segunda-feira, 30 de junho de 2008

'Eleição no Zimbábue não refletiu vontade do povo'

Observadores da SADC (Comunidade de Desenvolvimento do sul da África) afirmaram neste domingo que o resultado do segundo turno da eleição presidencial do Zimbábue não refletiu a vontade do povo.

Neste domingo Robert Mugabe tomou posse da Presidência do país pela sexta vez, durante uma cerimônia realizada em sua residência oficial na capital Harare.

Resultados oficiais afirmam que Mugabe venceu as eleições presidenciais em todas as dez províncias do país com uma grande vantagem.

A declaração dos observadores da SADC, horas depois da posse de Mugabe, afirmou que o período antes da votação foi marcado pela violência política de tal forma que a credibilidade da eleição foi prejudicada.

"Não há nenhuma chance de imaginar que esta (votação) pode ser descrita como uma eleição justa, uma eleição livre", afirmou Dianne Kohler Barnard, uma das observadoras da SADC.

"O MDC (Movimento pela Mudança Democrática, na sigla em inglês, partido de oposição) não estava lutando contra outro partido em uma eleição política. Eles estavam lutando contra toda a máquina do Estado."

"A maior parte da liderança do MDC está presa ou em fuga. Milhares de pessoas estão vivendo nas montanhas, estas pessoas tiveram suas casas queimadas, foram espancadas e aterrorizadas", acrescentou.

A SADC manteve um grupo de 400 observadores durante as eleições no Zimbábue.

Golpe

O correspondente da BBC em Johannesburgo, Peter Biles, afirma que esta declaração dos observadores da SADC é um golpe para o presidente Robert Mugabe.

De acordo com Biles, a declaração dos observadores pode levar os governos da região sul da África a não reconhecerem Mugabe como presidente e declararem a eleição como ilegítima, assim como alguns países ocidentais já fizeram.

Se isto ocorrer, a União Africana poderá ser pressionada a tomar medidas a respeito.

A declaração foi divulgada na véspera da reunião da União Africana, que começa nesta segunda-feira, no Egito, que deve contar com a participação de Mugabe.

Cerimônia

Robert Mugabe foi empossado em uma cerimônia organizada rapidamente, uma hora depois de a Comissão Eleitoral ter anunciado os resultados.

A cerimônia de posse confirma o novo mandato de cinco anos de Mugabe, que já está no comando do país há 28 anos.

Mugabe concorreu sozinho no segundo turno da eleição presidencial após seu opositor, Morgan Tsvangirai ter decidido boicotar o pleito por causa da violência sofrida por seus partidários.

Autoridades da Comissão Eleitoral disseram que o comparecimento às urnas foi de 42,37%, número parecido com o do primeiro turno, em março.

De acordo com os resultados oficiais, Mugabe obteve 2.150.269 votos, contra 233.000 de Tsvangirai e 131.481 inválidos.

Em um discurso logo depois da posse, Mugabe afirmou que se compromete a negociar com a oposição para encontrar uma solução para a crise política.

"Tenho esperança de que em breve (...) vamos fazer uma consulta voltada para o diálogo, enquanto minimizamos nossas diferenças e aumentamos a área de união e cooperação", afirmou.

O líder oposicionista Morgan Tsvangirai foi convidado para a cerimônia de posse, mas se recusou a participar. Tsvangirai afirmou que Mugabe oferece a negociação por não ter outra opção.

"Isto não é estender a mão, nestas circunstâncias, ele (Mugabe) não tem opção a não ser negociar com a oposição", disse.

Em entrevista à BBC, Tsvangirai afirmou que qualquer negociação deve ser baseada no resultado do primeiro turno da eleição, ocorrido no dia 29 de março.

"Acreditamos que a eleição de 29 de março refletiu a vontade do povo e que aquela deve ser a base de qualquer negociação", afirmou.

Naquela votação, o líder oposicionista obteve 47,9% dos votos contra 43,2% de Mugabe. A Comissão Eleitoral precisou de cinco semanas para divulgar estes resultados, comparados aos dois dias necessários para os resultados do segundo turno.

Desde o primeiro turno, o partido do líder da oposição, MDC, disse que 86 de seus partidários foram assassinados e 200 mil foram obrigados a deixar suas casas pelas milícias leais ao partido governista Zanu-PF.

O governo culpa o MDC pela violência.

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