sexta-feira, 4 de julho de 2008

Betancourt diz apoiar terceiro mandato presidencial

A ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt disse nesta quinta-feira estar de acordo com a possibilidade de um terceiro mandato na Presidência da Colômbia.

Questionada sobre se apoiaria o direito de o presidente Álvaro Uribe se candidatar a uma segunda reeleição, atualmente em discussão no Congresso, Betancourt disse: “Sim, eu gosto da reeleição. Uma segunda reeleição, sim, por que não?”.

“Me parece que é um bom sistema, eu gosto da continuidade”, afirmou, durante coletiva de imprensa em Bogotá.

Betancourt foi resgatada nesta quarta-feira pelo Exército colombiano de um cativeiro na selva, onde era mantida refém do grupo rebelde Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) havia mais de seis anos.

Golpe contra as Farc

A ex-refém disse que a reeleição de Uribe, em 2006, foi um “grande golpe” contra as Farc.

Segundo ela, até então o grupo rebelde se beneficiava da alternância na Presidência para reestruturar sua política.

“Um dos êxitos do governo Uribe foi colocar a figura da reeleição dentro das regras democráticas colombianas”, disse.

"Isso mudou completamente as regras do jogo. Eles (as Farc) estavam acostumados com o fato de que, com a mudança de governo, tinham a possibilidade de se reestruturar.”

Candidatura

Betancourt não descartou a possibilidade de se candidatar à Presidência nas eleições de 2010.

A ex-candidata foi seqüestrada pelas Farc no dia 23 de fevereiro de 2002, quando fazia campanha para a Presidência.

Analistas consideram que a libertação de Betancourt e dos outros 14 reféns resgatados pelo Exército colombiano nesta quarta-feira contribuirá para o aumento da popularidade de Uribe, no momento em que o Congresso discute o polêmico projeto de reforma constitucional que permitiria ao presidente candidatar-se a um terceiro mandato.

Atualmente, Uribe tem um índice de aprovação de cerca de 80%.

Suicídio

Ao lado dos filhos, Melanie e Lorenzo Delloye, e da irmã, Astrid, com semblante tranqüilo e ainda abatido, Betancourt relatou detalhes do cativeiro na selva.

A ex-refém disse que a morte é parte do cotidiano dos seqüestrados e admitiu ter pensado em suicídio como meio de “encurtar o sofrimento”.

“A tentação era diária. Será uma opção? Será muito ruim? O que pensarão meus filhos? Pensava se seria capaz.”

Betancourt disse que o programa de rádio em que sua mãe, Yolanda Pulecio, contava à filha coisas cotidianas e pedia que resistisse era o que a levava a desistir do suicídio.

“Era o meu pé no chão, que me levava a descartar isso”, disse.

Cativeiro

Segundo Betancourt, todos os seqüestrados eram acorrentados no pescoço na hora de dormir.

“Quando anoitece, temos que pendurar a rede, e se o guardião que está de plantão está de mau humor, aperta a corrente que nos colocam no pescoço”, disse.

“Cheguei a pedir que me acorrentassem nos pés, porque não conseguia dormir por causa do peso das correntes.”

A ex-refém disse que um dos piores momentos era quando tinham de caminhar pela selva, durante até 10 horas, e quando tinham de desmontar o acampamento diante de uma ameaça do Exército colombiano.

Clara Rojas

A advogada Clara Rojas, seqüestrada com Betancourt em 2002 e libertada em janeiro pelas Farc, acompanhou a coletiva de imprensa ao lado de seu filho, Emmanuel, nascido em cativeiro, fruto de uma relação com um guerrilheiro.

“Estou muito contente de encontrar Ingrid tão bem”, disse Rojas à BBC Brasil, ao ser interrompida por Emmanuel que, animado, dizia querer ver Betancourt.

Rojas, que era assessora política de Betancourt, voltou a rever a amiga depois de quatro anos de separação. Logo após o nascimento de Emmanuel, Rojas foi separada do grupo em que estava Betancourt.

“Recordamos juntas detalhes de quando estavamos em cativeiro, como foi o primeiro banho que demos no Emmanuel. Imagine, a situação era tão difícil nesse momento”, disse Rojas.

Fracasso

Betancourt disse que sua libertação representa um fracasso para a ala militarista das Farc.

“Isso foi um fracasso de Mono Jojoy (membro do Secretariado das Farc), ele representa o bando militarista”, afirmou.

“O que aconteceu ontem (quarta-feira) foi um golpe dramático nas suas estruturas, demonstra uma falta de coordenação com os chefes, a logística que não está funcionando”, disse.

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