Desavenças com os EUA determinaram nova interrupção das conversas.
Pascal Lamy tentaria agora preservar avanços para novo encontro em setembro.
A Rodada de Doha voltou a "morrer" nesta terça-feira (29), com a Índia e a China abandonando a sala de negociações mais uma vez - o que pode representar o colapso definitivo da Rodada de Doha, após nove dias de negociações.
Algumas delegações ainda defendem que o fim das conversas não é definitivo, pois isso já ocorreu antes. Entretanto, a representante americana Susan Schwab, com o rosto expressando decepção, disse: "Estávamos tão perto (de um acordo) na sexta-feira." O ministro de Comércio da Nova Zelândia também lamentou o fiasco, confirmando que a negociação havia acabado.
Desta vez, os dois países entraram em rota de colisão com exportadores de alimentos como os EUA a respeito de garantias para impedir a entrada em massa de comida importada, enquanto continuam a persistir as divergências sobre outras partes fundamentais do acordo.
Retomada em setembro
Agora, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, tenta agora convencer os países a preservar os ganhos da negociação de quase dez dias entre os ministros, para tentar retomar as conversas em setembro.
Desde o início das negociações nesta terça-feira havia tensão entre Índia, China e EUA por conta das salvaguardas a pequenos agricultores. Após a saída de indianos e chineses, o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, permaneceu conversando com alguns ministros, incluindo Celso Amorim, do Brasil. O país tem sido responsável por tentar contornar as desavenças com outros membros e manter a negociação nos trilhos.
Busca de acordo
Mais cedo, os ministros participantes do evento em Genebra dizem que vão buscar soluções para os impasses restantes no nono dia da reunião ministerial - a mais longa da história da OMC. Mas eles admitem que o fracasso continua sendo uma possibilidade concreta.
"Se as pessoas não querem este acordo, não há um acordo melhor vindo, e é preciso considerar, se este fracassar, o que eles têm a perder", disse o comissário (ministro) europeu de Comércio, Peter Mandelson, antes de chegar para a reunião desta terça-feira.
'No fio da navalha'
Uma fonte oficial afirmou que durante a madrugada as negociações estiveram "a um minuto" de serem suspensas, mas que em seguida foi lançado um novo esforço em busca de acordo. Há a percepção de que o encontro ministerial de Genebra é a última chance de concluir o tratado antes que o processo seja atropelado pelo calendário eleitoral dos EUA e por outros fatores políticos.
Na segunda-feira, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, admitiu que as negociações prosseguem "sobre o fio da navalha". O risco também foi ressaltado pelo porta-voz da OMC, Keith Rockwell. "A situação é muito tensa, o equilíbrio é muito frágil e o resultado não é, de nenhuma maneira, certo", afirmou.
Entraves
Neste momento, o principal entrave é o chamado "mecanismo especial de salvaguardas", destinado a proteger pequenos produtores rurais de países pobres contra enxurradas de importações e quebras nos preços.
Alguns países em desenvolvimento, como Paraguai e Uruguai, são contra esse mecanismo, alegando que os priva de importantes mercados em outros países em desenvolvimento. A China, que participa de sua primeira rodada de negociações na OMC, acusou os EUA de fazerem exigências excessivas aos países pobres.
"O ponto crucial das atuais sérias dificuldades que surgiram nas negociações da Rodada Doha é que, tendo protegido seus próprios interesses, os Estados Unidos estão pedindo [aos países em desenvolvimento] um preço alto como o céu", disse o ministro chinês de Comércio, Chen Deming, na noite de segunda-feira à agência estatal de notícias do seu país, a Xinhua.
Acrescentando mais um atrito à pauta, nove países da UE (um terço do total, entre eles a influente França) exigiram na segunda-feira que o bloco negocie termos melhores para si.
Fonte: G1
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