quinta-feira, 24 de julho de 2008

Doha: 'Avanço' nas negociações não soluciona impasses

Após uma reunião que entrou madrugada adentro, os principais negociadores da Rodada de Doha afirmaram que as negociações tiveram "algum avanço", mas o impasse entre os países desenvolvidos e emergentes permanece.

A reunião foi encerrada às 3h30 de Genebra (22h30 em Brasília) e contou com a participação do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e representantes dos Estados Unidos, União Européia, Japão, Índia, China, Austrália e Japão.

A agenda do encontro esteve centrada em 11 tópicos relacionados às propostas de cortes de subsídios agrícolas e abertura do setor industrial.

"Coletivamente, achamos que vale a pena continuar com os esforços porque houve um avanço. Mas há dificuldades também", afirmou o chanceler brasileiro.

A representante comercial americana, Susan Schwab, afirmou que "um pequeno progresso" foi alcançado nas negociações.

Para o negociador europeu, o comissário de Comércio, Peter Mandelson, ainda há muitas questões a serem discutidas.

"Algumas questões estão quase solucionadas. Outras, mais claras e compreendidas. Mas ainda há algum caminho pela frente antes que as diferenças sejam encurtadas", disse Mandelson.

Clima sombrio

Um oficial que acompanhou as discussões afirmou que o clima da reunião estava "sombrio" e que os países desenvolvidos e emergentes não conseguiram avançar nas soluções para resolver o impasse.

O embaixador permanente da Índia na OMC, Ujal Singh Bhatia, afirmou, durante uma pausa na reunião, que havia "uma série de incertezas" no ar.

Celso Amorim deixou a sede da OMC pouco antes do final da reunião. Nervoso e mal-humorado, não quis dar declarações aos jornalistas.

Os negociadores voltarão a se reunir na tarde desta quinta-feira.

Impasse

O impasse no terceiro dia de negociações está relacionado à rejeição dos países em desenvolvimento, especialmente os membros do G20, em oferecer maior acesso a seus mercados para produtos industrializados e aceitar a exigência das grandes potências de estabelecer uma cláusula anti-concentração, que impediria que os países emergentes blindem todo um setor de suas indústrias do corte de tarifas de importação.

Seria uma forma de evitar que Brasil e Argentina protejam, por exemplo, toda a indústria automotiva ou, que a China proteja toda a sua indústria têxtil, dois setores importantes para União Européia (UE) e os Estados Unidos, que poderiam competir com vantagem com produtores de países emergentes.

Por outro lado, europeus e americanos se negam a melhorar suas propostas de corte de tarifas de importação e de subsídios agrícolas, como pede o G20 e outros países de baixa renda, antes de receber algo em troca pelos movimentos que já fizeram.

A UE argumenta que já foi bastante generosa ao assumir, por iniciativa própria, uma reforma de sua política agrícola comum (PAC) - que resultará em uma redução de 13% em seus subsídios até 2013 - e propor agora um corte de 54% nas tarifas de importação.

Por sua parte, os Estados Unidos insistem que sua nova oferta, de limitar a US$ 15 bilhões à ajuda a seus produtores, é um passo suficientemente grande para merecer uma recompensa dos outros sócios da OMC.

"Colocamos uma proposta nova e importante na mesa. Agora esperamos que nossos parceiros façam o mesmo", disse a representante comercial americana, Susan Schwab.

No entanto, em uma declaração feita no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou que os EUA e a União Européia poderiam estar arriscando o sucesso da Rodada.

"Sem a redução efetiva dos subsídios agrícolas dos Estados Unidos ou a abertura do mercado agrícola europeu, não haverá acordo e todos deverão enfrentar suas responsabilidades", disse o presidente.

Fonte: BBC Brasil

Nenhum comentário: