sábado, 19 de julho de 2008

Republicanos incomodados com a 'coroação' de Obama na mídia

Quando Barack Obama partir neste fim de semana para sua muito anunciada viagem à Europa e Oriente Médio, ele será acompanhado pelas celebridades do jornalismo político americano.

Todos os três ancoras dos principais noticiários noturnos da televisão americana deverão estar na viagem, juntos com jornalistas famosos dos principais jornais e revistas.

O frenesi da mídia contrasta com a cobertura discreta às três viagens internacionais feitas por John McCain desde que obteve a indicação presidencial republicana.

Quando McCain visitou o México e a Colômbia neste mês, algumas importantes organizações de notícias americanas nem mesmo enviaram correspondentes.

Os conservadores citam a disparidade como evidência de um caso de amor da mídia por Obama, que poderia dar ao virtual candidato presidencial democrata uma vantagem crucial na eleição em novembro.

"Nunca houve um desequilíbrio tão grande na cobertura de dois candidatos presidenciais", diz Brent Bozell, chefe do Media Research Center, que monitora a suposta inclinação liberal da mídia americana. "Para a mídia, isto não é uma campanha. É uma coroação."

Uma pesquisa entre os grandes jornais americanos desde que a campanha presidencial se tornou uma disputa entre dois candidatos no mês passado mostra que há quase o dobro de manchetes a respeito de Obama do que a respeito de McCain.

Os três principais noticiários noturnos das grandes redes de televisão - que possuem uma audiência combinada de 20 milhões - dedicaram cerca de 114 minutos cobrindo Obama desde junho, em comparação a 48 minutos para McCain, segundo uma pesquisa do Tyndall Report.

Este desequilíbrio provavelmente aumentará na próxima semana, quando Brian Williams, Charlie Gibson e Katie Couric - os âncoras da NBC, ABC e CBS, respectivamente - deverão entrevistar individualmente Obama e apresentarem seus programas de notícia do horário nobre direto da Europa.

Muitos analistas argumentam que a obsessão da mídia por Obama reflete mais os valores tradicionais da imprensa do que tendenciosidade. Sendo o mais jovem e menos experiente dos dois candidatos, o democrata é uma história com mais frescor do que McCain, um veterano da cobertura política americana por quase três décadas. O fato de que poderá vir a ser o primeiro presidente negro dos Estados Unidos apenas aumenta o fascínio da mídia.

Roy Peter Clark, do Poynter Institute, uma escola de jornalismo, diz que a longa experiência internacional de McCain torna sua viagem ao exterior menos atraente do ponto de vista jornalístico do que a primeira viagem de Obama para o exterior como candidato presidencial.

"O internacionalismo de McCain é bastante conhecido e é um de seus pontos fortes. Para Obama, sua falta de experiência internacional é vista como uma fraqueza. Esta viagem é uma chance de ver se ele possui o que é necessário."

Os republicanos resmungam que a mídia está ajudando a promover a semana de oportunidades de foto de Obama, durante a qual ele fará um teste para o papel de comandante-em-chefe durante paradas no Iraque e Afeganistão, assim como interpretará o estadista na Jordânia, Israel, Alemanha, França e no Reino Unido.

Mas ao mesmo tempo em que Obama espera que a viagem fortaleça suas credenciais de política externa, a atenção da mídia garantirá que qualquer erro será ampliado.

Há também o risco de que a viagem ao estilo presidencial possa fazer o senador de 46 anos em primeiro mandato parecer presunçoso e com excesso de confiança - particularmente quando fizer um importante discurso na Alemanha, que já está sendo comparado ao discurso do presidente John F. Kennedy em Berlim, em 1963.

Obama deverá receber uma recepção entusiástica na Europa, onde as pesquisas mostram um apoio esmagador da opinião pública à sua campanha. Isto poderá ter apelo junto a muitos americanos, que passaram a se alarmar com a perda contínua de popularidade de seu país no exterior.

Mas, provavelmente provocará uma reação mais negativa entre muitos conservadores americanos, que podem concluir que um candidato que é tão popular na Europa deve ser liberal demais para os Estados Unidos.

Fonte: UOL/Financial Times

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