quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Tráfico já é segunda preocupação de mexicanos, diz pesquisa

Dois em cada cinco residentes de centros urbanos no México pensaram em mudar de país por causa do aumento da violência provocada pelo tráfico de drogas, segundo uma pesquisa realizada pela BBC.

A pesquisa indica que o tráfico de drogas é a segunda maior preocupação dos mexicanos, atrás apenas da corrupção. Preocupações com a economia, o crime em geral, educação e igualdade social vêm em seguida.

Além disso, a pesquisa revelou que mais de 40% de 1,2 mil mexicanos entrevistados em sete cidades disseram que se sentem mais inseguros hoje do que há um ano. Menos de 10% dos entrevistados responderam que a situação atual é melhor.

Uma das principais portas de entrada da cocaína produzida na Colômbia para os Estados Unidos, o México tem assistido a um aumento sensível dos níveis de violência ligados ao tráfico de drogas desde a posse do presidente Felipe Calderón, em 2006.

Segundo as autoridades, quase 3 mil pessoas morreram entre janeiro e agosto deste ano em crimes ligados ao narcotráfico.

Desde que assumiu em 2006, o presidente Felipe Calderón mobilizou mais de 40 mil soldados, em várias partes do país, em uma tentativa de acabar com os cartéis de traficantes e drogas.

Apesar da ofensiva, os índices de violência relacionada ao tráfico aumentaram.

Mesmo com os resultados inexpressivos, mais da metade (53%) dos mexicanos entrevistados disseram que o governo está fazendo um trabalho melhor do que no ano passado e 68% disseram aprovar o uso de militares na luta contra o tráfico.

Apesar da extrema preocupação com o tráfico, mais de metade (58%) dos entrevistados acreditam que a guerra contra as drogas pode ser vencida, embora a grande maioria (80%) ache que o governo deveria procurar outras alternativas para combater o crime.

Segundo a pesquisa, a legalização das drogas é um tema que divide os mexicanos. 44% dos entrevistados se disseram a favor da liberação, enquanto 46% afirmaram ser contra.

Escalada de violência

Dados oficiais mostram que os índices de violência no México tiveram uma escalada desde o ano passado.

Até setembro de 2008, já houve cerca de 3 mil mortes relacionadas ao tráfico de drogas, comparado com 2,7 mil no ano passado inteiro. A maioria dos homicídios está ligada a confrontos entre quadrilhas rivais ou enfrentamentos com a polícia.

O Estado de Chihuahua, no norte do país, onde fica a cidade de Juarez, na fronteira com os EUA, tem os piores índices. Outros Estados com grandes índices de violência são Sinaloa, Baja California, Guerrero e Michoacan.

Em Sinaloa, a a cidade de Culiacan tem sido cenário de violência freqüente, principalmente graças aos enfrentamentos entre o cartel de Sinaloa e uma de seus principais rivais, o cartel do Golfo. Em julho, um grupo de homens armados matou doze pessoas em três ataques diferentes, separados por apenas oito minutos.

Os mexicanos entrevistados em Sinaloa se disseram muito afetados pelo tráfico. Três em cada quatro entrevistados se disseram menos seguros hoje do que há um ano.

Pelo menos metade dos pesquisados em Sinaloa se disse afetada “indiretamente” pelo tráfico de drogas e um em cada quatro disse conhecer alguém que foi ameaçado por criminosos.

Poucos Estados mexicanos não são afetados pela violência relacionada ao tráfico de drogas.

Zonas de guerra

Os episódios de violência relacionada ao tráfico têm se tornado mais e mais freqüentes no México.

No último dia 15 de setembro, seis pessoas foram mortas e cerca de cem ficaram feridas em um ataque com granadas durante comemorações do Dia da Independência na cidade de Morelia, em Michoacan. O governador do Estado responsabilizou traficantes pelo episódio.

No dia 12, foram encontrados vinte corpos em um depósito próximo à Cidade do México. Aparentemente, as mortes foram causadas por um confronto entre gangues.

Em 29 de agosto, os corpos decapitados de onze homens foram encontrados no Estado de Yucatan, que até então tinha se mantido longe das estatísticas de violência.

Segundo membros dos órgãos de segurança do governo, foram registrados 443 assassinatos relacionados ao tráfico apenas no mês de julho.

Alguns analistas afirmam que os níveis de violência no México são comparáveis aos de zonas de guerra.

No Iraque, por exemplo, 360 civis foram mortos no mês de julho, de acordo com a ONG Iraq Body Count. Já no Afeganistão, segundo a ONG Human Rights Watch, 540 civis foram mortos nos primeiros sete meses de 2008.

Ganhos financeiros

A pesquisa da BBC aponta que muitos mexicanos em todas as partes do país se sentem diretamente afetados pela violência.

Na pesquisa nacional, 9% dos entrevistados afirmaram que foram diretamente afetados pelo tráfico, e 32% se declararam afetados indiretamente. Outros 16% disseram que conhecem alguém que pensou em entrar em quadrilhas para melhorar sua condição financeira.

A crise econômica e o desemprego, aliás, são vistos por 42% dos entrevistados como fatores que contribuíram para o crescimento do tráfico de drogas no país.

No total, 1.266 mexicanos foram entrevistados por telefone entre os dias 28 de julho e 20 de agosto.

A pesquisa foi conduzida na Cidade do México, Guadalajara, Monterrey, Hermosillo, Merida, Queretaro e Culiacan

As entrevistas foram feitas pela empresa Synovate para o website em espanhol bbcmundo.com.

Fonte: BBC Brasil

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