quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A ajuda é boa, mas os negócios são melhores

A África hoje é mais democrática do que em qualquer momento desde o início da descolonização. O fluxo de ajuda internacional para o continente nunca foi maior, excedendo os US$ 30 bilhões. E a explosão mundial dos preços das commodities alimentou altas taxas de crescimento econômico, que atingiram uma média de 6,6% em toda a África subsaariana.

Por que, então, a África ainda está isolada atrás do resto do mundo na maioria dos indicadores de desenvolvimento?

A resposta, dizem, é que a África não está usando a ajuda internacional de forma apropriada. Então os governos africanos devotam um tempo e energia enormes para discutir, entre si e com organizações como as Nações Unidas e o Banco Mundial, como melhorar o impacto da ajuda.

A ajuda internacional é importante para os países mais pobres da África, mas também devemos tratar da verdadeira razão pela qual o crescimento se estagnou: o custo de fazer negócios aqui é basicamente muito alto.

De acordo com a Corporação Financeira Internacional, 24 dos 30 países mais caros para empreender estão na África subsaariana. Esses custos raramente são sustentados pelos consumidores. Eles sobram para os produtores e empresários africanos.

As circunstâncias não estão maduras para que uma cultura de competitividade se estabeleça. O capital privado que fluiu para a África subsaariana em 2007 foi estimado em US$ 50 bilhões. O interesse crescente de investidores da China, Oriente Médio e outras partes da Ásia em relação à África oferece novas oportunidades para comercializar os recursos naturais únicos da África no mercado mundial.

Os países africanos podem reduzir os custos e os obstáculos para o investimento ainda mais assim que assumirem a responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento e tornarem os investimentos uma prioridade.

Nenhuma regra única pode ser aplicada a todos os países africanos. Mas também não precisamos reinventar a roda. A experiência de economias pequenas e de médio porte bem-sucedidas em outros lugares do mundo durante os últimos 30 anos guarda importantes lições de desenvolvimento para a África.

Primeiro, a competitividade requer governos que possam estabelecer a estrutura para o investimento e que se coloquem de lado para permitir que os negócios prosperem. Ao responder com mais prontidão ao setor privado e não se colocar no caminho de seu sucesso, os governos podem se concentrar em suas próprias vantagens competitivas de infra-estrutura, saúde e educação.

Poucos países na África conseguiram estabelecer e sustentar um consenso político doméstico em torno do crescimento do setor privado e das reformas e freqüentemente dolorosas e necessárias para estimulá-lo.

Ainda assim, foi exatamente isso que os países que tiveram um desenvolvimento de sucesso fizeram. Por exemplo, a Costa Rica aumentou sua economia per capita em 250% nas últimas duas décadas, ao sair de uma base agrícola para uma de alta tecnologia e serviços.

Esse sucesso foi construído sobre a abertura ao comércio e ao capital, usando a cabeça e uma boa política como principais ferramentas. O mesmo espírito está levando à criação de um centro de triagem e beneficiamento de diamantes em Botsuana, construído a partir de uma parceria entre os setores público e privado que colocou o país entre as economias de crescimento mais rápido do mundo nos últimos 40 anos.

Em segundo lugar, os países precisam estar dispostos a mudar a mentalidade, abandonando a idéia de que os programas e planos estrangeiros irão tirá-los da pobreza, para crer em sua própria visão para o futuro. A ajuda internacional deveria apoiar os países apenas temporariamente, enquanto eles implementam as difíceis reformas para andar com suas próprias pernas.

Isso não é fácil. É verdade que os governos africanos sofrem de uma falta de capacidade. Eles têm dificuldade para aumentar os impostos e planejar e coordenar ações com os investidores e doadores. Mas trabalhando juntos, os governos africanos, empresas e parceiros externos podem criar prosperidade e emprego no continente - se agirem como parceiros, não como predadores.

Em terceiro lugar, o debate internacional sobre desenvolvimento deve ser reformulado. No cerne do desenvolvimento está a relação entre os governos, seus cidadãos e seus próprios setores privados. O debate internacional sobre desenvolvimento ainda está em grande parte focado na interação entre os doadores, organizações não-governamentais e governos receptores.

Parte desse debate deve complementar os Objetivos de Desenvolvimento para o Milênio das Nações Unidas com uma série de "objetivos de desenvolvimento para a competitividade". Incorporando medidas de inovação econômica e eficiência administrativa, os países serão encorajados a construir empreendimentos e comercializar seu caminho para fora da pobreza. Isso resolveria o problema dos indicadores que os empreendedores consideram os principais obstáculos para tocar um negócio: o custo do capital, eletricidade, transporte, telecomunicações, impostos, trabalho e a corrupção.

Finalmente, para fazer isso acontecer, os governos africanos precisam convencer seus cidadãos a adotarem as reformas necessárias - a adotarem o capitalismo. As pessoas precisam entender que o grau de competitividade da África não virá de modificações de curto-prazo nos preços dos recursos e trabalhadores. A produtividade resultará de empreendimentos bem geridos, cidadãos educados e líderes dispostos a tomar os difíceis passos para fazer isso acontecer.

O uso efetivo da ajuda internacional pode apoiar as reformas na África, mas não deve ser o princípio organizador para o desenvolvimento africano. A chave para o sucesso será a extensão em que os governos africanos serão capazes de fornecer os incentivos corretos para o setor privado para acrescentar valor à economia, para que tanto os negócios quanto o governo possam se concentrar no que cada um faz de melhor.

Fonte: UOL/Herald Tribune

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