Morales e seis dos oito prefeitos tiveram seus mandados ratificados no plebiscito de domingo. As urnas revelaram que o mapa político na Bolívia não foi alterado –como o presidente, os prefeitos da oposição também foram confirmados.
Nesta quarta-feira, numa reunião em La Paz, o líder boliviano sugeriu aos prefeitos ratificados um entendimento a partir dos seguintes pactos: político, com a união das autonomias regionais à nova constituição; fiscal, ligado à distribuição da arrecadação dos hidrocarbonetos, e institucional, para que o Congresso Nacional eleja autoridades judiciais e eleitorais, para os postos hoje vazios.
As propostas do governo Morales foram informadas à imprensa pelo ministro da Defesa, Walker San Miguel: "Esperamos resolver, o quanto antes, estas três questões", disse ele.
Mais tarde, o prefeito de Tarija, Mario Cossío, que atuou como porta-voz da oposição, disse que as propostas eram "insuficientes". Cossío declarou: "Infelizmente, não chegamos a um acordo nos temas centrais, como a restituição do Imposto Direto aos Hidrocarbonetos (IDH) e a reforma constitucional".
Protesto
O IDH foi o imposto que levou os quatro prefeitos da oposição – da região conhecida como "meia lua" – a entrar em greve de fome, na semana passada. O protesto foi contra a decisão do governo de usar parte dos recursos deste tributo para pagamento de benefícios a maiores de 60 anos.
Apesar das afirmações, segundo as rádios bolivianas, Cossío e os outros prefeitos concordaram que existe o "desejo" de se chegar a um entendimento para dar maior "tranqüilidade" ao país.
A reunião deve continuar nesta quinta-feira, segundo o ministro da Defesa. O encontro, convocado na terça-feira por Morales, foi visto como "positivo" e "conciliador" por diferentes analistas bolivianos.
"Eles ainda não se entenderam, mas o fato de estarem dialogando é um grande avanço", disse o analista político Carlos Cordero, que falou de La Paz à Telesul.
"O país votou por mudanças em 2005 (quando Morales foi eleito). Em 2006, votou para eleger os constituintes. Mas há oito meses a nova constituição está parada. E temos problemas que afetam todo o país, como a pobreza e a distribuição de renda. Essa reunião agora pode estar mostrando que a Bolívia está amadurecendo", disse o analista.
Pesquisas de opinião indicam que os bolivianos querem o "entendimento" entre governo e oposição. "Os bolivianos estão ficando cansados de tanta disputa. Agora é a vez de os políticos se entenderem", disse à BBCBrasil o analista Gonzalo Chávez, da Universidade Católica da Bolívia.
Resistência
O prefeito de Santa Cruz, Ruben Costas, foi o único que mandou representante à reunião em La Paz e preferiu não comparecer ao encontro com Morales.
Costas alegou problemas de saúde provocados pela greve de fome que mantém contra os cortes nos recursos gerados pelos hidrocarbonetos e anunciou, para o ano que vem, a convocação de eleições legislativas e para vice-governador locais.
Pela atual constituição da Bolívia, uma república unitária, ele é prefeito, mas prefere ser chamado de "governador" desde a votação do estatuto da autonomia de Santa Cruz, em maio passado.
Rica em soja, petróleo e gas, Santa Cruz é o departamento (equivalente a Estado) mais próspero do país.
Resultados
Na madrugada desta quinta-feira a Agência Boliviana de Informação (ABI) anunciou que o prefeito de Oruro, Alberto Aguilar, do mesmo partido de Morales, foi ratificado no cargo.
Aguilar estava entre os que perderiam o posto, segundo pesquisas de boca de urna. No total, dos oito prefeitos, seis foram ratificados e dois da oposição perderam o posto – os de La Paz e de Cochabamba.
Com 96% das urnas apuradas, Morales foi ratificado com 67,77% dos votos. Quando eleito, em 2005, ele recebeu pouco menos de 54%.
Mas a OEA (Organização dos Estados Americanos) observou esta semana que o sistema eleitoral boliviano precisa ser aperfeiçoado. A avaliação foi feita após o referendo.
Da reunião em La Paz, com Morales, participaram os prefeitos de Beni, Ernesto Súarez, Pando, Leopoldo Fernández, Oruro, Potosí, Mario Virreira, Tarija, Cossío, e de Chuquisaca, Savina Cuellar. Ela não participou do referendo porque foi eleita em junho para o cargo.
Fonte: BBC Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário