quarta-feira, 25 de março de 2009

A Antártida está ficando muito popular?

No mês passado, no penúltimo dia de uma viagem de 15 dias para a Antártida, o Ocean Nova, que levava 65 passageiros e 41 tripulantes, encalhou na Antártida e ficou preso por mais de um dia. Os danos foram mínimos (o casco ficou amassado e a pintura descascou), e todos os passageiros do cruzeiro organizado pela empresa Quark Expeditions de Connecticut foram transferidos com segurança para outro navio. Mas o incidente, que já é o quarto acidente marítimo em três anos envolvendo excursões à Antártida, gera preocupações em relação aos perigos do rápido crescimento do turismo na região.

O número de turistas que visita a Antártida mais do que quadriplicou na última década, subindo para 45.213 na temporada 2007-2008, de acordo com a Associação Internacional de Operadoras de Turismo da Antártida. Mais de 30 mil desses visitantes chegaram em pequenos barcos e desembarcaram em terra firme; em comparação aos 9.857 turistas da temporada 1998-1999. Mas uma categoria que cresce ainda mais rápido é a dos passageiros "só de cruzeiro" - 13 mil em 2007-2008, em comparação aos 6.930 do ano anterior - que observam o litoral do Atlântico de navios que carregam mais de 500 passageiros.


A maioria das viagens tem como destino a região da Península Antártica, que se pronuncia para o norte em direção à América do Sul, e acontece desde meados de outubro a começo de abril.

O número de visitantes deve cair um pouco durante a temporada 2008-2009, mas as agências de turismo dizem que a procura ainda está se sustentando relativamente bem considerando a recessão e o custo das viagens à Antártida, normalmente em torno de US$ 10 mil por pessoa.
Assim como o Monte Everest, a Antártida se tornou um destino de classe, preferido por viajantes aventureiros que gostam de se gabar, dizem os agentes de turismo.

"A Antártida parece ter chegado ao seu momento Everest, com a preocupação em relação ao aquecimento global incitando o interesse por tudo que é gelado", diz Barbara Banks, diretora de marketing da Wilderness Travel, em Berkeley, Califórnia, que oferece pacotes para a região por US$ 8.995 por pessoa. "A atração da Antártida também está no fato de que as pessoas podem conhecer uma paisagem de outro mundo, como no caso das altitudes montanhosas do Everest ou das regiões mais remotas do Saara, com um esforço físico relativamente pequeno além de estarem preparadas para enjôos de mar e do tempo ruim. O barco faz o trabalho difícil por você".

Mas viajar para a Antártida não é exatamente como fazer um cruzeiro no Mediterrâneo. "É muito diferente operar numa parte tão remota do mundo", diz Jim Tayler, sócio da Polar Cruises, de Bend, Oregon, que vem se especializando em viagens em barcos pequenos para a Antártida e o Ártico desde 1996. Até os mais experientes operadores ainda têm que lidar com as severas condições climáticas da Antártida, águas cobertas de gelo e a distância remota dos centros de resgate. "É de fato uma viagem de aventura", diz Taylor.

Em dezembro, o navio de cruzeiro argentino Ushuaia encalhou em rochas na costa da Antártida. Em novembro de 2007, o Explorer, do grupo GAP Adventures de Toronto, bateu em um iceberg e se tornou o primeiro navio comercial de passageiros a afundar na região.

Duas outras embarcações de passageiros encalharam na Antártida nos últimos anos, o Nordkapp, da empresa de cruzeiros norueguesa Hurtigruten, e o Lyubov Orlova da Quark. Nos dois casos, os planos de segurança funcionaram o os passageiros foram salvos, mas os acidentes geram preocupação tanto acerca dos riscos ambientais por causa do número cada vez maior de embarcações, algumas carregando milhares de pessoas, quanto em relação à segurança desses passageiros.

"Essa é uma preocupação nossa", disse Taler. "Você tem um navio com três mil passageiros que vai para a Antártida, atinge uma rocha, e o navio mais próximo com tamanho suficiente para resgatar essas pessoas está a uma distância de vários dias". Com barcos menores, o resgate é mais fácil. "Com menos de cem passageiros", diz ele, "há embarcações suficientes navegando o tempo todo na região e elas podem ajudar umas às outras".

Navios maiores tomam muitas precauções "para ficar bem longe de águas não mapeadas e conhecem bem o gelo em volta do navio", diz Steve Wellmeier, diretor executivo da organização de agências de viagem da Antártida, que determina que associados como a Holland America Line e a Princess Cruises, com navios que carregam mais de 500 passageiros para a Antártida, não deixem os passageiros desembarcarem lá.

"Como a segurança dos nossos passageiros é nossa prioridade fundamental, não operaríamos de nenhuma forma que colocasse isso em risco", diz Karen Candy, assessora de imprensa da Princess Cruises.
Ela diz que algumas das precauções tomadas pela Princess incluem navegar numa "área limitada e relativamente sem gelo da península" e empregar um capitão experiente e um piloto de gelo, especialista em navegar em águas geladas.

Depois do encalhe do Ocean Nova no mês passado, a Antártida e a o grupo ambientalista Coalizão do Oceano Sul, pediram maior controle sobre as embarcações turísticas no continente gelado, incluindo limites para o tamanho dos barcos, número de passageiros por embarcação e a quantidade de combustível a bordo, assim como parâmetros para a dureza do casco e qualificações rigorosas para os navegadores de gelo.

A Associação Internacional de Operadores de Turismo na Antártida elaborou seus próprios parâmetros. Ela exige que as operadoras que queiram se afiliar levem um observador durante uma viagem para assegurar que estão cumprindo com as regulações. Essas normas também foram adotadas pelo sistema de Tratado da Antártida, uma série de acordos entre 47 países que operam bases na Antártida. Mas o cumprimento dessas normas pode ser ardiloso.

Sete países reivindicam o controle de partes da Antártida, essas reivindicações não são reconhecidas sob a lei internacional. E a localização da região torna difícil a fiscalização.

"Por causa da localização remota, não é possível ter muita vigilância de nada na Antártida", diz Ashton Palmer, presidente da Expedition Trips, de Seattle (EUA), especializada em vender cruzeiros em navios pequenos. "Não há ninguém lá para certificar-se de que as companhias estejam operando do jeito certo".

Os viajantes que querem ter certeza de que estão reservando sua viagem com uma companhia de boa reputação para a Antártida, deveriam procurar navios com cascos fortalecidos contra o gelo (reforçados contra o contato com o gelo) e um experiente capitão de gelo, que comanda a embarcação pelas águas polares.

A distância da Antártida também gera problemas quando os passageiros precisam inesperadamente de cuidados médicos, e um número crescente de operadoras de turismo, incluindo a Abercrombie & Kent e a Polar Cruises, exigem que os passageiros comprem um seguro de evacuação de emergência. O custo de uma emergência médica a bordo, como uma perna quebrada, por exemplo, pode ficar em mais de US$ 25 mil. Portanto, comprar uma cobertura adicional é uma boa ideia mesmo que não seja uma exigência.

Uma vez a bordo, preste atenção às instruções de emergência e anúncios de segurança. Apesar da experiência e do preparo da operadora e da tripulação, simplesmente não há garantias.

O Ocean Nova tinha um casco fortalecido contra o gelo e um capitão com mais de 25 anos de experiência navegando em águas polares. A Quark Expeditions é considerada uma das líderes de expedições à Antártida. O navio encontrou ventos muito fortes que o arrastaram, com âncora e tudo, contra as rochas escarpadas.

Fonte: The New York Times/UOL

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