipo de mão-de-obra está deixando precisamente os lugares onde ela é mais escassa”, afirma o texto do pesquisador Michael A. Clemens. No total, elenca o estudioso, 81 países têm pelo menos 15% de seus cidadãos formados vivendo fora, e em 34 dessas nações a proporção supera um terço. O estudo foi feito com dados de 2000 referentes a 173 países-membros da ONU.

A lógica verificada mundialmente se repete no interior de países de grande extensão, como o Brasil. Cálculos feitos pelo pesquisador com base em dados do Censo de 2000 mostram uma tendência de a população brasileira com nível superior deixar Estados pequenos e pobres, como o Acre e Piauí, e permanecer em populosos e ricos, como São Paulo e Rio de Janeiro.

Uma das principais razões para esse movimento é o abismo salarial entre os países desenvolvidos e o restante. “Um desenvolvedor de software na Índia pode triplicar seus ganhos reais ao mudar para os Estados Unidos; um médico da Costa do Marfim pode multiplicar seu salário por seis se for trabalhar na França”, afirma o texto. Por ganho real, entenda-se o salário ajustado pela paridade do poder de compra, que elimina a diferença de custo de vida entre os países.

O gráfico abaixo mostra alguns desses exemplos de disparidade de renda:




Outros fatores

A desigualdade salarial, entretanto, não é o único fator que contribui para que as pessoas com maior instrução deixem países pobres. Conflitos armados, falhas nas instituições, corrupção, condições de trabalho precárias, poucas oportunidades de se aprimorar profissionalmente e repressão política também influenciam.

Para mostrar como a questão vai além do salário, Clemens deteve-se sobre o período de maior fuga de cérebros de algumas nações. A análise mostra que na Etiópia, por exemplo, o aumento da saída de formados coincidiu com a ascensão de uma junta militar marxista chamada Derg (de 1974 a 1991), que antecedeu uma violenta guerra civil. De forma semelhante, a fuga de cérebros cresceu na Libéria durante a ditadura de Samuel Doe (1980 a 1990) e o regime violento de Charles Taylor (1997 a 2003). A Uganda também registrou maior crescimento durante instabilidades do governo na década de 80 e o Zimbábue a partir da crise econômica no mandato de Robert Mugabe (no início da década de 90).

Barreiras

O estudo afirma que se formou um consenso de que a fuga de pessoas com nível superior tem papel prejudicial, particularmente na saúde. Agências da ONU como a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) fizeram alertas nesse sentido, e um dirigente da Associação Médica Britânica chegou a classificar a emigração de profissionais da área como “estupro dos países mais pobres”. Um especialista chega a sugerir que aqueles que recrutam profissionais de saúde desses países deveriam ser julgados por crimes contra a humanidade.

Esse tipo de pensamento fez com que os britânicos durante muitos anos não divulgassem vagas de trabalho para países em desenvolvimento e que a UNCTAD recomendasse que políticas fossem criadas para reduzir esse fluxo, comenta Clemens. O trabalho do pesquisador, entretanto, contesta a visão de que os profissionais mais capacitados de países pobres devem ser controlados para não “fugirem”. Mesmo que não houvesse fluxo migratório, as nações em desenvolvimento ainda sofreriam com a falta de profissionais de saúde, segundo estudos da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). “Essa e muitas outras razões explicam o porquê de um maior número de médicos e enfermeiras que emigram de um país africano não estar diretamente relacionado com menores índices de saúde daquela nação”, afirma.

Outra das razões, segundo o texto, é que não há estudos que provem — e nada garante — que, ficando no país, os especialistas vão se dedicar à população menos favorecida e mais carente. “No Quênia, apenas 8,3% da população vive na capital Nairóbi, mas 65,8% dos médicos estão concentrados lá. Em Moçambique, apenas 8% da população mora na capital Maputo, que abriga 51% dos médicos do país”, argumenta.

Propostas

Clemens cita algumas boas práticas para combater as causas da fuga de cérebros. Entre elas, está ampliar incentivos ou prêmios para melhorar a qualidade dos serviços e fazê-los chegar a regiões rurais. O autor cita pesquisas que mostram que gratificações de menos de 1% sobre o salário já são suficientes para fazer com que médicos comecem a se mudar para localidades rurais. Da mesma forma, pequenas gratificações por qualidade dos serviços melhorariam a situação da saúde ao mesmo tempo em que diminuiriam a opção por sair do país.

Outra ação tomada por alguns países que pode funcionar, diz o estudo, é proporcionar bolsas de estudo e empréstimos para aqueles que querem estudar em centros universitários fora do país, com a contrapartida de que, após a conclusão da faculdade, essas pessoas possam pagar ao governo voltando e trabalhando no país de origem. Desburocratizar o exercício de certas profissões e incentivar centros de excelência também pode ajudar.

Fonte: PNUD Brasil


quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Brasil é eleito para o Conselho de Segurança da ONU

O Brasil foi eleito nesta quinta-feira para um mandato de dois anos em uma das vagas rotativas do Conselho de Segurança da ONU.

O mandato brasileiro entra em vigor no dia 1º de janeiro de 2010 e vai até o dia 31 de dezembro de 2011.

É a décima vez que o país ocupa uma posição no Conselho de Segurança, o órgão da ONU responsável pela manutenção da paz e da segurança internacional.

É também a segunda vez que o país ocupa uma vaga rotativa na ONU durante a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva. A primeira foi entre 2004 e 2005.

Vaga

O país será representado pela primeira vez no Conselho por uma mulher, a embaixadora Maria Luisa Viotti, que comanda a missão brasileira na ONU.

O Brasil vem pleiteando há muitos anos um assento permanente no Conselho da ONU, mas, a despeito de ter obtido manifestações de apoio por diferentes países, ainda não alcançou esse objetivo.

Os membros permanentes do Conselho são Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia e China, que tem direito de veto em qualquer medida votada pelo órgão.

A eleição do Brasil já era esperada e não houve outros concorrentes entre os países da América Latina. Ao todo, 182 países de um total de 183 votaram no Brasil.

As outras nações que obtiveram vagas não-permanentes para o mandato de 2010-2011 foram Bósnia-Herzegóvina, Gabão, Líbano e a Nigéria.

O Brasil e estas nações se somarão a Áustria, Japão, México, Turquia e Uganda, que cumprem mandato relativo a 2009 e 2010.

O país já integrou o Conselho de Segurança da ONU em 1946-47, 1951-52, 1954-55, 1963-64, 1967-68, 1988-89, 1993-94, 1998-99 e 2004-05.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, entre as prioridades brasileiras ao longo de seu mandato estão "a estabilidade no Haiti, a situação na Guiné-Bissau, a paz no Oriente Médio, os esforços em favor do desarmamento, a promoção do respeito ao Direito Internacional Humanitário, a evolução das operações de manutenção da paz e a promoção de um enfoque que articule a defesa da segurança com a promoção do desenvolvimento socioeconômico".

Fonte: BBC Brasil

Especialista diz que em 20 anos Oceano Ártico pode não ter mais gelo no verão

Um especialista em gelo polar afirmou que o Oceano Árctico poderia perder todo o seu gelo durante o verão e se tornar navegável nos meses mais quentes em até 20 anos.

"É como se o homem estivesse tirando a tampa da parte norte do planeta", afirma o professor Peter Wadhams, da Universidade de Cambridge.

Wadhams vem estudando o gelo ártico desde os anos 60. Em uma palestra em Londres, ele apresentou os resultados da Catlin Arctic Survey, uma pesquisa realizada durante uma expedição de 435 quilômetros ao longo do Ártico este ano.

Uma equipe liderada pelo explorador Pen Hadow descobriu que as camadas de gelo que se formam no verão têm cerca de 1,8 metros de profundidade, o que é considerado muito pouco em relação ao histórico da região.

'Novo consenso'

"Os dados da Catlin Arctic Survey servem de base ao novo consenso - baseado na variação sazonal da extensão e profundidade do gelo - de que o Ártico não terá gelo no verão em cerca de 20 anos, e muito dessa diminuição ocorrerá em dez anos", diz Wadhams, que analisou os dados da expedição.

"Isso significa que você poderá tratar o Ártico como se fosse fundamentalmente um mar aberto no verão, com possibilidade de transporte pelo Oceano Ártico."

Segundo Wadhams, no curto prazo, o derretimento traz alguns benefícios, como mais facilidade na navegação e maior acesso a reservas de petróleo e gás.

Mas no longo prazo, a perda permanente do gelo pode acelerar o aquecimento global, mudar os padrões de ventos nos oceanos e na atmosfera e ter efeitos desconhecidos em ecossistemas devido ao aumento da acidez das águas.

Pen Hadow e seus parceiros Ann Daniels e Martin Hartley enfrentaram ventos fortes, temperaturas de menos de 70 graus, falta de comida e atrasos no suprimento de mantimentos durante a expedição entre os dias 1º de março e 7 de maio.

Hadow admite que a expedição não produziu nenhum "grande salto adiante no conhecimento", mas afirma que ela ajudou os cientistas a entender mais sobre o gelo, com dados que não estavam disponíveis nas medições por satélite e por submarinos.

O explorador disse que está chocado com a perspectiva de "em minha vida vermos mudanças em como o planeta é visto do espaço".

Ele também disse que as expedições para o Ártico mudaram, e são diferentes do passado, quando cães puxavam trenós pelo gelo.

"Os cachorros conseguem nadar, mas eles não conseguem puxar um trenó na água, que é o que precisamos agora", disse.

"Agora temos que vestir roupas de mergulho e nadar, e precisamos de trenós que boiam. Eu prevejo trenós que são mais parecidos com canoas, para que possam ser puxados na água."

Fonte: BBC Brasil

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Produção de alimentos precisa aumentar 70% até 2050, diz ONU

A produção mundial de alimentos deve aumentar em 70% nos próximos 40 anos para suprir a demanda crescente, de acordo com um relatório divulgado nesta segunda-feira pela FAO, a agência da ONU para alimentação e agricultura.

O órgão calcula que os governos de países em desenvolvimento precisam passar a investir anualmente US$ 44 bilhões em agricultura para alimentar uma população que calcula-se que será de 9 bilhões de pessoas em 2050.

Atualmente, este investimento é de US$ 7,9 bilhões.

As mudanças climáticas e o êxodo para a cidades também devem contribuir para a falta de alimentos nos próximos anos, diz o relatório.

Aquecimento global

"O desafio não é apenas aumentar a futura produção global, mas aumentá-la onde ela é mais necessária", disse o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf.

"Deve existir um foco especial em pequenos fazendeiros, mulheres e seu acesso à terra, água e sementes de qualidade, além de outros recursos modernos."

Efeitos das mudanças climáticas como secas e enchentes podem reduzir a produção agrícola em 30% na África e 21% na Ásia, diz a FAO.

A produção de alimentos também deverá competir com lavouras de biocombustíveis, que devem aumentar em 90% na próxima década.

"A agricultura mundial deverá enfrentar as consequências das mudanças climáticas, em especial do aumento das temperaturas, uma variação maior do regime de chuvas e fenômenos climáticos extremos cada vez mais frequentes", disse Diouf.

A FAO diz que estas mudanças devem reduzir a quantidade de água disponível e aumentar a incidência de pragas e doenças em plantas e animais.

Fonte: BBC Brasil

Lula projeta Brasil a 'líder regional e ator global de 1ª ordem', diz jornal argentino

O jornal argentino La Nación afirma em seu principal editorial desta segunda-feira que, enquanto a Argentina perde espaço e importância no cenário internacional, o Brasil se consolida como "líder regional e ator global de primeira ordem".

O texto, intitulado Brasil, nas grandes ligas, atribui o resultado ao trabalho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que por sua vez seguiu a "via das políticas de Estado (…) traçadas nos oito anos anteriores pelo presidente Fernando Henrique Cardoso".

Os editorialistas fazem sua análise a partir do que chamam de "dois troféus" aquinhoados por Lula em sua recente viagem à capital dinamarquesa, Copenhague: a eleição do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016 e o apoio da União Europeia ao modelo brasileiro de combate ao desmatamento, que será apresentado na mais importante reunião sobre o clima do ano, que ocorre em dezembro, também em Copenhague.

Sobre a escolha do Rio como sede olímpica, o jornal avalia que a atuação brasileira na disputa, apartidária, mostrou uma "formidável imagem de como se defende o interesse nacional". O La Nación sugere que, se Buenos Aires tivesse sido candidata, "aversões pessoais" entre os políticos argentinos impediriam uma postura semelhante.

Para o jornal "não é novidade que o Brasil, pelo carisma e o impulso de seu presidente, jogue nas grandes ligas".

"A novidade é que, em meio a sérios problemas de desigualdade e de corrupção ainda não resolvidos, Lula tenha conseguido projetar seu país como um líder regional que não admite essa definição, ainda que saiba que esta cada vez mais perto de sê-lo."

Exemplos dessa projeção são o diálogo de Lula com o presidente americano, Barack Obama, "enquanto Cristina Kirchner, ainda não consciente de que todos os seus ataques contra Bush se traduzem de forma imediata em Washington como ataques contra os Estados Unidos, não teve ocasião de dialogar senão em breves intervalos de cúpulas internacionais com Obama".

O jornal observa que "em 2011 terminará o segundo período de Lula". "Terminará também esta tendência? Não. Definitivamente não. Em 2014 o Brasil será sede do campeonato mundial de futebol; em 2016, o Rio de Janeiro receberá os atletas."

Os editorialistas tentam explicar por que, apesar da crise, "o Brasil recebe investimentos diretos em maior volume que a Argentina" e tem recursos para emprestar ao FMI, e por que "em cada cúpula da Unasur (o grupo de países sul-americanos), os olhares apontam para Lula e os ouvidos esperam suas reflexões".

"Talvez porque, no plano político, os escândalos de corrupção nunca terem lançado dúvidas sobre Lula; porque ele cumpriu sua palavra empenhada sem desmerecer às instituições nem às pessoas que pensam diferente; e porque nunca teve a estranha idéia de construir um trem bala onde falta comida."

Fonte: BBC Brasil

Brasil alvoroça ordem mundial, diz 'El País'

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega a Nova York para participar da abertura da Assembleia Geral da Onu em situação “que não poderia estar melhor”, segundo reportagem publicada nesta terça-feira pelo diário espanhol El País.

Lula deve pedir reformas nas instituições financeiras internacionais, um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e deve defender a intervenção do Estado na economia para evitar excessos financeiros, diz o jornal.

Lula “falará com a autoridade de quem chega com os deveres de casa muito bem feitos”, afirma a reportagem, destacando que a crise financeira “não passa de uma lembrança no Brasil”.

“O Brasil se recuperou com rapidez e dinamismo e provavelmente vai fechar o ano com crescimento bastante superior ao do resto dos países membros do G20.”

O presidente também deve pedir aos 192 países participantes da Assembleia Geral que não baixem a guarda diante da recente recuperação econômica e coloquem em prática as medidas anticrise que vêm sendo discutidas desde a cúpula do G20 em Washington, em novembro passado.

“Quando a crise mundial alcançou seu ápice, o Brasil anunciou um empréstimo ao FMI no valor de US$ 10 bilhões e, desta maneira, passou a formar parte do seleto grupo de sócios doadores da instituição”, diz o jornal.

O jornal diz que Brasília considera a estrutura de órgãos como o Banco Mundial e o FMI está hoje totalmente obsoleta e não é representativa dos países emergentes.

“Desta maneira, o Brasil enfrenta uma semana de ofensiva diplomática para consolidar sua condição de líder regional sul-americano e novo ator de transcendência no panorama internacional.”

O Brasil, “que há anos assume o papel de porta-voz oficioso dos países em vias de desenvolvimento”, também deverá reclamar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, “orgão onde se tomam as verdadeiras decisões”, diz o jornal.

Para o Brasil, o assento seria uma forma de fazer com que os interesses do Terceiro Mundo sejam levados em conta “verdadeiramente”.

Como argumento, o país conta com a indiscutível liderança na América do Sul, “esta supremacia se assenta em uma sólida economia que, segundo os analistas, já representa 57% do capital sul-americano”.

Fonte: BBC Brasil