domingo, 28 de junho de 2009

Estatização e chavismo dominam fim de campanha na Argentina

Na reta final da campanha para as eleições legislativas deste domingo na Argentina, as estatizações e a influência do presidente venezuelano, Hugo Chávez, dominam o debate entre os principais candidatos do governo e da oposição ao Congresso Nacional.

De um lado, o casal Kirchner defende o processo de estatizações e reestatizações realizadas em suas gestões – linha à qual se opõe o empresário Francisco de Narváez, candidato à Câmara dos Deputados com o apoio do prefeito da cidade de Buenos Aires, Maurício Macri.

O pleito definirá o poder do governo e da oposição no Congresso Nacional.

No ato de encerramento de sua campanha, o ex-presidente Nestor Kirchner, candidato do governo à Câmara dos Deputados, defendeu a linha estatizante adotada em sua gestão e na atual, da sua esposa Cristina.

"Nós fomos muito claros. Os recursos dos aposentados são administrados pelo Estado. A empresa Aysa (de águas) deve continuar com o Estado e o mesmo em relação à Aerolíneas Argentinas e às obras públicas", disse Kirchner.

O ex-presidente também atacou os adversários, acusando a oposição de defender as privatizações. "Cuidado, eles vão privatizar o dinheiro dos aposentados", afirmou, no palanque.

A campanha televisiva de Kirchner sugere que seus adversários repetirão medidas adotadas pelo ex-presidente Carlos Menem, que privatizou grande parte da economia nos anos 1990.

Papel do Estado

O debate sobre o papel do Estado na economia continuou repercutindo nesta semana, quando o ex-presidente antecipou durante um discurso a informação de que Cristina Kirchner teria decidido socorrer financeiramente uma das principais empresas do país.

O socorro vem após a reestatização da Aerolíneas Argentinas, e no momento em que o governo indica representantes para a direção de diferentes empresas privatizadas que passaram a contar com a participação estatal após a reestatização dos fundos de pensão e aposentadorias.

O prefeito da cidade de Buenos Aires, Maurício Macri, que apoia o candidato opositor à Câmara dos Deputados, o empresário Francisco de Narváez, defendeu as privatizações de diferentes setores, incluindo fundos de pensão e de aposentadorias.

As declarações de Macri levaram De Narváez a dizer que era a favor das estatizações de "setores estratégicos" como energia e serviços básicos e citou as empresas YPF (petroleira), Edenor, Edesur (de energia elétrica) e Metrogas (de gás). Essas empresas são privatizadas.

"Acho que o Estado deve sim garantir e ser o responsável pelas empresas de serviços básicos e estratégicos do país", disse.

Suas declarações surpreenderam governistas e opositores, que não o identificavam com as estatizações.

"Agora, estamos diante de um novo Chávez. O nome dele é Francisco de Narváez", disse a candidata a deputada Elisa Carrió, do Acordo Cívico e Social, que se opõe tanto a Kirchner quanto a De Narváez.

Chavismo

A evocação a Chávez não é à toa. Analistas entendem que a linha ideológica dos Kirchner – tanto o ex-presidente quanto a atual presidente – se assemelha às iniciativas do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Para eles, ao seguir essa linha, a Argentina afasta-se de outros países do Cone Sul.

"A América do Sul estaria, nesse sentido, dividida, com Brasil, Chile e Uruguai numa mesma linha e Argentina e Venezuela mais próximas", concordam os analistas Sergio Berensztein, da Poliarquia Consultores, e Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria.

O Brasil é hoje um dos principais investidores na Argentina. Essa presença aumentou a partir da crise que o país viveu em 2001.

Estima-se que as empresas brasileiras de energia, construção civil, têxteis, calçados, bebidas, alimentos, entre outros, tenham investido entre US$ 8 bilhões e US$ 11 bilhões de 2001 até agora.

As últimas medidas do governo e o debate em torno da estatização, da privatização e as semelhanças ou não com iniciativas de Chávez geram grandes expectativas no empresariado local e internacional em relação aos resultados da eleição legislativa de domingo.

Fonte: BBC Brasil

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