quarta-feira, 23 de julho de 2008

Ibama abre polêmica sobre ‘lixo nuclear’ de Angra 3


Instituto autoriza obras, mas exige solução para ‘rejeitos’
Sem isso, diz que negará, depois, a licença de instalação

Ministério das Minas e Energia acha exigência ‘descabida’

Paradas desde 84, obras recomeçam apesar da discórdia

Conclusão está prevista para 2014 e vai custar R$ 7,3 bi

Três anos e dois meses depois de ter recebido, em maio de 2005, os estudos sobre o impacto ambiental de Angra 3, o Ibama vai autorizar a construção da usina nuclear.

Prevê-se para esta quarta-feira (23) o anúncio da concessão da licença ambiental para a retomada das obras, interrompidas há 24 anos, desde 1984.

Há, porém, um problema. O Ibama, órgão que pende do organograma do Ministério do Meio Ambiente, fará nada menos que 61 exigências.

Uma delas foi recebida pelas autoridades energéticas do país como coisa de ecologista radical. Diz-se que é impossível de ser cumprida.

O instituto condiciona o funcionamento futuro da usina à apresentação de uma solução “definitiva” para o tratamento do chamado “lixo nuclear”.

É algo que o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), por exemplo, considera absolutamente “descabido”.

Lobão alega que nem mesmo os países desenvolvidos –os EUA entre eles—encontraram uma saída para essa encrenca.

O Ibama dá de ombros para as ponderações. Ameaça negar, mais tarde, as licenças necessárias para o pleno funcionamento de Angra 3.

Chama-se “licença prévia” o documento que será emitido agora. Depois, terão de ser liberados mais dois papéis: a “licença de instalação” e a “licença de operação.”

A julgar pelo andar da carruagem, as exigências do Ibama, ainda que descumpridas, tendem a ser atropeladas pelas contingências.

O governo já importou a maioria dos equipamentos de Angra 3. Custaram US$ 750 milhões. Em reais: R$ 1,2 bilhão. Cerca de 30% do empreendimento já foi realizado.

Estudos feitos pela Agência Nacional de Energia Elétrica indicam que, para fugir do apagão, o Brasil precisa gerar, até 2015, pelo menos 3.000 MW de energia por ano.

Angra 3 tem potencial de geração de 1.350 MW. Responsável pelo complexo nuclear brasileiro, a Eletronuclear avalia que, com “pequenas modificações no projeto”, a nova usina produzirá 10,9 milhões de MW/h por ano.

Não é pouca coisa: equivale a um terço de todo o consumo de energia elétrica de um Estado do porte do Rio de Janeiro.

Num cenário como esse, a cara feia do Ibama, espelhada na “licença prévia” a ser divulgada nesta quarta, tende a virar letra morta num futuro bem próximo.

É mais fácil o governo trocar toca a cúpula do Ibama –ou do ministério do Meio Ambiente— do que deixar de pôr em operação uma Angra 3 já pronta para funcionar.

O cronograma das obras prevê que a conclusão se dará em 66 meses –ou 5,5 anos. Começando agora, fica pronta em meados de 2014.

Ou seja: o início da operação é coisa para ser decidida pelo presidente a ser eleito em 2010. A menos que a senadora Marina Silva (PT-AC) venha a ser eleita sucessora de Lula, é improvável que o Ibama prevaleça.

E quanto ao lixo atômico? O ministro Edison Lobão diz que os “rejeitos” de Angra 3 terão o mesmo destino da caca produzida por Angra 1 e Angra 2.

Serão acondicionados em depósitos gigantes, em formato de piscina, com sistema de resfriamento especial.

Ali permanecerão, queira ou não o Ibama, até que a ciência mundial encontre uma maneira de reciclar o lixo atômico. Por ora não há senão estudos. Nada de solução.


Fonte: Folha/Blog do Josias

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