sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Brasileiro conhece riscos do aquecimento, mas quer ação do governo

Pesquisa foi feita com empresários, cientistas, congressistas e jornalistas.
Apesar de bom nível de informação, consciência sobre tema é recente.

O aquecimento global finalmente virou assunto sério no país, a julgar por uma pesquisa realizada com 210 pessoas consideradas líderes da sociedade brasileira (empresários, cientistas, congressistas, membros do governo e de ONGs e jornalistas). Todos esses diferentes grupos afirmam que a mudança climática deve ser vista como prioridade para o Brasil, vêem o problema como um dos desafios decisivos (se não o mais decisivo) para a humanidade neste século e dizem estar prontos para assumir sua parcela de responsabilidade para melhorar a situação.

Todos, no entanto, também afirmam que cabe ao governo brasileiro mobilizar a sociedade para que o país contribua para o esforço internacional de enfrentar o problema. Isso ajuda a explicar por que, embora os líderes brasileiros estejam consideravelmente bem informados sobre a mudança climática e com disposição para agir, o país ainda está longe de virar uma superpotência ambiental.

“Primeiro, você tem de considerar que as pessoas ouvidas são as mais bem-educadas e informadas do Brasil. O pressuposto é que há um abismo entre eles e o resto da população. O mais importante, no entanto, é que até a conscientização da maioria deles é um fenômeno recente. Para muitos, a ficha só caiu em 2007, com acontecimento como o relatório do IPCC [órgão da ONU que reúne os principais especialistas em mudança climática]”, contou ao G1 a cientista social Samyra Crespo, coordenadora da pesquisa, realizada pelo Iser (Instituto de Estudos da Religião) com apoio da Embaixada Britânica no Brasil. Apesar do nome, as pesquisas feitas pelo Iser atualmente abordam temas ligados ao ambiente e aos direitos humanos.



Em profundidade



Para o trabalho sobre a percepção pública do aquecimento global, o Iser utilizou uma metodologia de pesquisa qualitativa, a chamada entrevista em profundidade, em que cada participante da pesquisa é ouvido por 50 minutos por um entrevistador que o visita em pessoa.

Algumas das categorias ouvidas na pesquisa claramente mostraram-se mais bem informadas e engajadas no problema do que outras. Os membros do Congresso são os que se saíram pior nessa categoria, enquanto os cientistas, que lidam diretamente com a base do tema, tiram as melhores “notas” nesse quesito.

Todos os entrevistados também reconhecem a importância de evitar o desmatamento na Amazônia, principal fonte de gases-estufa produzidos pelo Brasil, para participar do esforço de combate ao problema no mundo. “Ao mesmo tempo, existe uma série de angústias: as pessoas sabem que sacrifícios serão necessários, mas não têm certeza sobre qual será o timing disso, e como isso vai afetar a competitividade do país. Têm consciência de que se trata de uma questão geopolítica, na qual o governo precisa intervir, mas não estão vendo a liderança clara capaz de fazer isso”, diz Crespo.

Segundo a cientista social, a idéia é repetir a pesquisa com as mesmas perguntas dentro de dois ou três anos, de forma a acompanhar como a percepção do assunto vai evoluir. “Aparentemente, o que mesmo os líderes ainda não perceberam é que não existe uma verdadeira divisão de vontades entre aqueles que querem enfrentar o problema das mudanças climáticas e aqueles que querem o crescimento econômico. O necessário neste momento é juntarmos nossas esperanças para transcender essa falsa dicotomia”, afirma a pesquisadora.

Fonte: G1

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