segunda-feira, 30 de março de 2009

Governo deixa de arrecadar R$ 700 mi neste ano com medidas de incentivo

O governo vai deixar de arrecadar R$ 700 milhões em 2009 com as mudanças tributárias anunciadas hoje pelo Ministério da Fazenda. A redução de impostos em contribuições trará uma perda de R$ 1,675 bilhão, que será compensada parcialmente pelo aumento na tributação dos cigarros, no valor de R$ 975 milhões.

O ministro Guido Mantega (Fazenda) anunciou hoje em São Paulo, a desoneração do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) por três meses para uma série de materiais de construção e a prorrogação da redução do mesmo imposto para veículos, previsto para terminar amanhã.

Para compensar essa perda de arrecadação tributária, o governo vai elevar as alíquotas do IPI e do PIS/Cofins sobre os cigarros, que terá validade a partir de 1º de maio. A expectativa do governo é que o preço final do produto suba até 25% com a decisão.

Outra medida é o benefício fiscal para motocicletas, que teve redução de Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) de 3% para zero.

Por fim, o governo ampliou a lista dos setores considerados prioritários na área da Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) --têm isenção de IRPJ (Imposto de Renda Pessoa Jurídica). Foram beneficiadas as empresas de papel e celulose, desde que tenham projeto de reflorestamento, material descartável (barbeadores, canetas, lápis, lapiseiras), brinquedos, relógios e materiais óticos.

As medidas foram assinadas por Alencar e serão publicadas no "Diário Oficial da União" na terça-feira. Elas entram em vigor amanhã, com exceção das tarifas sobre cigarro, que passam a valer em maio.

Fonte: Folha Online

ONU vai monitorar gênero e raça no Brasil

Parceria entre várias agências e o governo vai elaborar relatórios de avaliação sobre inclusão de mulheres, em especial negras, no Brasil.

Agências da ONU lançaram em março, em conjunto com o governo brasileiro, um programa para avaliar, no Brasil, a evolução dos direitos e participação política das mulheres, em especial mulheres negras. O Programa Interagências para Promoção de Igualdade de Gênero e Racial foi elaborado em 2008 e, a partir deste ano, deverá fazer relatórios anuais sobre a evolução dos direitos das mulheres no país, além de orientar o desenvolvimento de ações para inclusão nos governos federais e locais, e em organizações não governamentais.

As agências da ONU envolvidas no projeto são PNUD , UNIFEM (Fundo das Nações Unidas para a Mulher), a OIT (Organização Internacional do Trabalho), UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas), UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e o UN-HABITAT (Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos). Além dos órgãos, a parceria envolve ainda duas secretarias do governo federal: a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres e a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

Serão criados indicadores de desenvolvimento separados por sexo, raça e idade, afirma o documento oficial do programa. Além disso, as equipes oferecerão treinamentos sobre políticas públicas para mulheres e negros e produzirão materiais didáticos para os cursos. O programa prevê, ainda, a criação de cursos para jornalistas interessados no tema.

O Brasil, informa o texto, tem algumas das menores taxas de participação feminina na política. Elas são apenas 9% dos deputados federais e comandam só 7,35% das 5.564 prefeituras do país. “Será necessário construir políticas e compromissos que garantam a autonomia da mulher”, conclui, indicando qual deve ser a direção das políticas do governo.

Dentre os principais objetivos, está a o aumento da eficácia de programas governamentais já existentes. O projeto propõe que diferentes ministérios (da educação, da saúde e do planejamento) também incorporem questões de gênero em suas atuações.

O programa ainda defende a criação de planos municipais e estaduais para políticas de gênero e raça como uma forma de expandir o acesso dessas populações à educação e serviços de saúde.

Fonte: PNUD

Combate ao desmatamento terá US$ 18 mi

Verba da ONU será destinada a ações de países tropicais que visem diminuir a emissão de gases poluentes pela queima de florestas

Um programa da ONU, cujo objetivo é reduzir a emissão de gases do efeito estufa resultantes do desmatamento de florestas, destinará US$ 18 milhões para projetos em países da África, Ásia e América Latina, que buscam incentivar ações sustentáveis em comunidades de países tropicais.

A iniciativa é denominada UN-REDD (Programa da ONU para a Redução de Emissões do Desmatamento de Florestas, na sigla em inglês). É uma parceria entre PNUD, FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), e PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e busca subsidiar um futuro acordo climático, que pode ser firmado na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que acontecerá em dezembro, em Copenhague (capital da Dinamarca).

Os US$ 18 milhões serão usados na implementação de programas de manejo sustentável em áreas de floresta, que buscam trazer benefícios não apenas ambientais, mas econômicos para a população. As atividades desenvolvidas pelos países contemplados deverão incluir ainda programas de fiscalização do desmatamento e ações de fortalecimento de instituições nacionais ligadas ao meio ambiente. Tudo será desenvolvido por meio de consultas públicas a comunidades indígenas e a moradores das regiões beneficiadas.

Nove países já expressaram interesse formal em receber parte da verba do programa: Bolívia, República Democrática do Congo, Indonésia, Panamá, Papua Nova Guiné, Paraguai, Tanzânia, Vietnã e Zâmbia. Cinco desses países – Rep. Do Congo, Indonésia, Papua Nova Guiné, Tanzânia e Vietnã – já apresentaram suas estratégias nacionais para a implementação do programa durante a reunião inaugural da diretoria do projeto, no Panamá. “Este é um primeiro passo bastante significativo para o UN-REDD”, afirmou, durante o evento, Angela Cropper, secretária-geral assistente da ONU e diretora-executiva do PNUMA. “Estou emocionada em ver um grupo tão dedicado de países, grupos indígenas, membros da sociedade civil, doadores e membros da ONU se unirem para chegar a um consenso sobre a importância desse programa”.

O UN-REED foi lançado em setembro do ano passado e é uma resposta a um acordo firmado em 2007, na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, em Bali. Na ocasião, os países-membros se comprometeram a negociar instrumentos de continuidade da redução de emissão de gases do efeito estufa para depois de 2012 – quando vencem as metas de redução do Protocolo de Quioto. A iniciativa engloba, inclusive, incentivo financeiro para mitigar a mudança climática gerada pela devastação de florestas em países em desenvolvimento.

Entre 1990 e 2005, as taxas de desmatamento no mundo chegaram a 13 milhões de hectares – grande parte dessa devastação florestal está na região dos trópicos. A emissão de gases de efeito estufa por meio da derrubada e queima de árvores para agricultura e outras atividades econômicas correspondeu a 17% do total de emissões do mundo – a segunda maior fonte depois do setor de energia. Até 2100, clareiras em florestas tropicais poderão liberar de 87 a 130 gigatoneladas de carbono na atmosfera.

Fonte: PNUD

Líderes decidem construir bases para nova economia mundial



Os chefes de Estado e de Governo que participam da Cúpula de Líderes Progressistas, que aconteceu na cidade chilena de Viña del Mar, decidiram "construir as bases de uma economia que permita o amplo compartilhamento da prosperidade" e evitar que o desastre econômico e financeiro gere uma explosão social.

Fonte: UOL

Obama descarta envio de tropas ao Paquistão e retirada antecipada do Iraque

Ele admitiu que podem ocorrer ataques aéreos a alvos no Paquistão.
'Se houver um alvo de alto valor (...), iremos atrás dele', disse.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se comprometeu neste domingo (29) a não enviar tropas para perseguir insurgentes no Paquistão, e descartou acelerar o ritmo da retirada militar do Iraque, argumentando que o país "está no caminho certo, mas ainda precisa de ajuda".

"Não mudei meu foco", disse Obama, em entrevista ao programa 'Face the Nation', do canal CBS, na qual se referiu aos ataques com mísseis contra militantes no Paquistão.

Obama admitiu, no entanto, que ataques aéreos serão lançados contra alvos inimigos.

"Se houver um alvo de alto valor em nossa mira, após consultar o Paquistão, iremos atrás dele", disse, mas negou que pretenda enviar tropas em perseguição a insurgentes dentro do território paquistanês.

"Nosso plano não muda o reconhecimento do Paquistão como um governo soberano", afirmou. "Precisamos trabalhar com eles, e através deles, para lidar com a Al Qaeda. Mas temos que nos responsabilizar mais".

"Acho que esta é uma guerra dos Estados Unidos", respondeu, perguntado se esta seria uma guerra pessoal.

"E o foco durante os últimos sete anos, acho que se perdeu. O que queremos fazer é voltar nossas atenções novamente para a Al Qaeda", acrescentou, referindo-se indiretamente ao governo de George W. Bush.

"Vamos arrancar suas redes e bases pela raiz. Vamos nos assegurar de que não poderão atacar cidadãos dos Estados Unidos, o território dos Estados Unidos, nem os interesses dos Estados Unidos, nem os de nossos aliados em todo o mundo", afirmou.

Inteligência

Com o Paquistão promovido a nova prioridade de Washington, o secretário de Defesa, Robert Gates, pediu ao serviço de inteligência que cortasse seus contatos com os extremistas do Afeganistão, referindo-se a eles como "uma ameaça à existência" do próprio Paquistão.

O serviço de inteligência paquistanês manteve vínculos com extremistas "durante muito tempo, como uma prevenção contra o que pudesse acontecer no Afeganistão, se nós formos embora ou algo do tipo", disse o secretário à rede de televisão Fox News neste domingo.

Quanto à presença militar no Iraque, Obama garantiu que manterá o calendário já previsto.

"Acho que o plano que estipulamos para o Iraque é o certo, constituído por uma retirada gradual através das eleições no Iraque", declarou Obama à CBS. "Ainda resta trabalho a ser feito no campo político, além de resolver diferenças entre os vários grupos sectários e assuntos como o petróleo e as eleições provinciais".

"Tenho confiança de que estamos no caminho certo. Mas o Iraque ainda não terminou. Ainda temos muito trabalho a fazer", insistiu o presidente.

"Ainda é preciso treinar as forças iraquianas para melhorar sua capacidade. Tenho certeza, no entanto, de que estamos andando na direção correta", insistiu.

Obama ordenou o fim das operações de combate americanas no Iraque até 31 de agosto de 2010, mas disse que 50.000 soldados permanecerão no país para uma nova missão até o fim de 2011.

Fonte: G1

Ilha francesa de Mayotte opta por integração plena à França

Hoje, ilha pertence à República de Comores, na costa africana.
Local será o quinto departamento ultramarino francês.

A ilha francesa de Mayotte, no Oceano Índico, decidiu neste domingo (29) adquirir o status de departamento e se aproximar mais da França, apesar da oposição de Comores, em um referendo que pode acabar com tradições locais como os tribunais islâmicos e a poligamia.

Com 58,3% dos votos contados, o 'sim' vencia com 94,1% das preferências, contra apenas 4,6% do 'não', anunciou a prefeitura de Mayotte, informando que a taxa de participação na consulta popular foi de 60,81%.

Os eleitores foram convocados para escolher se Mayotte se tornará o 101º departamento francês (o quinto departamento ultramarino) a partir de 2011, na última etapa do processo iniciado em 1974, quando os habitantes da ilha decidiram continuar franceses, enquanto as três outras ilhas do arquipélago de Comores optaram pela independência.

O governo de Comores, com o apoio da União Africana (UA), considerou o referendo "em um território ocupado" como "nulo e sem valor". Em vão, o arquipélago vinha pedindo a Paris que renunciasse à soberania de Mayotte, que afasta ainda mais o projeto camorense de "reunificação" das ilhas, que ficam no oceano Índico.

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, expressou sua "satisfação" com o triunfo do 'sim', que considerou "um momento histórico para Mayotte e os mayotenses".

Se confirmada a vitória do 'sim', algumas tradições da população local, como a poligamia a justiça islâmica, podem ser extintos.

Fonte: G1

Crise fez indústria cancelar R$ 21 bilhões em investimentos, diz Fiesp

Valor passou de R$ 102,5 bilhões para R$ 81,1 bilhões, segundo estudo.
Levantamento foi feito em mais de 1,2 mil indústrias de todo o país.

A forte contração da atividade econômica por causa da crise mundial abalou os planos de investimentos da indústria brasileira. Com demanda mais fraca no mercado interno e exportações em baixa, uma parte das empresas preferiu rever as estratégias de expansão.

Algumas optaram pela redução do volume planejado. Outras adiaram por tempo indeterminado - ou até cancelaram - projetos já autorizados até por conselhos de administração.

Sondagem feita pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com 1.204 indústrias do país, mostra que o número de empresas que não pretende investir em 2009 subiu de 11%, no ano passado, para 25%, atualmente. Isso significa que pelo menos uma em cada quatro companhias suspendeu seus projetos de ampliação.

Na prática, o volume de investimento vai encolher em R$ 21,4 bilhões - de R$ 102,5 bilhões para R$ 81,1 bilhões.

Manutenção do mercado

Como a maioria dos recursos seria aplicada na compra de máquinas e equipamentos para ampliação da produção, o recuo terá impacto direto na geração de empregos.

A expectativa é de uma redução de 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos em três anos, afirma o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho.

"Este ano a maioria das empresas vai investir apenas na manutenção de seus mercados. Dificilmente o quadro vai se alterar no curto prazo”, disse.

Fonte: G1

BC baixa para 1,2% previsão de crescimento do PIB de 2009

Antes, estimativa de crescimento do BC estava em 3,2%.
Com crise, expectativa de inflação cai abaixo da meta central

O Banco Central revisou nesta segunda-feira (30) a sua estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano de 3,2% para 1,2%, segundo números contidos no relatório de inflação do primeiro trimestre deste ano.

A queda da estimativa da autoridade monetária para o PIB acontece em meio à crise financeira internacional, que tem diminuído a concessão de crédito, derrubado o crescimento econômico ao redor do mundo, e também no Brasil, e gerado aumento do desemprego e da renda.

"Essa alteração [recuo na expectativa de crescimento] reflete, em parte, a queda da atividade econômica no último trimestre de 2008, mais intensa do que se antecipava; além dos sinais de que a recuperação ocorrerá de forma gradual ao longo do ano", informou o BC no relatório de inflação do primeiro trimestre deste ano.

Outras previsões

A previsão do Banco Central ainda está acima da estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), para quem o PIB ficará estagnado em 2009, isto é, em zero. No orçamento deste ano, o governo baixou a sua estimativa de crescimento de 3,5% para 2%, confirmando declarações anteriores do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que seria difícil atingir a meta de crescimento de 4% para 2009.

Para o mercado financeiro, segundo informações divulgadas também nesta segunda-feira (30), referentes à previsões feitas na semana passada, o PIB deverá ficar em zero neste ano. Durante a maior parte de 2008, antes da piora da crise, a previsão do mercado estava em 3,5% de expansão para 2009. Na última semana, o presidente do BC, Henrique Meirelles, já havia dito que a previsão da autoridade monetária ficaria acima da estimativa do mercado financeiro.

Setores econômicos

No relatório de inflação divulgado nesta segunda-feira (30), o BC informou que a nova estimativa de crescimento para este ano, de 1,2%, considera "reduções generalizadas" nos setores agropecuário, industrial e de serviços.

A agropecuária, segundo análise do BC, deverá recuar 0,1% em 2009, contra o aumento de 2,2% da projeção anterior (feita em dezembro), reversão associada, em especial, aos impactos esperados da redução da demanda externa sobre "commodities" agrícolas e sobre o produto da pecuária.

A produção da indústria, segundo o BC o "setor mais atingido pela deterioração das expectativas", deverá crescer 0,1% neste ano, ante o aumento de 3,4% que constava na projeção anterior, reflexo de reduções nas estimativas de crescimento em todos os segmentos industriais.

A indústria extrativa mineral deverá crescer 2,4%, contra 5,2% na projeção feita em dezembro de 2008, enquanto a produção da indústria de transformação deverá registrar redução de 1,6% em 2009, comparativamente à expansão de 3,1% projetada no relatório de dezembro de 2008, movimento "consistente" com o desempenho observado no início do ano, inferior ao previsto.

O crescimento da indústria da construção civil, que deverá seguir "favorecida pelas novas linhas de financiamento imobiliário", pelo programa de subsídio governamental para construção de casas populares e pelos investimentos no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), é estimado em 2,7%, recuando 1,6 ponto percentual em relação ao projetado anteriormente pelo BC.

Já a estimativa de expansão para o setor de serviços foi revista pela autoridade monetária de 3,1% para 1,7% em 2009, com ênfase nas reduções respectivas de 4,6 pontos percentuais e de 3,6 pontos percentuais nos segmentos comércio e transportes, impactados mais intensamente pela redução da oferta total de bens e serviços.

PIB pela ótica da demanda

Considerada a ótica da demanda, a maior revisão ocorreu na estimativa da Formação Bruta de Capital Fixo, ou seja, a taxa de investimentos da economia brasileira. Segundo o BC, é o "componente mais sensível" às expectativas e à evolução do produto, passando de 4,4% para 0,7% de crescimento.

"Embora apresente recuo expressivo, a manutenção da variação positiva desse componente considera a contribuição das obras de infra-estrutura do PAC e das medidas do governo visando estimular obras no âmbito da habitação popular; dos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para garantir recursos a investimentos; e da continuidade dos investimentos em setores específicos, a exemplo de exploração de petróleo e gás natural", informou o BC.

A estimativa de crescimento do consumo das famílias também foi reduzida, de 3,9% para 1,6%. "Este movimento, menos acentuado do que o registrado na formação bruta de capital fixo [investimentos], incorpora a persistência do impacto favorável da manutenção dos ganhos de rendimento real, proporcionada tanto pelo arrefecimento da inflação quanto pelos aumentos do salário mínimo e do alcance dos distintos programas de assistência social do governo federal", informou o BC no relatório de inflação.

Inflação

No relatório de inflação, o Banco Central também previu que os preços terão desaceleração neste ano e em 2010, ficando abaixo da meta central de inflação de 4,5% em ambos os ano - conforme já havia antecipado a autoridade monetária. Isso indica que há mais espaço para o BC continuar cortando a taxa básica de juros, atualmente em 11,25% ao ano.

O Banco Central utiliza dois cenários para projetar a inflação: o de referência (no qual a taxa de juros é mantida estável em 11,25% ao ano no horizonte de projeção e o câmbio permanece em R$ 2,35 por dólar) e o de mercado (que pressupõe redução dos juros para 10,25% ao ano no fim de 2009 e 2010; e câmbio ao redor de R$ 2,30 no fim deste ano e em 2010).

No chamado "cenário de referência", a projeção do Banco Central para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu de 4,7% para 4% em 2009, e de 4,2% para também 4% em 2010.

Já no "cenário de mercado", que utiliza as projeções dos economistas do mercado financeiro para juros e câmbio no futuro e, portanto, é mais factível, a projeção para o IPCA deste ano caiu de 4,5% para 4,1%. Para 2010, a expectativa do BC, com base no cenário de mercado, subiu de 4,3% para 4,4%.

Metas de inflação

No Brasil, vigora o sistema de metas de inflação, pelo qual o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central tem de calibrar a taxa de juros para atingir uma meta pré-determinada com base no IPCA.

Para este ano, e para 2010, a meta central de inflação é de 4,50%. Entretanto, há um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Com isso, o IPCA pode ficar entre 2,50% e 6,50% sem que a meta seja formalmente descumprida.

Deste modo, a previsão do BC, para 2009 e 2010, está um pouco abaixo da meta central tanto no cenário de referência, quanto no cenário de mercado. Para o ano de 2009, o BC informou que a probabilidade de o IPCA ficar acima do teto de 6,50% do sistema de metas de inflação, no cenário de referência e de mercado, é de apenas 1%.

Fonte: G1

OIT prevê aumento de 50 milhões de desempregados este ano

Perspectivas também não são otimistas para a OCDE.
Estimativa foi divulgada em encontro do G8 em Roma.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que haverá um aumento de 50 milhões de desempregados no mundo todo durante este ano, segundo um documento apresentado nesta segunda-feira (30), em Roma, durante a reunião dos ministros de Trabalho do Grupo dos Oito (G8, os sete países mais desenvolvidos e a Rússia).

Para a OIT, existe um risco de recessão prologada no mercado do trabalho por causa da crise e poderá se prolongar durante quatro ou cinco anos depois da recuperação econômica.

As perspectivas também não são otimistas para a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que prevê uma modesta recuperação na primeira metade de 2010, após um arrefecimento em 2009.

A reunião, realizada em Roma desde domingo e que terminará na terça-feira, procura possíveis intervenções tanto estatais quanto internacionais para enfrentar o problema do desemprego e apoiar as famílias mais desfavorecidas.

Além dos ministros de Trabalho do G8, foram convidados ao encontro os representantes de países com economias emergentes, como Brasil, China, Egito, África do Sul, México e Índia. Também há a participação do secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, e do diretor-geral da OIT, Juan Somavía.

O subdiretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), John Lipsky, e o comissário para Assuntos Sociais da União Europeia, Vladimir Spidla, também assistem ao encontro.

Fonte: G1

Imigrante sofre mais com o desemprego, aponta estudo da OIT

Entre imigrantes ilegais, taxa de desemprego é 50% maior, diz estudo.
Com crise, 5 milhões de pessoas podem perder o emprego na Europa.

Dentre os desamparados pela turbulência econômica, imigrantes em situação ilegal estão na linha de frente, afirmam instituições públicas e ativistas dos direitos humanos da União Europeia.

O efeito mais visível da crise e do preconceito é o desemprego, que entre estrangeiros é 50% superior à média nacional em países como a Espanha. No Reino Unido, desde a falência do banco americano Lehman Brothers, a chegada de imigrantes caiu 50%.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), até 5 milhões de pessoas poderão perder seus postos de trabalho na Europa em 2009. Destes, estrangeiros são os primeiros afetados, ao lado de jovens e idosos, afirmam especialistas. “Os primeiros a serem demitidos estão sendo os imigrantes irregulares”, atesta José Salazar, economista da OIT.

Jean-Christophe Dumont, economista da Direção de Trabalho da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), reforça a constatação. Embora as estatísticas sobre o nível de desemprego de estrangeiros no segundo semestre de 2008 - quando a crise se intensificou - ainda não sejam conhecidas em toda a Europa, os primeiros números confirmam a tendência.

O desemprego se concentra mais entre estrangeiros com vistos temporários de trabalho. Esses trabalhadores obtinham vagas em mercados mais sensíveis - como a construção civil -, têm menos qualificação, contratos mais precários e menos tempo de serviço. O coquetel de fragilidades, somado à hostilidade crescente da opinião pública, leva ao desemprego, diz Dumont.

Espanha e Irlanda

O refluxo ocorre porque em países como a Irlanda e a Espanha o desemprego entre estrangeiros é mais de 50% maior do que a média nacional. Nas principais cidades espanholas, o desemprego entre imigrantes - marroquinos e latino-americanos, em especial - chega a 17%, ante 10,5% entre espanhóis.

A situação obrigou o governo a tomar medidas drásticas contra a imigração ilegal. Ao mesmo tempo em que estimula o retorno voluntário, o primeiro-ministro José Luis Zapatero já reduziu as cotas para concessão de vistos em 2009 e vem apertando o cerco policial.

Fonte: G1

Partido governista vence eleições locais na Turquia

O Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, islâmico moderado), do qual faz parte o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, foi o grande vencedor das eleições locais realizadas hoje na Turquia, embora sua vantagem sobre o segundo colocado tenha caído mais de seis pontos em relação ao último pleito legislativo.

Apurados 80% dos votos, o AKP lidera com o apoio de 39,9% dos eleitores, enquanto o opositor Partido Republicano do Povo (CHP, centro-esquerda) aparece em segundo, com 22,9%, seguido do Partido da Ação Nacionalista (MHP, extrema-direita), no momento com 15%.

Apesar da vitória no pleito, a festa do partido governista não será completa, haja vista que, nas eleições legislativas de julho de 2007, a legenda teve 46,6% dos votos.

O próprio Erdogan afirmou que o AKP não pode ficar satisfeito com a vitória tendo perdido o apoio de tantos eleitores, o que, aparentemente, aconteceu por influência da crise econômica.

Mas, mesmo assim, elogiou o desempenho da legenda na disputa eleitoral. "O AKP obteve o mesmo apoio ou mais que o segundo e o terceiro partido juntos. Isto significa que o povo nos deu um voto de confiança", declarou.

Ainda de acordo com os dados oficiais, o CHP, o maior parido da oposição, aumentou seus votos nas três maiores cidades do país: Istambul, Ancara e Esmirna.

Nesta última, um reduto do laicismo e onde teve seu melhor desempenho neste pleito, a legenda ficou na frente com cerca de 50% dos votos.

A julgar pelo ritmo da apuração, o AKP provavelmente manterá seu domínio em Ancara. Mas, em Istambul, o partido de Erdogan trava uma disputa acirrada com o CHP.

Já nos territórios do sudeste, onde se concentra a população curda, o AKP não só perdeu espaço como deixou escapar alguns municípios.

Na província de Diyarbakir, um dos principais da região, o pró-curdo Partido da Sociedade Democrática (DTP) teve 75% dos votos totais, enquanto o AKP teve aproximadamente 25%.

Apesar de a votação ter sido tranqüila na maior parte do país, no sudeste foram registrados confrontos entre eleitores e familiares de vários candidatos a chefe de aldeia, posto menor que o de prefeito.

Esses episódios de violência deixaram seis mortos e mais de 100 feridos, em sua maioria atingidos por tiros.

Fonte: EFE/G1

Amazônia é menos protegida no Brasil

O Brasil é um dos países que têm proporcionalmente menos territórios indígenas e áreas protegidas na Amazônia, segundo mapa que será publicado nesta semana por uma rede de 11 ONGs sul-americanas.

São 39,6% da Amazônia brasileira sob proteção na forma de terras indígenas e unidades de conservação de vários tipos, contra 56% da Amazônia colombiana, 79,7% da equatoriana e 71,5% da venezuelana. Somente o Peru destina uma proporção menor de sua selva às reservas florestais e às comunidades indígenas: 34,9%.

O mapa, produzido pela Raisg (Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada), é o primeiro a localizar as áreas protegidas e os territórios indígenas dos nove países amazônicos.

Considerando só este último quesito, o Brasil também fica atrás dos vizinhos: 50,6% da Amazônia colombiana, 25,7% da boliviana e 65% da equatoriana são indígenas.

Em números absolutos não há como comparar a extensão dessas terras com a fatia proporcionalmente menor sob proteção no Brasil --país que tem 64,3% da Amazônia. "Dos 3,2 milhões de quilômetros quadrados de áreas protegidas na Amazônia, 1,9 milhão estão no Brasil", diz o antropólogo Beto Ricardo, do ISA (Instituto Socioambiental), que coordenou a montagem do mapa.

Porém, o trabalho revela que alguns países da região têm mantido a sua porção amazônica razoavelmente protegida, o que, em alguns casos, significa uma proporção grande do território nacional.

Na Colômbia, por exemplo, toda a Amazônia (que representa 43,3% do país) é considerada "reserva florestal" -embora apenas 13% estejam efetivamente em áreas protegidas. São 240 mil quilômetros quadrados em terras indígenas.

A situação do Equador é ainda mais simbólica. As terras indígenas amazônicas reconhecidas pelo governo correspondem a 30% da área do país. No Brasil, todas as terras indígenas, somadas, respondem por 13% da área nacional, número que o ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) já disse considerar alto demais.

"No Equador, o processo de reconhecimento oficial de territórios indígenas na Amazônia é menos burocrático que no Brasil", diz Beto Ricardo. "A região é praticamente toda ocupada por povos indígenas e, ao reconhecer seus direitos, o governo já excluiu as propriedades privadas existentes."

Em outros países, como a Venezuela, o processo de demarcação das terras indígenas é mais atrasado. O governo venezuelano não reconhece as terras (nem mesmo a ianomâmi, demarcada e homologada desde os anos 1990 no lado brasileiro), denominando-as "zonas de ocupação indígena", sobrepostas a parques nacionais.

Como resultado, não existem dados oficiais sobre as terras indígenas no país, que acabam sob proteção menor. "O único mapa disponível era o do serviço de saúde indígena", diz Alicia Rolla, especialista em sensoriamento remoto do ISA.

A Amazônia é nossa

A melhor notícia do mapa é que, mesmo com 33 milhões de habitantes e 370 povos indígenas distribuídos por nove países com perfis econômicos diversos, a Amazônia possui 41,2% dos seus 7,8 milhões de quilômetros quadrados sob algum tipo de proteção.

Mesmo assim, 17% da floresta já tombou em toda a região, e ainda não existe um diagnóstico do que está acontecendo dentro de cada área protegida.

Na fronteira do Brasil com o Peru, por exemplo, há ação de madeireiros do lado peruano, apesar de haver um mosaico contínuo de áreas protegidas de ambos os lados. No Equador, empresas de petróleo (como a Petrobras) atuam em áreas indígenas e parques nacionais.

Segundo Ricardo, o mapeamento deverá ajudar a criar estratégias de conservação transfronteiriças. E ajuda a visualizar o impacto que decisões tomadas em um país podem ter sobre a floresta e as populações indígenas do vizinho.

"Esse mapa é uma contribuição para o ressignificado da expressão tão comum em cada país amazônico de que "a Amazônia é nossa". Afinal, não adianta, por exemplo, o Brasil proteger ou explorar os cursos médios das grandes bacias amazônicas sob o império da soberania nacional se as cabeceiras desses mesmos rios estão em países vizinhos."

Fonte: Folha On-line

Estados Unidos querem acordo climático na ONU, mas sem mágicas

O governo do presidente norte-americano, Barack Obama, prometeu neste domingo pressionar por um novo acordo climático na Organização das Nações Unidas, mas disse que Washington não tem "varinha de condão" e todos os países precisam ajudar.

"Os Estados Unidos vão se engajar fortemente e totalmente", disse o enviado especial norte-americano Todd Stern na abertura do encontro de 175 países da ONU em Bonn, na Alemanha.

"Mas todos nós vamos ter que fazer isso juntos, nós não temos uma varinha de condão", acrescentou Stern, em uma entrevista coletiva.

O encontro de 29 de março a 8 de abril, o primeiro do tipo desde que Obama chegou à Presidência, em janeiro, discute um acordo para o clima para ser adotado a partir de uma cúpula global em Copenhague, em dezembro de 2009.

Em seu discurso, Stern foi aplaudido duas vezes, um contraste com a recepção aos enviados da administração de George W. Bush, sempre acusados de inércia e vaiados durante a conferência de Bali em 2007.

Mesmo assim, Stern deixou claro os limites às ambições de Obama. Ele disse que os Estados Unidos gostariam de negociar um acordo economicamente "viável" e que os demais países não poderiam esperar Washington "chegar em um cavalo branco" para resolver o problema.

"Nós não podemos," afirmou.

Pedindo maior participação de todos, ele afirmou que os Estados Unidos tem a "responsabilidade singular" como o principal emissor de gases de efeito estufa do mundo.

Ele acrescentou estar muito impressionado com as ações de países em desenvolvimento como a Índia, África do Sul, Brasil, China e México.

Algumas nações, atingidas pela recessão, esperam ouvir as iniciativas ambientais dos Estados Unidos antes de revelarem suas medidas para combater o aquecimento global.

Obama quer reduzir as emissões norte-americanas para cerca de 16 a17 por cento dos níveis atuais, voltando aos níveis de 1990 até 2020. A meta para 2050 é reduzir em 80 por cento as emissões atuais.

"Todo mundo está muito animado" com os sinais de um maior compromisso dos Estados Unidos, disse Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção do Clima da ONU.

Fonte: Reuters/UOL

quinta-feira, 26 de março de 2009

Potências deixaram de buscar supremacia nuclear, afirma estrategista

Cinco décadas depois de o mundo viver o medo da aniquilação atômica, a ordem mundial deixou de ser bipolar e os países pararam de competir entre si em busca de poder nuclear, de acordo com a análise de um especialista em estratégia militar entrevistado pelo UOL, que aponta o Irã como a principal ameaça na contramão dessa tendência.

Estima-se que Estados Unidos e Rússia, juntos, ainda detenham mais de 10 mil ogivas nucleares. Mas, ao contrário do que acontecia durante as décadas da chamada Guerra Fria, as potências mundiais emergentes conseguem se consolidar mesmo sem controlar armas nucleares estratégicas, o que reduz a tensão internacional e os riscos de deflagração de um conflito irreversível.

"É claro que a bomba atômica ainda é um enorme instrumento de dissuasão, mas hoje as grandes potências não precisam de armas nucleares para se legitimar", afirma o coronel reformado Geraldo Cavagnari, fundador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade de Campinas.

Oficialmente, fazem parte do chamado "clube nuclear" Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido, China, Índia e Paquistão. Centros de estudo internacionais como o Center for Defense Information (CDI) e o Nuclear Threat Initiative (NTI) consideram que Israel também tenha ogivas, enquanto a Coreia do Sul teria condição imediata para produzi-las, mas não há confirmação em nenhum dos dois casos.

Para Cavagnari, esse é um grupo limitado que deverá se manter estável nos próximos anos. "O acesso à construção de ogivas nucleares é hoje limitado por três fatores: a complexidade tecnológica deste tipo de arma, seu alto custo financeiro e a legislação internacional que reprime essa iniciativa", explica o analista.

Hiroshima e Nagasaki

Duas bombas atômicas foram utilizadas em conflito militar até hoje: as ogivas lançadas pelos Estados Unidos nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente. A ação ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial e foi decisiva para que o Japão abandonasse o conflito
"Paquistão e Índia desenvolveram programas nucleares na esteira da corrida armamentista, mas este não é mais o cenário", acrescenta Cavagnari. "Japão e Alemanha, por exemplo, são potências econômicas que hoje teriam condições para dominar esta tecnologia nuclear, mas não demonstram interesse nesse sentido. As duas possuem um exército tradicional de alto nível e consideram que esta é uma condição militar suficiente".


O fator "Irã"

A grande exceção neste processo de abandono das armas nucleares estratégicas seria o Irã, país acusado por Estados Unidos e Israel de buscar enriquecer urânio com fins militares. O governo iraniano nega essa versão e alega estar interessado apenas em geração de energia elétrica.

"Eu acredito que o Irã caminhe para a construção da bomba", afirma Cavagnari. "Principalmente porque o Irã tem dinheiro para isso, recebeu tecnologia nuclear do Paquistão no passado - não se sabe ao certo quão detalhada, mas recebeu - e se trata de um país autoritário, que declara abertamente querer varrer Israel do mapa".

Além das supostas ambições do Irã em entrar para o "clube nuclear", existem suspeitas sobre o programa nuclear da Coreia do Norte, que já teria capacidade para construir entre 5 e 12 ogivas, segundo estimativas do CDI e do NTI. A falta de recursos da Coreia do Norte, no entanto, seria uma barreira para seu programa nuclear.

A monitoração dos programas nucleares de Irã e Coreia do Norte é uma das atividades realizadas atualmente pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão vinculado à Organização das Nações Unidas e que fiscaliza o uso de tecnologia nuclear no mundo.

Tratado de Não-Proliferação
De acordo com o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, lançado em 1968, os países que oficialmente produziram ogivas nucleares antes de 1967 (Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, China e França) se comprometem em não transferir tecnologia nuclear nem ajudar ninguém a consegui-la. Em contrapartida, os Estados signatários recebem apoio da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para utilizar tecnologia nuclear para fins pacíficos. Índia, Israel e Paquistão nunca assinaram o Tratado de Não-Proliferação Nuclear; Coreia do Norte assinou o compromisso, mas se retirou em 2003.

No Brasil

Por sua parte, o Brasil perseguiu o objetivo de alcançar uma arma nuclear estratégica nas décadas de 1950 e 1960, mas encontrou dificuldades tecnológicas e financeiras para isso. Segundo Cavagnari, quando o país firmou um acordo com a Alemanha para a compra da usina de Angra 2, a cúpula militar brasileira já havia abdicado da ambição nuclear.

Atualmente, as pesquisas atômicas brasileiras na área militar, realizadas principalmente pelo Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo, dizem respeito ao submarino nuclear. Apesar do nome, este artefato não carrega ogivas, mas é alimentado por energia nuclear, o que lhe confere maior potência e garante maior tempo de submersão ininterrupta. Prova do interesse do Brasil nesse setor é o acordo assinado com a França em dezembro do ano passado, que prevê parceria entre os dois países na construção de um submarino nuclear brasileiro.

As pesquisas para desenvolvimento dessa tecnologia no Brasil são hoje fiscalizadas nacionalmente pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão que exerce o monopólío da mineração de elementos radioativos, da produção e do comércio de materiais nucleares no país.

Além da CNEN, a fiscalização dos programas nucleares brasileiros é feita por uma agência bilateral argentino-brasileira, que realiza vistorias nos dois países.

Fonte: UOL

A importância das palavras vazias da declaração do G20

Os melhores diplomatas do mundo passarão semanas esboçando e reesboçando a declaração oficial que será divulgada ao final do encontro de cúpula do Grupo dos 20 em Londres, na próxima semana. Mas por que se darem ao trabalho?

Para entender o quanto o exercício é vazio, é preciso apenas olhar para a declaração oficial emitida após o primeiro encontro de cúpula do G20 em Washington, em novembro passado. Os líderes declararam solenemente: "Nós ressaltamos a importância crítica de rejeitar o protecionismo (...) Nós evitaremos erguer novas barreiras ao investimento ou comércio de bens e serviços". Para enfatizar sua determinação, eles "instruíram" seus ministros do comércio a concluir a rodada de Doha de negociações de comércio até o final de 2008.

E o que aconteceu de lá para cá? Naturalmente, a rodada de Doha não foi concluída -nem de perto. Na verdade, um estudo do Banco Mundial divulgado na semana passada mostrou que 17 dos países que assinaram a declaração de Washington do G20 adotaram medidas protecionistas.

Parte do que aconteceu é protecionismo básico -o aumento de barreiras às importações. Na semana passada, o México anunciou que aumentaria as tarifas em US$ 2,4 bilhões de bens americanos -em retaliação, dizem os mexicanos, à decisão americana de impedir que caminhões mexicanos utilizem estradas americanas.

A decisão do Congresso americano em relação aos caminhões mexicanos é um exemplo das formas indiretas de protecionismo que compõem cerca de dois terços das medidas apontadas pelo Banco Mundial. Elas incluem novos subsídios às exportações anunciados pela União Europeia aos produtos agrícolas; e as reduções de impostos para os exportadores adotadas pela China e Índia. O plano de estímulo de Obama também inclui cláusulas "compre produtos americanos".

Logo, por que devemos acreditar na próxima declaração emitida no encontro de cúpula de Londres, em 2 de abril? Provavelmente, sua primeira linha já será mentirosa. A declaração começará, "Nós, os líderes do Grupo dos Vinte..." Na verdade, haverá cerca de 25 líderes reunidos em Londres.

Apesar de ser tentador zombar da falta de sinceridade dos líderes do G20, é mais importante entender o que está acontecendo. Por que os líderes do mundo emitem estas declarações sobre comércio, e então não as cumprem?

A resposta é que estão presos em um aperto entre um compromisso abstrato com o livre comércio e políticas práticas. Quase todos os líderes que comparecerão em Londres sabem que o protecionismo é uma má ideia. Mas estão sob pressão de eleitores enfurecidos para que protejam os empregos em casa e contra estrangeiros manipuladores.

À medida que as condições econômicas pioram, cresce a tendência de procurar por bodes expiatórios estrangeiros. Falando no Fórum de Bruxelas do Fundo Marshall alemão no último fim de semana, Robert Zoellick, o presidente do Banco Mundial, comentou que: "Uma discussão relevante a respeito do comércio no Congresso americano dificilmente seria mais tóxica". O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, apontou orgulhosamente que o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, rejeitou recentemente sancionar algumas leis protecionistas que lhe foram apresentadas. Mas ele reconheceu que o presidente Lula poderá ter dificuldade para repetir o feito, caso uma legislação semelhante seja reapresentada neste ano.

Os políticos que se reunirão no G20 podem sentir um aumento das pressões protecionistas. Alguns dizem sentir uma "primavera de inquietação" com o aumento do desemprego -seguida por um "verão de protecionismo". Zoellick, do Banco Mundial, alerta que um desdobramento desses seria desastroso: "Nós estamos muito longe dos anos 30, mas uma grande dose de protecionismo nos levaria nessa direção".

O mundo já está vendo uma grande queda no comércio. Tanto as exportações japonesas quanto chinesas caíram mais de 20% em relação ao ano passado. Locais que prosperaram como portais para a globalização, como Cingapura, estão enfrentando recessões particularmente duras. Neste ano, é provável que veremos a contração mais forte no comércio global em 80 anos.

Até o momento, entretanto, o processo de desglobalização é liderado em grande parte pelo setor privado. Os consumidores estão reduzindo seus gastos e também as empresas. Mas se os líderes políticos do mundo começarem a aumentar deliberadamente as barreiras ao comércio, eles aprofundarão e agravarão a crise econômica -correndo o risco de transformar o processo de desglobalização em uma tendência permanente.

A maioria dos líderes políticos sabe disso -de forma que ainda se sentem um pouco embaraçados em relação a medidas diretas de aumento de tarifas. Logo, a nova onda de protecionismo assumirá formas indiretas.

Algo para ficar atento é o "protecionismo verde". O Congresso americano está discutindo a imposição de "tarifas de carbono" aos países que não seguirem os esforços americanos para redução das emissões de dióxido de carbono. Na semana passada, Steven Chu, o novo secretário de energia, pareceu endossar a ideia.

O novo protecionismo pode ser sempre justificado como "retaliação" à má fé dos estrangeiros. Este é o motivo para disputas francas no G20 -ou o fracasso nas negociações a respeito da mudança climática mais à frente neste ano- serem perigosas. Qualquer fracasso levará a recriminações, que então facilitariam para os líderes mundiais a adoção do protecionismo, sob o velho princípio do playground do "foi você que começou".

Será tentador rir, se e quando a declaração oficial do encontro de Londres contiver as promessas familiares de evitar o protecionismo e concluir a rodada de Doha. Mas provavelmente é importante que os líderes mundiais pelo menos prometam seguir o caminho da virtude -mesmo sabendo que podem pecar. O fracasso em prestar homenagem ao livre comércio seria um sinal muito ruim -e poderia abrir a porta para um protecionismo muito mais desenfreado. Às vezes palavras vazias importam.

Fonte: Financial Times/UOL
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, afirmou nesta quarta-feira, no México, que os Estados Unidos devem reconhecer sua parcela de culpa no crescimento da violência relacionada ao tráfico de drogas no país latino-americano.

"Nossa demanda insaciável por drogas ilegais sustenta o comércio de drogas", disse Hillary, que iniciou nesta quarta-feira uma visita ao México.

"Nossa inabilidade em evitar que armas sejam contrabandeadas através da fronteira para armar esses criminosos causa a morte de oficiais da polícia, soldados e civis. Sinto muito que sejamos corresponsáveis."

Na terça-feira, a Casa Branca anunciou um plano de US$ 700 milhões para combater o tráfico de drogas no México, sendo que a maior parte do dinheiro será investida em um aumento no policiamento na fronteira.

Leia mais na BBC Brasil: EUA lançam plano de US$ 700 mi contra tráfico no México

"Música"

De acordo com o analista da BBC Emilio San Pedro, os comentários de Hillary são "música para os ouvidos" das autoridades mexicanas, que repetidas vezes nas últimas semanas pediram que Washington assumisse sua responsabilidade pelo problema.

A visita da chanceler americana ao México antecede a do próprio presidente americano, Barack Obama, que deve ir ao país em abril - na que deve ser sua primeira viagem como presidente à América Latina desde que assumiu o poder, em janeiro.

Em uma coletiva na terça-feira, Obama já havia dito que os Estados Unidos "precisam fazer mais para garantir que armas ilegais e dinheiro não cheguem aos cartéis".

Além da luta contra o tráfico, comércio e imigração devem estar na pauta das reuniões de Hillary Clinton com autoridades mexicanos nos dois dias de visita.

Veneno na fronteira

Também nesta quarta-feira, a guarda de fronteira dos Estados Unidos anunciou que está adiando a implementação de um plano que prevê o lançamento de veneno em um trecho da fronteira com o México, a fim de deter imigrantes ilegais.

A ideia era lançar um poderoso herbicida, o imazapyr, em parte das margens do Rio Grande, na fronteira entre o Estado americano do Texas e o México.

O herbicida mataria a vegetação, permitindo encontrar os imigrantes ilegais mais facilmente.

O lançamento do veneno, que iria ser feito nesta semana, foi adiado depois que autoridades mexicanas manifestaram preocupação com a possibilidade de o herbicida contaminar a água usada pela população local para beber.

As autoridades americanas alegam que o imazapyr é seguro, mas pretendem ter mais discussões com representantes do México antes de implementar o plano.

Fonte: BBC Brasil

Senado aprova acordo para construção de ponte entre Brasil e Uruguai

Não há mais empecilhos legais para a construção da segunda ponte entre Brasil e Uruguai, sobre o Rio Jaguarão. O Senado aprovou hoje (25) o acordo para a realização da obra, assinado durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Uruguai, em fevereiro de 2007. A ponte ligará as cidades de Jaguarão, no Rio Grande do Sul, e Rio Branco, no país vizinho. Pelo acordo, Brasil e Uruguai dividirão os custos relativos aos estudos, ao projeto e à construção da segunda ponte. Cada país ficará responsável pelas despesas referentes aos respectivos acessos à ponte e às desapropriações necessárias à implantação das obras em cada território nacional. O texto do acordo, aprovado pelo Congresso, ainda prevê estudos para análise da possibilidade de se estabelecer um sistema integrado de passo de fronteira, reservando a atual ponte internacional Barão de Mauá para o trânsito de veículos leves. A ponte foi construída em 1930, com capacidade para uma carga diária de 30 mil toneladas a 40 mil toneladas, mas todos os dias trafegam pela Barão de Mauá, em média, cerca de 80 mil toneladas.

As restauração da ponte antiga e a construção de uma nova visam ao desenvolvimento sócio-econômico dos dois países e a integração física da América do Sul. O decreto legislativo que aprova o acordo bilateral já havia sido aprovado pela Câmara dos Deputados e segue, agora, para promulgação pelo presidente Lula.

Fonte: Valor Online/UOL

O novo tempo da insurgência latino-americana: as esquerdas no poder e a oposição incluem ex-guerrilheiros

Praticamente todos os governos latino-americanos de esquerda integram ex-guerrilheiros. Uma parte deles, porém, está na oposição, fundamentalmente na Venezuela e na Nicarágua.

Argentina As presidências de Cristina Kirchner e de seu marido, Néstor Kirchner, chamaram antigos membros dos Montoneros, uma guerrilha de cunho católico, nacionalista, vigente nos anos 1970 a 1979. Ministros, assessores ou titulares de órgãos públicos, a relação de ex-montoneros é farta: de Rafael Bielsa e Enrique Albistur a Juan Carlos Dante e Patricia Vaca Narvaja.

Brasil Colaboradores muito próximos do presidente Lula da Silva foram guerrilheiros. Dilma Roussef, entre outros, militou na maoísta Vanguarda Armada Revolucionária Palmares. Hoje é chefe de gabinete de Lula, substituindo o advogado José Dirceu, que atuou no Movimento de Libertação Nacional. Arrependeu-se. "Fui treinado guerrilheiro, mas não era a minha", declarou à revista "Veja". "A opção da luta armada foi um equívoco de nossa geração."

El Salvador O vice-presidente eleito de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén, foi membro do comando geral do FMLN, que reuniu ou desbancou outros grupos e se definiu como marxista-leninista durante a guerra (1980-92). Sánchez Cerén foi delegado nas negociações que levaram aos acordos de paz de 1992. Deputado desde 2000, seis anos depois assumiu a direção do FMLN no Parlamento.

Guatemala O presidente Álvaro Colom, social-democrata, foi o candidato em 1999 da antiga guerrilha União Revolucionária Nacional Guatemalteca. Não conseguiu passar no primeiro turno e se afastou da guerrilha. O adversário desse grupo, Miguel Ángel Sandoval, fundador do desaparecido Exército Guerrilheiro dos Pobres, conseguiu apenas 2% dos votos nas eleições de 2007. O fracasso demonstrou o fraco apelo de sua oferta programática.

Nicarágua A Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) derrubou o ditador Anastasio Somoza em 1979 e promoveu uma revolução malograda pelas políticas e a corrupção dos ex-guerrilheiros, as divisões internas e o autoritarismo do ex-comandante Daniel Ortega, atual presidente do país. Ortega fechou o espaço para a dissidência sandinista. Os comandantes estão divididos e nada resta da união guerrilheira e ideológica contra a tirania dos Somoza.

Uruguai O presidente Tabaré Vázquez, líder da Frente Ampla, deve muito à ex-guerrilha urbana Tupamaros, cuja militância contribuiu com cerca de 30% dos votos do vencedor das eleições em 2005. Os Tupamaros, simpatizantes da revolução cubana, hoje querem que o histórico José Mújica seja o próximo candidato à presidência. Para chegar ao poder "não influiu tanto o que fizemos como esquerdistas ou progressistas, quanto a gestão negativa dos governos anteriores", disse o tupamaro Julio Marenales.

Venezuela Alguns no governo, como Alí Rodríguez, e outros na oposição, como Teodoro Petkoff, um grupo de ex-guerrilheiros continua na política. Com o golpe militar de 1992 contra Carlos Andrés Pérez, Hugo Chávez também foi, a sua maneira, guerrilheiro.

Fonte: El País/UOL

Brasil vira foco de promoção europeia de turismo na AL

A Comissão Europeia de Turismo (CET) planeja intensificar as ações de promoção na América Latina, com destaque para o Brasil, disse nesta quarta-feira à Agência Lusa o presidente da instituição.

Paulo Machado, atual coordenador de turismo da AICEP Portugal Global no Brasil, salientou que a América Latina é considerada um "mercado em crescimento" de emissão de turistas para a Europa.

"Vamos realizar ações de promoção no Brasil, mas também eventos direcionados para profissionais do turismo em outros países, como Argentina e Venezuela", disse.

Responsável desde 1986 pela promoção turística de Portugal no Brasil, Paulo Machado foi eleito recentemente presidente da Comissão Europeia de Turismo na América Latina para um mandato de dois anos.

A eleição teve a participação de representantes dos 11 países com escritórios de turismo na região: Alemanha, Áustria, Espanha, França, Grã-Bretanha, Itália, Irlanda, Polônia, Portugal, República Tcheca e Suíça.

Paulo Machado frisou que o Brasil é atualmente o maior mercado emissor de turistas da América Latina para a Europa, sendo que o turista brasileiro é um dos que mais gasta no exterior.

A estratégia de promoção da Comissão Europeia de Turismo incluiu a realização de ações de divulgação conjunta da oferta turística global da Europa.

"Vamos realizar ações nas principais praças emissoras de turistas no Brasil, além de seminários de vendas, em cooperação com agências de viagens", disse.

Estão previstas ainda a divulgação do endereço eletrônico Visit Europe, agora também na versão em português, e a participação no encontro anual da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV).

Em outubro será organizado o seminário "Descubra a Europa", com a presença de mais de 50 expositores dos diversos países, 15 deles de Portugal.

Outra prioridade será dinamizar o Conselho Brasil-Europa de Turismo como um fórum de debates entre instituições do setor do Brasil e dos países europeus.

Fundada em 1948, a Comissão Europeia de Turismo, com sede em Bruxelas, é formada por 39 países e está representada na América Latina desde abril de 1983.

A Comissão Europeia de Turismo está representada igualmente nos Estados Unidos, Canadá e Japão.

Fonte: Lusa/UOL

O novo tempo da insurgência latino-americana: a antiga guerrilha entra nos palácios de governo

O salvadorenho Joaquín Villalobos, estrategista da insurgente Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional e fundador do Exército Revolucionário do Povo durante a guerra civil que sofreu seu país (1980-1992), não se preocupava tanto com morrer em combate quanto com envelhecer guerrilheiro.

Villalobos, 58 anos, ex-chefe da milícia mais ousada do FMLN, não chegará a velho empunhando as armas. Assim como boa parte da geração de revolucionários latino-americanos amparados pelos acordos de paz dos anos 1990, depois de longos e cruéis conflitos, o ex-guerrilheiro participa há tempo da política. O faz como pesquisador em Oxford e como consultor para a solução de conflitos internacionais.

Não poucos dirigentes daquela geração que subiu a serra ao grito de justiça social ocupam hoje conselhos administrativos, cátedras universitárias ou ministérios. O extremismo ideológico perdeu terreno ou se adaptou às exigências eleitorais com formatos de conveniência. Um grupo de ex-insurgentes integra os governos do Brasil e da Argentina, e outros dois são vice-presidentes na Bolívia e em El Salvador: Álvaro García Linera, ex-membro do Exército Guerrilheiro Tupac Kataren, e Salvador Sánchez, do FMLN. A ex-milícia urbana Tupamaros se mantém e prospera na coalizão governamental do Uruguai.

A vitória do FMLN em El Salvador no último dia 15, com o jornalista Mauricio Funes como presidente eleito, reforça, através da alternância no poder, o processo de normalização democrática da América Latina. O moderado Funes deverá conviver e conciliar-se com Sánchez Cerén, vulgo Comandante Leonel na guerra, de posições mais radicais.

"As mudanças que estão ocorrendo são consequência da virada democrática no continente. E creio que a democracia chegou para ficar", afirma Villalobos.

Centenas de jovens que se levantaram contra as ditaduras militares e os autoritarismos civis de quase meio século atrás, alguns com a idéia de substituí-los por totalitarismos de corte marxista, hoje perseveram por vias políticas diferentes, no seio das grandes correntes políticas regionais. "Temos a que é manifestada por Chávez, Nicarágua, Bolívia e Equador, e outra, mais à centro-esquerda, que tem seu pilar no Chile, Brasil e Uruguai. A Argentina tem um pouco das duas", segundo Villalobos. "Em El Salvador ainda não sabemos, porque pode haver um conflito entre o presidente eleito e o partido", o FMLN.

Para Carlos Malamud, analista do Real Instituto Elcano, as progressivas transformações registradas na América Latina permitiram a convivência, e às vezes a convergência, de antigos inimigos. A teoria de que algumas oligarquias perenes, nascidas há 500 anos, continuam governando alguns países não consegue convencê-lo. "Eu vejo mais uma renovação constante das elites", diz. E apesar do relatório do Banco Mundial alertando para as consequências da atual crise financeira global, 6 milhões de novos pobres na América Latina, Malamud não considera possível que a eventual legião de desesperados aposte na ressurreição das guerrilhas. "Não há espaço nem apoio. Quem vai apoiar uma aventura desse tipo? Cuba já não está nisso, e a Venezuela viu que é mais rentável ir pela via democrática, apesar de depois Chávez fazer o que tem vontade."

Fonte: El País/UOL

Tempos difíceis obrigam indústrias japonesas a se reestruturar

As companhias eletrônicas japonesas, bastante atingidas pela crise econômica, estão demitindo milhares de empregados contratados temporários e funcionários de suas filiais no exterior neste momento em que a última onda de reestruturação empresarial prejudica as vítimas mais vulneráveis.

Mas, agora, nervosos funcionários permanentes no Japão estão temendo que esta recessão seja tão intensa que alguns deles também tenham que ser demitidos.

É provável que isso vá depender tanto da motivação dos patrões - alguns grupos como a Sony estão aproveitando a crise para promover mudanças - quanto do grau das dificuldades financeiras enfrentadas pela companhia.

A dimensão do sofrimento da indústria eletrônica do Japão, provocado pela queda da demanda e pelo aumento simultâneo do iene, ficou evidente ontem (24/03) com o segundo alerta de 2009 para a queda de lucros da Sanyo Electric. A Sanyo, que está sendo adquirida pela Panasonic, acredita agora que terá crescimento zero do seu nível operacional no período de 12 meses encerrado em março de 2009, mas que amargará um prejuízo líquido de 90 bilhões de ienes (US$ 919 milhões) devido aos altos custos da sua reestruturação.

A maior prioridade das companhias japonesas de produtos eletrônicos é conter os prejuízos operacionais - a Toshiba deverá perder 280 bilhões de ienes, contra 200 bilhões da Sony e 100 bilhões da Hitachi.

Os prejuízos líquidos, que incluem baixas cambiais de ativos, são ainda piores. A Hitachi prevê que perderá um total de 700 bilhões de ienes.

Companhias como a Panasonic, que já se reestruturou intensamente nos últimos anos, estão reduzindo a capacidade das linhas de produção para acompanhar a redução de demanda. Outras, no entanto, estão tentando ir além.

Masaharu Sato, analista do Instituto de Pesquisas Daiwa, diz que algumas companhias estão aproveitando os tempos difíceis para promover reestruturações que, em outra conjuntura, não seriam aceitas.

A Sony é o exemplo mais óbvio disso. O seu setor de televisores já vinha registrando prejuízos antes mesmo da crise atual, e Sir Howard Stringer, presidente e diretor-executivo da empresa, tem falado francamente sobre a necessidade de mudanças.

"Nós estamos como uma rede de fornecimentos fraca, não temos um sistema compartilhado de aquisição de material, e precisamos mudar isto. A organização das nossas fábricas precisa ser racionalizada", disse Sir Howard recentemente em uma entrevista ao "Financial Times".

Os analistas afirmam que se a promessa da Sony de promover mais de US$ 3 bilhões em reduções de custos fixos até o ano que vem for de fato implementada com a racionalização das operações da companhia, isso terá um efeito de longo prazo sobre a sua rentabilidade.

"A reestruturação não diz respeito apenas à redução do quadro de pessoal, mas também à modificação da estrutura da companhia", afirma Kazuharu Miura, um analista da Daiwa.

Entretanto, nem todas as companhias estão enfrentando de forma tão efetiva os seus problemas estruturais.

"A Hitachi tem um problema de produção, já que, quando vende o mesmo produto pelo mesmo preço que o de outras companhias, é incapaz de obter lucros", diz um analista.

O conglomerado, que faz desde televisores a trens, teve prejuízos líquidos mesmo quando a economia estava forte em 2006 e 2007, e o seu compromisso de reduzir os custos fixos em 200 bilhões de ienes até o ano que vem é pequeno se comparado às suas vendas totais que chegam a 10 trilhões de ienes.

"Creio que a Hitachi ainda necessita acelerar a redução de custos na área automotiva porque no passado, quando o mercado estava bom, eles não fizeram o suficiente", afirma Yoshiharu Izumi, analista do JPMorgan.

A Hitachi beneficia-se dos seus vários setores estáveis - como por exemplo a unidade de construção de geradores de usinas de energia elétrica - cujos lucros resistem bem à crise. Companhias que dependem de aparelhos eletrônicos domésticos, como a Sony e a Sharp, têm menos capacidade de enfrentar os problemas econômicos. A Toshiba também pode voltar-se para setores responsáveis pela fabricação de material de infraestrutura, como geradores para usinas nucleares. Mas o balanço anêmico da companhia significa que ela não conta com muita capacidade para absorver mais prejuízos.

Isto pode ter tido o efeito perverso de, até o momento, limitar a reestruturação da Toshiba, já que os custos excepcionais do fechamento de fábricas ou do oferecimento de aposentadoria precoce a funcionários atingiria ainda mais as equities dos acionistas, que provavelmente cairão para um patamar inferior a 10% do capital total da companhia até o final de março.

Embora a Toshiba tenha se comprometido a reduzir os seus custos fixos em 300 bilhões de ienes até o ano que vem, quase toda essa quantia refere-se à redução de gastos de capital e de custos com pesquisas, e não à demissão de funcionários permanentes.

"Após obterem mais equities, eles poderão precisar de mais reestruturação", diz Sato, do Instituto de Pesquisas Daiwa.

Porém, além das pressões imediatas há a questão de qual será a situação do mundo após emergir da recessão.

Se a indústria de produtos eletrônicos do Japão vir-se diante de um iene mais caro e de mercados estrangeiros menores, a restruturação atual será apenas o começo de um processo.

Fonte: Financial Times/UOL

quarta-feira, 25 de março de 2009

Crise econômica faz imigrantes adiarem o sonho americano

Em um apartamento em Cambridge, no Estado de Massachusetts, Amar Sharma está prestes a receber um título de mestrado do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), uma façanha que ele esperava que lhe garantisse um bom emprego nos Estados Unidos. Mas, se não encontrar um emprego logo, ele poderá acabar tendo que voltar à Índia.

A alguns quilômetros de distância, Bedardo Sola está devastado pela perda do seu emprego de faxineiro em um prédio da Universidade Harvard. A demissão ameaça dois lares: o da sua família aqui, e o da filha, em El Salvador, que ele sustenta.

O aumento do desemprego está castigando famílias em todos os Estados Unidos, e tem um impacto especial sobre os imigrantes e os seus parentes que moram a milhares de quilômetros de distância. Além dos seus meios de subsistência, os trabalhadores nascidos no estrangeiro poderão perder os seus vistos de trabalho, e a esperança de ter um futuro nos Estados Unidos. Até mesmo cidadãos norte-americanos naturalizados estão sendo afetados porque perdem a fonte do dinheiro que enviam para os seus parentes nos países de origem.

Mas, à medida que o desemprego cresce, os atritos quanto à questão da imigração também aumentam. Por um lado, parlamentares e outros indivíduos pedem maiores restrições aos trabalhadores estrangeiros a fim de preservar os empregos dos norte-americanos. Por outro lado, os defensores dos imigrantes dizem que estes são cruciais para qualquer recuperação econômica. Em Massachusetts, os imigrantes representam 17% da força de trabalho, ou quase o dobro da proporção registrada em 1980.

Não existe nenhuma avaliação única para determinar como os imigrantes estão se saindo durante a recessão. A maioria deles encontra-se em um nicho demográfico vulnerável, concentrados nos patamares mais altos e mais baixos da economia, nas abaladas indústrias de construção civil e de hospitalidade, bem como nas de finanças e de alta tecnologia. Os que correm mais riscos são frequentemente os pobres, os com menor nível educacional e os que não são fluentes em inglês.

Os analistas dizem que vários sinais indicam um drástico desaquecimento em todo o país: a imigração ilegal não aumenta significativamente desde 2006; as transferências monetárias para a América Latina diminuíram no ano passado pela primeira vez em quase uma década; e o desemprego entre os imigrantes latinos aumentou no ano passado de 5% para 8%, segundo o Instituto de Políticas de Migração, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Centro Hispânico Pew, todos com sede em Washington, D.C.

"Os imigrantes estão enfrentando os mesmos problemas que nós, e em muitos casos estão se saindo pior, especialmente aqueles que trabalham na economia clandestina", afirma George Noel, diretor do Departamento de Trabalho de Massachusetts, que está realizando uma pesquisa junto à força de trabalho de baixa remuneração no Estado.

Já na outra extremidade do espectro econômico, o Congresso acaba de proibir as companhias que recebem dinheiro dos pacotes federais de ajuda financeira de substituir funcionários norte-americanos despedidos por trabalhadores estrangeiros qualificados, os chamados H-1B, devido ao nome do programa dos seus vistos de imigração. O programa emite 85 mil vistos por ano, a partir de 1º de abril, mas recentemente passou a ser criticado, quando algumas companhias que cortaram empregos inscreveram-se para contratar trabalhadores estrangeiros.

Alguns indivíduos estão pedindo mais restrições federais à imigração de forma a preservar empregos no patamar mais baixo da economia. Segundo um estudo realizado no final do ano passado, os imigrantes que não possuem diploma de segundo grau apresentam índices de desemprego menores do que os indivíduos com qualificação equivalente nascidos nos Estados Unidos, especialmente os negros e os latinos. Desses imigrantes, 11% encontravam-se desempregados, comparados a 25% dos negros e 16% dos latinos nascidos nos Estados Unidos.

"Não devemos cogitar qualquer aumento do nível de imigração", diz Steven Camarota, diretor de pesquisas do Centro de Estudos de Imigração, em Washington, que realizou o estudo. "Não faz sentido continuar acrescentando gente a uma população que está sendo massacrada pela crise".

Mesmo assim, os analistas dizem que, até o momento, o debate público parece se concentrar nos escândalos corporativos e no uso de dinheiro federal para pacotes de socorro a empresas, e não nos imigrantes.

"O grande alvo é aquilo que está acontecendo em Wall Street e no setor bancário", diz Demetrios G. Papademetriou, presidente do Instituto de Políticas de Migração. "Até o momento, o foco se concentra na ganância desse pessoal".

Em Massachusetts, sindicatos, advogados de imigração e ativistas estão se mobilizando para defender os direitos dos trabalhadores, realizando manifestações, e até mesmo orientando os trabalhadores a procurar aconselhamento profissional para que lidem com a depressão e o estresse. Alguns trabalhadores, como os de visto H-1B, correm o risco de ter que deixar o país caso percam o emprego. Outros têm permissão para ficar, mas ainda assim podem estar sob pressão intensa para enviar dinheiro para casa. Os imigrantes ilegais - cerca de um em cada cinco imigrantes em Massachusetts - estão enfrentando críticas por ocuparem empregos no país.

Na semana passada, em um escritório local do Sindicato Internacional de Serviços aos Funcionários (SEIU), Sola segurava a cabeça com as mãos após ter sido demitido do seu emprego como faxineiro em um dormitório da Universidade Harvard. Sola, que está aqui legalmente, diz que envia centenas de dólares por mês para a filha de dez anos que sofre de uma desordem de imunidade.

"Não vim para este país para ser dependente", afirmou Sola, 42. "Quero trabalhar".

Os trabalhadores sindicalizados estão lutando contra as demissões, afirmando que elas têm ocorrido sem que haja respeito ao tempo de empresa dos funcionários. E eles estão criticando a Universidade Harvard por ter implementado medidas de redução de custos que provocaram a demissão de trabalhadores que fazem alguns dos serviços mais duros.

Kevin Galvin, um porta-voz da universidade, diz que a instituição está enfrentando "desafios fiscais sem precedentes" e que está promovendo cortes em diversas áreas, incluindo a imposição de um congelamento salarial aos professores e funcionários não sindicalizados. Galvin explica que quem está fazendo as demissões é uma empresa terceirizada, e não a Universidade Harvard. A empresa não respondeu às solicitações para que tecesse comentários sobre o assunto.

Enquanto isso, profissionais como Sharma vasculham centros de empregos, procuram fazer contatos em reuniões e coquetéis, e apelam para os diretórios estudantis em busca de ajuda.

Sharma está prestes a obter o seu mestrado em engenharia e gerenciamento pelo MIT, após ter trabalhado vários anos para a IBM no Estado de Kansas e na sua nativa Índia. Aos 30 anos de idade, ele ajuda a mãe, que é funcionária pública na Índia, e um irmão mais novo.

Mas desde janeiro ele não consegue fazer uma entrevista de contratação. Ele deseja ser estrategista de tecnologia da informação, mas se não obtiver trabalho nos próximos meses, provavelmente terá que encarar um emprego de remuneração mais baixa na Índia para poder pagar as dívidas que contraiu para estudar, no valor de US$ 80 mil.

"Nunca pensei que as coisas fossem ficar tão ruins assim", disse ele. "Achei que, assim que terminasse o curso, tudo ficaria bem".

Laila Shabir, uma estudante de graduação do MIT de 22 anos de idade, que veio dos Emirados Árabes Unidos, diz que a recessão está tão intensa que ela decidiu adiar a graduação para continuar procurando emprego.

"Vim para o MIT, estudei economia e tenho um ótimo currículo", diz Shabir, que é filha de um encanador e de uma dona de casa. "Por que é que estou tendo tanta dificuldade para encontrar um emprego?".

Outros estão preocupados com a possibilidade de a onda de hostilidade contra os trabalhadores estrangeiros atrapalhar a recuperação econômica dos Estados Unidos. Um ano atrás, a província canadense de Alberta lançou um programa para atrair trabalhadores que estão nos Estados Unidos com vistos H-1B.

Desde abril do ano passado, mais de 2.000 candidatos se inscreveram, incluindo 65 de Massachusetts, atraídos pelo sistema de imigração mais fácil e os "espaços abertos" e o "céu azul" dos quais Alberta se gaba (a propaganda não menciona as temperaturas bem abaixo de zero). Até o momento, mais de 300 foram escolhidos para trabalhar no Canadá.

"Se os trabalhadores H-1B foram qualificados, nós gostaremos de tê-los aqui", diz Rhonda From, diretora do programa em Alberta. "A nossa intenção não é roubá-los dos Estados Unidos".

George Bruno, advogado de imigração no Estado de New Hampshire, acusa: "Esse programa está drenando o nosso poder cerebral".

"Em algum momento a nossa economia vai voltar a crescer", diz ele. "E, quando isso ocorrer, quem estará em uma posição melhor, o Canadá ou os Estados Unidos?"

Fonte: The Boston Globe/UOL

A Antártida está ficando muito popular?

No mês passado, no penúltimo dia de uma viagem de 15 dias para a Antártida, o Ocean Nova, que levava 65 passageiros e 41 tripulantes, encalhou na Antártida e ficou preso por mais de um dia. Os danos foram mínimos (o casco ficou amassado e a pintura descascou), e todos os passageiros do cruzeiro organizado pela empresa Quark Expeditions de Connecticut foram transferidos com segurança para outro navio. Mas o incidente, que já é o quarto acidente marítimo em três anos envolvendo excursões à Antártida, gera preocupações em relação aos perigos do rápido crescimento do turismo na região.

O número de turistas que visita a Antártida mais do que quadriplicou na última década, subindo para 45.213 na temporada 2007-2008, de acordo com a Associação Internacional de Operadoras de Turismo da Antártida. Mais de 30 mil desses visitantes chegaram em pequenos barcos e desembarcaram em terra firme; em comparação aos 9.857 turistas da temporada 1998-1999. Mas uma categoria que cresce ainda mais rápido é a dos passageiros "só de cruzeiro" - 13 mil em 2007-2008, em comparação aos 6.930 do ano anterior - que observam o litoral do Atlântico de navios que carregam mais de 500 passageiros.


A maioria das viagens tem como destino a região da Península Antártica, que se pronuncia para o norte em direção à América do Sul, e acontece desde meados de outubro a começo de abril.

O número de visitantes deve cair um pouco durante a temporada 2008-2009, mas as agências de turismo dizem que a procura ainda está se sustentando relativamente bem considerando a recessão e o custo das viagens à Antártida, normalmente em torno de US$ 10 mil por pessoa.
Assim como o Monte Everest, a Antártida se tornou um destino de classe, preferido por viajantes aventureiros que gostam de se gabar, dizem os agentes de turismo.

"A Antártida parece ter chegado ao seu momento Everest, com a preocupação em relação ao aquecimento global incitando o interesse por tudo que é gelado", diz Barbara Banks, diretora de marketing da Wilderness Travel, em Berkeley, Califórnia, que oferece pacotes para a região por US$ 8.995 por pessoa. "A atração da Antártida também está no fato de que as pessoas podem conhecer uma paisagem de outro mundo, como no caso das altitudes montanhosas do Everest ou das regiões mais remotas do Saara, com um esforço físico relativamente pequeno além de estarem preparadas para enjôos de mar e do tempo ruim. O barco faz o trabalho difícil por você".

Mas viajar para a Antártida não é exatamente como fazer um cruzeiro no Mediterrâneo. "É muito diferente operar numa parte tão remota do mundo", diz Jim Tayler, sócio da Polar Cruises, de Bend, Oregon, que vem se especializando em viagens em barcos pequenos para a Antártida e o Ártico desde 1996. Até os mais experientes operadores ainda têm que lidar com as severas condições climáticas da Antártida, águas cobertas de gelo e a distância remota dos centros de resgate. "É de fato uma viagem de aventura", diz Taylor.

Em dezembro, o navio de cruzeiro argentino Ushuaia encalhou em rochas na costa da Antártida. Em novembro de 2007, o Explorer, do grupo GAP Adventures de Toronto, bateu em um iceberg e se tornou o primeiro navio comercial de passageiros a afundar na região.

Duas outras embarcações de passageiros encalharam na Antártida nos últimos anos, o Nordkapp, da empresa de cruzeiros norueguesa Hurtigruten, e o Lyubov Orlova da Quark. Nos dois casos, os planos de segurança funcionaram o os passageiros foram salvos, mas os acidentes geram preocupação tanto acerca dos riscos ambientais por causa do número cada vez maior de embarcações, algumas carregando milhares de pessoas, quanto em relação à segurança desses passageiros.

"Essa é uma preocupação nossa", disse Taler. "Você tem um navio com três mil passageiros que vai para a Antártida, atinge uma rocha, e o navio mais próximo com tamanho suficiente para resgatar essas pessoas está a uma distância de vários dias". Com barcos menores, o resgate é mais fácil. "Com menos de cem passageiros", diz ele, "há embarcações suficientes navegando o tempo todo na região e elas podem ajudar umas às outras".

Navios maiores tomam muitas precauções "para ficar bem longe de águas não mapeadas e conhecem bem o gelo em volta do navio", diz Steve Wellmeier, diretor executivo da organização de agências de viagem da Antártida, que determina que associados como a Holland America Line e a Princess Cruises, com navios que carregam mais de 500 passageiros para a Antártida, não deixem os passageiros desembarcarem lá.

"Como a segurança dos nossos passageiros é nossa prioridade fundamental, não operaríamos de nenhuma forma que colocasse isso em risco", diz Karen Candy, assessora de imprensa da Princess Cruises.
Ela diz que algumas das precauções tomadas pela Princess incluem navegar numa "área limitada e relativamente sem gelo da península" e empregar um capitão experiente e um piloto de gelo, especialista em navegar em águas geladas.

Depois do encalhe do Ocean Nova no mês passado, a Antártida e a o grupo ambientalista Coalizão do Oceano Sul, pediram maior controle sobre as embarcações turísticas no continente gelado, incluindo limites para o tamanho dos barcos, número de passageiros por embarcação e a quantidade de combustível a bordo, assim como parâmetros para a dureza do casco e qualificações rigorosas para os navegadores de gelo.

A Associação Internacional de Operadores de Turismo na Antártida elaborou seus próprios parâmetros. Ela exige que as operadoras que queiram se afiliar levem um observador durante uma viagem para assegurar que estão cumprindo com as regulações. Essas normas também foram adotadas pelo sistema de Tratado da Antártida, uma série de acordos entre 47 países que operam bases na Antártida. Mas o cumprimento dessas normas pode ser ardiloso.

Sete países reivindicam o controle de partes da Antártida, essas reivindicações não são reconhecidas sob a lei internacional. E a localização da região torna difícil a fiscalização.

"Por causa da localização remota, não é possível ter muita vigilância de nada na Antártida", diz Ashton Palmer, presidente da Expedition Trips, de Seattle (EUA), especializada em vender cruzeiros em navios pequenos. "Não há ninguém lá para certificar-se de que as companhias estejam operando do jeito certo".

Os viajantes que querem ter certeza de que estão reservando sua viagem com uma companhia de boa reputação para a Antártida, deveriam procurar navios com cascos fortalecidos contra o gelo (reforçados contra o contato com o gelo) e um experiente capitão de gelo, que comanda a embarcação pelas águas polares.

A distância da Antártida também gera problemas quando os passageiros precisam inesperadamente de cuidados médicos, e um número crescente de operadoras de turismo, incluindo a Abercrombie & Kent e a Polar Cruises, exigem que os passageiros comprem um seguro de evacuação de emergência. O custo de uma emergência médica a bordo, como uma perna quebrada, por exemplo, pode ficar em mais de US$ 25 mil. Portanto, comprar uma cobertura adicional é uma boa ideia mesmo que não seja uma exigência.

Uma vez a bordo, preste atenção às instruções de emergência e anúncios de segurança. Apesar da experiência e do preparo da operadora e da tripulação, simplesmente não há garantias.

O Ocean Nova tinha um casco fortalecido contra o gelo e um capitão com mais de 25 anos de experiência navegando em águas polares. A Quark Expeditions é considerada uma das líderes de expedições à Antártida. O navio encontrou ventos muito fortes que o arrastaram, com âncora e tudo, contra as rochas escarpadas.

Fonte: The New York Times/UOL

Próxima crise externa de Obama pode estar na porta ao lado

A economia do México está sendo arrastada para baixo pela recessão no país ao norte. Os viciados estadunidenses transformaram o México em uma espécie de autoestrada para o transporte de drogas, e a polícia e as forças armadas mexicanas estão sob assalto de indivíduos que portam armas fabricadas nos Estados Unidos. Há 15 anos o Tratado Norte-americano de Livre Comércio (Nafta) prometeu que os caminhoneiros mexicanos teriam permissão para circular nas estradas dos Estados Unidos, mas o governo de Obama diz que tais motoristas não dirigem de forma suficientemente segura para isso.

As relações entre Estados Unidos e México estão em meio àquilo que pode ser descrito como um atrito entre vizinhos, um desentendimento que se estende por uma longa cerca entre os dois países. Essa cerca de fronteira, que em determinados locais tornou-se um muro, é outro fator irritante.

A secretária de Estado, Hillary Rodham Clinton, chega ao México nesta quarta-feira (25/03), para aquilo que será a primeira de uma série de visitas por parte de autoridades graduadas dos Estados Unidos, incluindo o próprio presidente Barack Obama, no mês que vem, na tentativa de controlar uma grande crise de política externa perto de casa. Eles encontrarão um país mergulhado em uma crise que se aprofunda, irritado com os sinais de protecionismo por parte do seu maior parceiro comercial e esfacelado por uma guerra de tráfico de drogas que o México atribui aos consumidores nos Estados Unidos.

Do outro lado também há muita ansiedade. Muitas comunidades estadunidenses estão preocupadas com a possibilidade de a violência espalhar-se para além da fronteira, e com a perspectiva de imigrantes mexicanos pegarem empregos que andam escassos. Isso está obrigando o governo Obama, que já tem que lidar com duas guerras e uma recessão profunda, a elaborar uma nova política em relação ao México bem antes do que teria desejado.

Obama, assim como o presidente George W. Bush antes dele, está descobrindo que esses desafios externos mexem com algumas das questões mais espinhosas da política externa, incluindo imigração, livre comércio e controle de armamentos. O governo Bush perturbou as relações entre os dois países ao deixar de realizar a prometida reforma da imigração. E o governo Obama, nas suas primeiras semanas no cargo, gerou novas tensões com uma série de sinais conflitantes e falsos começos.

Alguns membros do governo sugeriram que o governo mexicano não está controlando todo o seu território, ainda que outras autoridades elogiem a determinação do presidente Felipe Calderon de combater o tráfico de drogas. O procurador-geral Eric H. Holder Jr. pediu, e a seguir retrocedeu, o retorno da proibição das vendas de fuzis de assalto, que estão alimentando a violência do narcotráfico.

Obama autorizou planos emergenciais para enviar tropas à fronteira caso um excesso de violência se infiltre nos Estados Unidos, mas ele disse, por outro lado, que tal envio não é iminente.

"Acho inaceitável que quadrilhas de narcotraficantes cruzem as nossas fronteiras e matem cidadãos dos Estados Unidos", afirmou Obama a repórteres quando lhe perguntaram se ele enviaria tropas à fronteira. "Creio que se um cidadão dos Estados Unidos for morto porque cidadãos estrangeiros estão envolvidos com a criminalidade violenta, isto se constitui em uma preocupação suficiente para que façamos algo a respeito".

A sangrenta guerra do narcotráfico, que provocou 7.000 mortes em 16 meses, tornou-se o principal ponto de desconforto entre os dois países. Embora os índices de vício entre os mexicanos estejam em alta, a grande maioria das drogas que passam pelo México é cheirada, fumada ou injetada por estadunidenses. Além disso, 90% das armas utilizadas pelos cartéis mexicanos de narcotráfico são provenientes dos Estados Unidos, segundo o Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos.

O fato de Obama ter indicado que tropas dos Estados Unidos poderiam ser enviadas à fronteira para combater os cartéis de droga fez com que o general Guillermo Galvan, o secretário de Defesa do México, afirmasse que nenhum contingente de soldados estrangeiros terá permissão para pisar em solo mexicano. A raiz das preocupações aqui está na história, já que até os alunos mexicanos da escola primária conhecem os detalhes sobre a guerra ocorrida um século e meio atrás, quando os Estados Unidos roubaram metade do território do México.

Algo que também irritou os mexicanos foi o depoimento no Congresso de Dennis C. Blair, o diretor de Inteligência Nacional, sugerindo que cartéis de droga controlam algumas áreas do México. O governo Calderon reagiu com fúria, e o ministro do Interior, Fernando Gomez Mont, afirmou que tais observações "são infelizes e não contribuem para gerar um clima de confiança que é indispensável para que se vença esta batalha".

Já Calderon falou de uma "campanha" estadunidense contra o México, e observou que o índice de homicídios é mais elevado em Nova Orleans do que no seu país. A imagem precária do México, conforme divulgada nas dicas de viagem fornecidas pelo Departamento de Estado, é uma fonte especial de preocupação para Calderon porque assusta potenciais investidores e turistas.

A ladainha de reações raivosas do México tornou-se tão intensa que um diplomata dos Estados Unidos aqui, Leslie Basset, escreveu uma coluna um dia destes em um jornal mexicano afirmando: "Nenhum assessor de Obama referiu-se ao México como um Estado fracassado. Todos os assessores de Obama que foram questionados quanto à questão reconheceram que há desafios na área de segurança, elogiaram a firmeza do presidente Calderon e rejeitaram imediatamente a insinuação de que que o México fosse um Estado fracassado".

Autoridades do Departamento de Estado afirmaram que uma das principais metas da visita de Obama é "alargar o buraco" da agenda binacional, de forma que as relações não fiquem limitadas - ou, como dizem alguns, não fiquem reféns - de uma única questão.

"É importante frisar que está é uma grande relação", disse em uma entrevista o secretário assistente de Estado, Thomas A. Shannon Jr. "É uma relação muito ampla e profunda. E ela não deveria ser reduzida a apenas umas poucas questões".

No entanto, poucas dessas questões são simples.

Depois que os Estados Unidos fecharam as fronteiras para os caminhões mexicanos, violando uma promessa feita no âmbito do Nafta, o México impôs tarifas sobre 89 produtos estadunidenses, de uvas a máquinas de lavar pratos, em alguns casos parecendo selecionar produtos oriundos de distritos de membros do Congresso que têm boas relações com o governo, a fim de aumentar o impacto da ação.

O México está sofrendo devido à recessão nos Estados Unidos. Embora Calderon fale frequentemente de como preparou bem o sue país para esta crise global, as fábricas de produtos de exportação do México perderam cerca de 65 mil empregos desde outubro. As exportações caíram 32% em janeiro, e as exportações de automóveis despencaram 50% nos primeiros dois meses de 2009. O banco central do México acredita que a economia sofrerá uma contração de mais de 1,8% neste ano, mas alguns bancos de investimentos previram um encolhimento econômico de até 5%.

Na semana passada, Obama deixou claro que diversos problemas, incluindo o tráfico de drogas e a reforma da imigração, terão que ser enfrentados juntos.

"Não creio que possamos fazer isso de forma fracionada", disse Obama durante uma reunião em uma prefeitura na Califórnia. "Trabalharei com o presidente Calderon no sentido de descobrir como controlar uma fronteira que está se tornando mais violenta devido ao tráfico de drogas. Temos que aliar isso à repressão aos empregadores que estão explorando trabalhadores ilegais".

Fonte: The New York Times/UOL