terça-feira, 22 de julho de 2008

Zimbábue: Acordo pode criar governo de coalizão

O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, deve assinar nesta segunda-feira um acordo com o líder da oposição, Morgan Tsvangirai, o que abre caminho para negociações formais sobre um possível governo compartilhado no país.

O presidente sul-africano, Thabo Mbeki, mediador regional para a crise gerada durante o processo eleitoral do Zimbábue, já chegou à capital, Harare, para a cerimônia de assinatura.

O possível acordo se daria após meses de impasse político e de atos de violência que deixaram inúmeros mortos durante o processo eleitoral; mas tendo em vista que Mugabe e Tsvangirai não se vêem cara a cara há mais de uma década, o encontro representaria um avanço.

As duas facções vinham sofrendo fortes pressões para se sentar à mesa de negociações.

O partido de Tsvagirai, o MDC, afirmou que negociações formais podem começar já na quarta-feira, e ser completadas em duas semanas.

Tensão política

A tensão política no Zimbábue chegou a seu limite após o segundo turno das eleições presidenciais em 27 de junho, que foram boicotadas pela oposição e sofreram inúmeras denúncias de irregularidades.

Mugabe conclamou vitória nas urnas depois de ter concorrido sozinho. Sob seu governo, o Zimbábue viveu um colapso econômico e uma inflação anual de 2 milhões por cento.

Milhões de moradores do país se refugiaram em nações vizinhas, para fugir da crise econômica.

O anúncio do encontro foi antecipado pelo enviado especial da ONU ao Zimbábue, Haile Menkerios.

As duas partes teriam concordado com a versão inicial do documento, chamado Memorando de Entendimento, que ainda não foi assinado.

Futuras negociações

Assim que for ratificado, o documento deverá servir de base para negociações entre Mugabe e Tsvangirai.

O ONU e a União Africana estão participando do processo de mediação, após Tsvangirai ter acusado o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, de ser tendencioso em favor de Mugabe.

O envolvimento da ONU e da União Africana foi uma pré-condição de Tsvangirai para que as negociações fossem iniciadas, como sinalizou o enviado da ONU, ainda que de forma diplomática.

''Nós concordamos em princípio a discutir mais a fundo a crise no Zimbábue e nós julgamos isso um avanço considerável, porque sempre quisemos o envolvimento das Nações Unidas e da União Africana, de modo a auxiliar o presidente Thabo Mbeki'', afirmou Haile Menkerios.

Para Stephen Chan, um especialista em Zimbábue da School of Oriental and African Studies (Soas), de Londres, o país africano pode estar se preparando para uma experiência de poder compartilhado.

''O que será importante é a cláusula constitucional que permitirá que Tsvangirai se torne uma espécie de primeiro-ministro muito poderoso e possa gradualmente ofuscar Robert Mugabe, permitindo que que ele possa manter o título de presidente, mas que a Presidência possa ser mais cerimonial do que executiva'', afirmou Chan.

Até o momento, o governo do Zimbábue não confirmou relatos sobre as negociações relativas ao futuro político do país.

O vice-ministro da Informação, Bright Matonga, disse à BBC que seria inapropriado fazer comentários sobre os acordos, antes que o memorando seja assinado.

Fonte: BBC Brasil

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